Sidnei Nehme | 12.09.2018 10:37
Inegavelmente, não há como negar que existe uma bolha especulativa que aprecia o preço do dólar em pelo menos 10% do seu efetivo preço de equilíbrio, que no nosso entendimento, desde muito, é R$ 3,80 e que vem sendo sancionado pela maioria de especialistas na matéria, que não se deixam contaminar pelos “pânicos” habilmente plantados no mercado.
Já salientamos que a realidade que pontifica no contexto atual, pois mais contraditório que possa parecer, é a percepção fundamentada de que seja quem for o próximo Presidente, a solidez do país na questão cambial o torna imune ao risco de crise cambial.
Tudo o mais pode estar bastante deteriorado no país, atividade econômica, déficit fiscal, emprego, renda, etc... mas, na questão cambial o Brasil não tem problemas.
Este é um quadro histórico com o qual o país ainda não conviveu de forma mais intensa, por isso ainda há resquícios da memória focada no fato de que o dólar é o principal sensor das tensões internas.
O que se presencia neste momento, pré-eleitoral, é a construção desde meados do mês de agosto, entre os dias 8 e 9, de intensificação do movimento especulativo sobre o preço do dólar que estava no entorno de R$ 3,80, ancorado na propagação de temores em torno das perspectivas eleitorais.
A rigor, este movimento foi preparado a partir do mês de junho quando o BC realizou excessiva oferta de contratos de “swaps cambiais” e que permitiram que os especuladores adquirissem uma substancial parcela sem o objetivo de proteção cambial, mas conceitualmente como aplicação em renda variável, acreditando firmemente na perspectiva de que o preço da moeda americana ficasse muito sensível às tensões no entorno dos acirramentos, dúvidas e incertezas eleitorais.
Ocorre que, no contexto Brasil atual, o país desfruta de excepcional montante de reservas cambiais e o BC, com base no lastro das mesmas e na credibilidade que proporcionam, teve e tem capacidade de prover toda demanda que houver de proteção cambial, e mais, todo volume de demanda de liquidez no mercado a vista, suprindo os bancos autorizados a operar em câmbio, através contratos de financiamentos em moeda estrangeira com recompra.
E todos estes mecanismos sem alterar em termos de liquidez internacional o montante das reservas cambiais.
Este é o ponto central que difere 2018 de 2002 quando o país tinha uma situação cambial fragilizada, o que tornou procedente a especulação que naquela oportunidade aviltou sobremaneira o preço do dólar.
A propagação de temores e a alta do dólar alavancaram perspectivas inexistentes no contexto cambial, quando seria natural impactar nas perspectivas para o desempenho da Bovespa, já que o desafio é o novo governo restabelecer dinamismo a atividade econômica, que tem sinergia direta com o desempenho dos preços no mercado acionário.
Ainda assim, a Bovespa resistiu a uma reação mais imediata as perspectivas menos favoráveis nas pesquisas e prognósticos eleitorais, pois estando os investidores estrangeiros adequadamente protegidos do risco cambial, manteve postura de espera para que haja uma sinalização mais pontual quanto a sucessão presidencial e as perspectivas.
O efeito imediato ante pesquisas menos otimistas, como as recentes, tornam natural o movimento defensivo ocorrido na Bovespa.
O volume de saídas financeiras, com destaque no mês passado, sinalizou desmonte de posições estrangeiras aplicadas em carteiras de renda fixa, em parte motivadas pelas novas e promissoras oportunidades sinalizadas no mercado americano com a propensão do FED elevar neste setembro a taxa de juro.
O que se presenciou ontem no mercado de câmbio foi inicialmente uma reação especulativa ancorada no fator psicológico e explorada pelos especuladores que propagando o caos conseguiram apreciar o preço da moeda americana, que depois revelou movimento de volatilidade pela insustentabilidade, até acomodar-se em patamar mais baixo.
Como a nova pesquisa IBOPE não piorou o cenário, e, com o fim do “drama” em torno da candidatura do PT à Presidência, ficou evidente que somente nas pesquisas mais ao final da semana é que será possível se ter visão com maior acuidade em torno da questão sucessória.
E, cada vez mais, fica clara a insustentabilidade de apreciação mais acentuada do preço da moeda americana, seja qual for o candidato em condições mais favoráveis, por não existir fundamentos de impacto na questão cambial.
A “bolha especulativa”, segundo nosso entendimento, tem a dimensão de 10% do preço e não se pode descartar que ocorra uma tendência de retorno gradual ao preço de R$ 3,80, embora com bastante volatilidade consequente da resistência dos especuladores para dar suporte aos seus ganhos.
O Banco Central do Brasil deve manter-se ausente do mercado de câmbio, observando sem intervir, e como temos enfatizado, sempre que houver oportunidade deve melhorar sua comunicação com o mercado e outros meios que atinjam a parcela leiga no assunto, ressaltando a solidez do país na questão cambial.
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