Fundos de investimentos em ações ativos valem a pena?

 | 06.01.2023 06:05

Olá, pessoal! Assim como fiz no meu último artigo nesta coluna há duas semanas, compartilharei com vocês os resultados de um estudo acadêmico feito por mim e pelo Prof. Marcelo Guzella (à época, meu aluno de mestrado) que culminou em publicação acadêmica na prestigiada Revista Contabilidade & Finanças, da USP. O artigo pode ser encontrado na minha homepage (carlosheitorcampani.com/artigos-publicados) sob o título “Predictive power of Brazilian equity fund performance using R2 as a measure of selectivity” ou, em português, “Poder preditivo do desempenho de fundos brasileiros de ações a partir do R² como medida do grau de seletividade”.

O artigo investigou o impacto do grau de seletividade (ou atividade) de um fundo de investimento em sua performance por meio de uma metodologia pioneiramente aplicada no mercado brasileiro. Como indicador do grau de atividade do fundo, utilizamos o coeficiente de determinação (R2) da regressão de seus retornos sobre os retornos de mercado, segundo a equação do clássico CAPM (“Capital Asset Pricing Model”). No modelo, o CDI foi utilizado como taxa livre de risco e o Ibovespa como índice de mercado.

Foram avaliados 867 fundos de investimento em ações (FIAs) brasileiros. Foi testada a hipótese de que fundos mais ativos apresentariam melhores retornos para compensar seus maiores custos e maior risco idiossincrático. O risco idiossincrático é o risco específico da estratégia do gestor do fundo, além do risco de mercado ao qual naturalmente qualquer estratégia de ações se expõe. Em um ETF de Ibovespa, por exemplo, há somente o risco de mercado, pois a estratégia segue precisamente o Ibovespa (aqui considerado como índice representativo do mercado em tela). Em um FIA de ações, quanto mais ativa for a estratégia do gestor, mais ela tende a se diferenciar do Ibovespa: em outras palavras, o risco idiossincrático aumenta.

Ao rodar a regressão acima explicada, os resíduos (ou erros) da regressão representam a distância da estratégia do gestor para o modelo de mercado (CAPM). Quanto maiores esses resíduos, maior o distanciamento do mercado e, portanto, maior o nível de atividade da estratégia do FIA. Estatisticamente, quanto maiores forem esses resíduos, menor será o coeficiente de determinação (R2) da regressão. Em consequência, pela hipótese apresentada, os fundos com menores R² devem, em média e historicamente, compensar seus investidores com retornos maiores, respeitando a máxima de que quanto maior o risco assumido, maior deve ser o retorno esperado daquele investimento.

Essa hipótese foi confirmada pela pesquisa no mercado brasileiro. A avaliação foi feita pela subdivisão da amostra em portfólios igualmente ponderados, de acordo com o R² e alfas históricos dos fundos, com rebalanceamento mensal e janelas móveis de 12 meses. A tabela abaixo mostra os excessos de retornos médios mensais obtidos por cada portfólio de fundos. Considere levar algum tempo analisando a tabela abaixo (comece lendo o título e a nota da tabela para melhor compreensão).