EUA – O Dragão Corroendo o Dólar?

 | 31.01.2018 10:24

Interessante como as coisas mudam. Sou curioso de economia e gosto de, ao menos, achar que entendo as coisas.

Engraçado que ao final de 2016 e início de 2017 todos amavam os EUA. Todos queriam dólar, a Europa e sua zona do Euro corriam o risco de sucumbir as diferenças políticas com eleições espalhadas colocando em risco a harmonia daquela colcha de retalhos. Os emergentes eram uma possibilidade menos comentada em meio a incerteza com relação a preços de commodities e as incertezas sempre presentes nesses mercados.

Então o US e o Make America Great Again do Trump levavam a crer que o dólar e a os investimentos por lá eram a bola da vez. Comentei isso aqui nesse post:

EUA – HOW DEEP IS YOUR LOVE?

E na verdade foram! Ao menos no que tange aos investimentos em ações nos EUA! De fato de lá pra cá o S&P se valorizou mais de 25%! Um ganho razoável em dólar não é mesmo?

S&P 500 Semanal

Mais interessante ainda foi o movimento do dólar que simplesmente enterrou. Interessante isso!

Índice Dólar Semanal

Este gráfico acima compara o dólar com diversas outras moedas. Dá pra ver que 2017 foi um ano ruim para o dólar e até aqui, 2018 também não vem sendo bom. Veja que ante outras, o dólar seguiu se desvalorizando em 2018:

Em outras palavras a moeda americana vem se desvalorizando contra diversas moedas. Euro, Pound, Yen e, também, o Real.

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Pra quem investiu em dólar ficou meio a sensação de ter perdido dinheiro? Depende. Se você converter para sua moeda, é provável, mas lembro que é possível investir em ativos lá fora que tenham compensado essa queda na moeda. Logo compondo com aplicações nem tanto, pois como vimos, ações, por exemplo se valorizaram. É tipo aquela máxima de quando viajamos “quem converte não se diverte” só que aplicado a lógica inversa.

Anyway. Uma questão segue na mente: o que está havendo com o dólar?!?!

Olhando ex-post dá pra citar alguns porquês dessa fraca performance do dólar:

  1. Seria essa uma resposta ou aposta dos agentes de que os déficits do governo não se sustentam?
  2. Seriam dúvidas quanto a economia americana. Talvez ela não esteja assim tão pujante quanto Trump pense ou alardeie?
  3. Seria o fato da economia americana estar crescendo menos frente ao redor do mundo?
  4. Ou seria mais um “rotation” entre classes de ativos…com menos investidores apostando na moeda americana vis-a-vis atratividade de outros ativos?

Na minha humilde opinião, penso esse 4º argumento tem ajudado bastante, mas ele é mais consequência do que causa.

Conversando com um gestor conhecido no mercado brasileiro ele comentou, algo que ajuda a explicar o motivo 3 citado acima:

Então eu diria que a medida que o mundo volte a crescer, tal qual estamos vendo no Brasil, outras opções de investimento surgem no radar dos gestores e investidores, os quais mudam suas posições, tal qual comentei no ponto 3 e 4.

Mas indo além, penso que existe ainda mais um porquê. Um velho conhecido nosso. O bom e velho DRAGÃO DA INFLAÇÃO!

A inflação como sabemos pela nossa experiência tupiniquim, corrói o poder de compra dos consumidores, investidores, governo, etc. Basicamente não perdoa ninguém. Até pouco tempo atrás a dificuldade era gerar alguma inflação num mundo que não crescia, mas veja que o cenário mudou e temos alguns fatores geradores de inflação:

Fator 1. Da pra dizer que o petróleo tem a sua parcela de contribuição. Veja que a relação entre o preço dele e a expectativa de inflação implícita no mercado parece ter uma bela correlação (figure 1) . O gráfico 2 mostra que a inflação observada guarda relação com essa expectativa de inflação, ou seja, que se a expectativa inflacionária apontar para cima, a inflação acaba o sendo.

E o ponto é que no US, preços mais elevados de petróleo se transferem para bomba e tem impacto direto na gasolina que o americano paga pra abastecer suas belas pickups ou SUV’s. Dá uma olhada no preço da gasolina por lá:

Fator 2 – Um dólar mais fraco tornam os produtos importados mais caros o que também alimentam expectativas de mais inflação.

Fator 3 – O mercado de trabalho americano trabalha perto do pleno emprego (taxa de desemprego muito baixa) e isso, em algum momento tenderia a pressionar salários…pois como a economia continuaria crescendo sem elevar os salários? (abaixo o gráfico da taxa de desemprego)

Concluindo, sim penso que os 4 fatores citados acima consigam explicar a derrocada do dólar em 2017 e agora em 18. Mas por trás disso temos o receio de uma inflação que venha corroer o poder de compra do dólar. Pra comprovar isso, veja que esse tem sido um debate e embate bem interessante num contexto global no mercado. O gráfico abaixo mostra que o mercado já vem colocando isso nos preços, ou seja, expectativas de inflação mais altas a frente:

E qual a resposta lógica a isso?

Seriam aumentos de juros pela autoridade monetária americana, o FED. O próprio Trump já deu declarações a favor do “make de Dólar great again” em Davos essa semana. E a treasurie de 10 anos voltou a apontar para cima:

Mercado vive de expectativas e caso os agentes passem a visualizar algo diferente essa tendência recente poderia mudar. Ou seja, aumentos de juros e uma fala mais agressiva da autoridade monetária americana poderiam facilmente alterar completamente esse cenário e o dólar voltar a se valorizar.

E por que isso é importante?

Porque além dos investimentos em dólar, uma mudança no patamar de juros nos EUA afeta os preços de diversos ativos, sejam de renda variável, de renda fixa, de bonds e etc. E mais que isso reduzem a atratividade de se investir em outros lugares (menor diferencial de juros)

Cenas dos próximos capítulos a vir.

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