Fed Usa “Balão de Ensaio” para Testar Reação do Mercado a Aperto Mais Agressivo

 | 26.04.2022 09:58

Este artigo foi escrito exclusivamente para o Investing.com

  • Comentários do Fed na semana passada foram um balão de ensaio para testar a reação do mercado a um aumento de 75 pontos-base nos juros;
  • Mercados claramente rejeitaram indicações do Fed nesse sentido;
  • Falas duras são fáceis e inconsequentes. As ações serão mais comedidas.

Até o início da década de 1990, os mercados de títulos viviam uma realidade nebulosa nos EUA, quando a política monetária ainda era, em grande parte, conduzida nas sombras. Quando o Federal Reserve se reunia para decidir sua política, não havia anúncios posteriores, muito menos uma coletiva de imprensa para falar sobre o que tinha sido decidido. A mudança na política monetária era comunicada em uma espécie de ação e reação, ou “call and response” no jargão do mercado.

Suponha que a taxa de overnight dos fundos federais estivesse em 5%, e o mercado esperasse um aumento. Os corretores interbancários definiam o mercado em 5,25% e esperavam para ver como a Mesa de Mercados Abertos responderia durante seu horário agendado de intervenção às 11h30. Se a Mesa se posicionasse com uma "recompra de sistema", era sinal de que achava que a taxa de 5,25% era alta demais; portanto, seu recado ao mercado era que nenhum aperto seria implementado. Se ela viesse com “vendas associadas”, significava que a taxa de 5,25% era muito baixa e o Fed a havia elevado em pelo menos 5,50%. (A mensagem era: teremos que esperar até amanhã, quando repetiremos o experimento novamente, até que saibamos se a taxa é de 5,50% ou 5,75%). Se não houvesse qualquer ação da Mesa, o sinal era que ela estava satisfeita com 5,25%.

Atualmente, a postura de ação e reação se reverteu: o Fed age, e o mercado responde.

Até o início desta semana, o mercado considerava que o Fomc, comitê de política monetária dos EUA, pretendia elevar as taxas de overnight em 50 pontos-base (pb) em sua reunião de 4 de maio, e isso já estava precificado. Então, na segunda-feira da semana passada, o presidente do Fed de St. Louis, James Bullard, comentou casualmente que “não descartaria” uma elevação de 75 pb nos juros em algum momento.

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Na terça-feira, os juros de 5 anos subiram 13 pb, para 2,92%. Vale lembrar que até setembro, a nota de 5 anos rendia 0,75%! Após um pequeno recuo na quarta-feira, os rendimentos superaram 3% na quinta e atingiram quase 3,05% na sexta. Cabe dizer que Bullard é considerado um “hawk”, ou seja, rígido com a política monetária. Mas, na quinta-feira, o presidente do Fed, Jerome Powell, teceu seus comentários mais duros até o momento, sem, contudo, mencionar especificamente 75 pb.

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As ações, naquela manhã, estavam prestes a tocar uma máxima de duas semanas, mas entenderam o recado.

Entre o início de quinta-feira e o fechamento de sexta, o S&P cedeu 5,4% com volume crescente (vide gráfico, fonte: Bloomberg). O recado claro? “Estávamos satisfeitos com 50 pb. Mas recuamos um pouco por causa da sinalização de 75 pb".

O Fomc encontrou um ponto de dor. O pronunciamento mais rígido foi sua ação, e a resposta do mercado foi bastante clara. Com isso, é praticamente certo que o Fed não irá aumentar os juros em 75 pb em 4 de maio, e se o mercado acionário não encontrar um piso nos próximos dias, é certo que aparecerão autoridades do banco central para apaziguar a situação.

CONFIRA: Projeções da taxa de juros do Federal Reserve