Existe a Melhor Decisão em Finanças?

 | 24.10.2021 11:01

No ramo da psicologia existe o chamado “pensamento contrafactual”, no qual uma decisão ou situação é analisada não com relação ao nível de satisfação com o ocorrido, mas com relação ao “contrafactual”, ou seja, com “o que poderia ter sido se as coisas fossem diferentes”. Um exemplo disso são os medalhistas olímpicos. Em um artigo publicado em 1995 por Medvec, Madey, e Gilovich no Journal of Personality and Social Psychology, intitulado “When less is more: Counterfactual thinking and satisfaction among Olympic medalists”, foi notado que medalhistas de bronze tendem a estar muito mais felizes e satisfeitos com a sua medalha do que os medalhistas de prata. Isso se dá porque os medalhistas de prata se comparam com os medalhistas de ouro, enquanto os medalhistas de bronze se comparam com os que ficaram sem medalha.

Portanto, algo relevante para se julgar uma decisão é estabelecer a base de comparação, ou seja, o “contrafactual” ou o “benchmark”. No ramo das finanças os fundos de investimento são comparados ao CDI (os que se enquadram como renda fixa) ou ao Ibovespa (os de renda varável), ou ainda a algum índice estrangeiro caso opere fora do Brasil. Um fundo de renda variável nacional conseguir uma rentabilidade de 5% no ano em que o Ibovespa despenca 10% é uma performance bem melhor do que conseguir um retorno de 20% no ano em que o IBOV rendeu 15%. Consequentemente, a performance não é julgada isolada, mas sim comparada ao seus respectivos contrafactuais (ou seja, ao seu benchmark específico).

Porém, esse tipo de comparação saudável que faz boas decisões serem tomadas pode sair do controle rapidamente se os contrafactuais escolhidos forem irreais. Um exemplo seria alguém que investiu em um ETF que segue o S&P 500 (tal como o IVVB11), e conseguiu ganhos expressivos e superiores ao Ibovespa, mas que acha que tomou uma má decisão porque se tivesse investido em Bitcoin teria um retorno ainda maior.

Isso é um problema porque a pessoa vira a “engenheira de obra pronta”, analisando decisões arriscadas depois que ela deu certo, e não analisando à luz da informação que se tinha à época. Todo erro e acerto, não só em finanças como na vida, fica óbvio depois de ter acontecido. Basear a análise de performance nesses tipos de decisões não só não é algo mentalmente saudável, bem como pode fazer com que a pessoa acabe tomando riscos que ela não quer tomar.

Voltando ao exemplo anterior, da pessoa que investiu no S&P 500, mas que fica achando que tomou uma má decisão por não investir em Bitcoin, decida comprar BTC em abril desse ano quando a criptomoedas pode ser perfeito para uma pessoa, e muito ruim para a outra, a depender a propensão a risco de cada uma.

Minha visão é entender que o conjunto de decisões financeiras ruins é essencialmente infinito, enquanto o conjunto de boas decisões financeiras é muito pequeno frente ao conjunto de decisões ruins, e o conjunto da “melhor decisão” é no máximo unitário (se não for vazio). Portanto a probabilidade de se tomar uma boa decisão já é muito pequena, enquanto a probabilidade de se tomar a melhor decisão é essencialmente zero (pelo mesmo argumento matemático no qual a probabilidade de um ponto ser escolhido em uma área é zero).

Assim sendo, tanto em finanças como em outras áreas na vida, a pergunta que se deve ser feita a cada um de nós ao analisarmos nossas decisões não é se nós tomamos a melhor decisão, pois isso coloca um fardo demasiado em nossos julgamentos e processos de tomada de decisão, mas sim se nós tomamos uma boa decisão, levando em consideração o (ou, utilizando a linguagem matemática, condicional ao) conjunto de informações que tínhamos no momento e as nossas preferências.

Concluindo, ao se utilizar desse tipo de mindset de julgar se decisão era boa ao invés de se a decisão foi a “melhor” nós iremos tomar não só melhores decisões, mas como ajudará a “descarregar” os nossos processos mentais de julgamento.

*Rodrigo de Oliveira Leite é Contador formado pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro e Mestre e Doutor em Administração pela Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getúlio Vargas. Foi Professor Assistente na Universidade do Estado do Rio de Janeiro e hoje é Professor Adjunto de Finanças e Controle Gerencial do Instituto COPPEAD de Administração da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

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