Fed Considera Ultrapassar a Meta de Inflação Se os Preços Continuarem Muito Baixos

 | 28.02.2019 10:58

Os formuladores da política do Federal Reserve (Fed, banco central norte-americano) acreditam que conseguiram ancorar as expectativas de inflação com sucesso e precisam tirar as pessoas da sua zona de conforto. Essa foi a última mensagem do presidente do Fed, Jerome Powell, e de seus colegas, após tranquilizarem os investidores de que serão pacientes, não vão elevar a taxa de juros e vão parar de reduzir o balanço patrimonial do banco.

Em seu depoimento semestral ao congresso norte-americano nesta semana, Powell reconheceu que as pressões inflacionárias continuam atenuadas, mas ressaltou que o banco central seguiria de perto a meta estipulada de 2% depois que os atuais efeitos transitórios passassem.

Ele se mostrou mais disposto a falar ao responder as preocupações levantadas pelo senador democrata Patrick Toomey , da Pensilvânia, informando que o Fed estava pensando em transpor sua meta, a fim de obter uma média de 2%. Powell se apressou em explicar que nenhuma decisão havia sido tomada, mas os dirigentes dos bancos centrais de todas as partes estavam se defrontando com a questão de como desancorar as expectativas, que parecem ter sido permanentemente reduzidas pelo longo período de inflação muito baixa.

“Em nossa visão, as expectativas de inflação são o fator mais importante na inflação real”, explicou Powell. O Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC, na sigla em inglês) quer manter a credibilidade da meta de 2%, para que as pessoas não achem que esse porcentual se aplica a bons momentos e, nos maus momentos, seu patamar seria “muito menor". Toomey, velho o bastante para se lembrar da batalha para conter a inflação no final da década de 1970, pediu cautela.

Os dois principais economistas do FOMC defenderam de forma muito mais explícita a necessidade de transpor a meta de inflação, em uma apresentação com duas perspectivas na conferência de política monetária em Nova York, no dia 22 de fevereiro. O vice-presidente, Richard Clarida, descreveu a meta de inflação como um dos principais aspectos de uma revisão fundamental na estrutura da política do Fed. O declínio na taxa de juros neutra ou natural reduziu o espaço de manobra do Fed em um período de desaceleração. A inflação persistentemente baixa agrava esse problema.

Além disso, o achatamento da curva de Phillips, que requer um aumento de inflação com a queda do desemprego, reduziu ainda mais as expectativas de inflação. Esse fato fez com que os formuladores da política do Fed considerassem uma estratégia de compensação.

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“Os benefícios das estratégias de compensação dependem, sobretudo, de que as famílias e empresas acreditem previamente que o ajuste irá, de fato, ser realizado no momento oportuno”, declarou Clarida, economista da Universidade de Clarida, em uma audiência em Nova York. “Por exemplo, que uma inflação continuamente abaixo das expectativas será atingida por uma inflação futura acima de 2%”.

Já o presidente do Fed de Nova York, John Williams, que ocupa a vice-presidência ex officio do FOMC e exerceu por muito tempo a função de economista-chefe do Fed de São Francisco sob a gestão de Janet Yellen, não tinha tanta certeza quanto ao achatamento da curva de Phillips. No entanto, é indiscutível que as expectativas de inflação ficaram aquém da meta do Fed, um sinal do “sucesso do Federal Reserve em reancorar as expectativas de inflação em um patamar mais baixo”.

Segundo Williams, nos últimos 25 anos, a média de inflação foi de 1,8%, ficando constantemente abaixo da meta do Fed, ameaçando fragilizá-la. Ele conclui dizendo que estão sendo considerados cenários alternativos que podem ter um melhor desempenho em manter as expectativas ancoradas onde o Fed deseja.