Gambito do CZ: Como o CEO da Binance aproveitou a quebra da FTX?

 | 09.11.2022 16:38

Quem disser que imaginava presenciar o que estamos vivenciando nesses últimos dias de mercado cripto está mentindo. Aliás, se tem uma coisa que era pouquíssimo provável de se esperar, era uma possível compra da FTX pela Binance após a corretora de Sam Bankman-Fried se mostrar extremamente alavancada e frágil, sustentando suas operações e seu balanço patrimonial de maneira irresponsável com base em ativos ilíquidos. Em síntese, bilhões de dólares em ativos da Alameda Research estavam vinculados ao token da FTX, o FTT.

Basicamente, os rumores são de que a corretora emitia tokens FTT discricionariamente e emprestava para a Alameda Research. Esta, por sua vez, tomava empréstimos em stablecoins pareadas ao dólar utilizando os tokens FTT como garantia. Feito isto, enviava os dólares de volta para a FTX e repetia o processo indefinidamente. A dinâmica é muito mais entranhada e complexa do que isto, claro. Mas, ao que tudo indica, temos um novo caso muito parecido com o da Celsius neste aspecto.

E há evidências de que a iminência da insolvência da Alameda Research possa ter vindo até muito antes do que se imagina. Um estudo realizado pelo analista Lucas Nuzzi mostrou que no dia 28 de setembro 173 milhões de tokens FTT avaliados em US$ 4 bilhões se tornaram ativos na rede. Naquele mesmo dia, mais de US$ 8,6 bilhões em FTT foram movidos on-chain, configurando a maior movimentação de FTT em sua história e uma das maiores movimentações diárias de tokens ERC20 já registradas pela Coin Metrics.

Ao analisar as transferências, observa-se que uma delas em específico foi responsável por interagir com um contrato relativo ao ICO do token FTT. Este contrato de 2019 liberou automaticamente as 173 milhões de FTT do ICO do token. O destinatário? A Alameda Research. Até aí, pode não parecer nada demais dado o fato de que a Alameda participou do ICO e de que ambas são publicamente e intimamente ligadas.

Acontece que a Alameda, após isto, enviou a totalidade do saldo, avaliada em US$ 4,19 bilhões, para o endereço do criador do token FTT, controlado obviamente por alguém dentro da FTX. Ou seja, em outras palavras, a Alameda basicamente “investiu” US$ 4,19 bilhões em FTT para enviá-las de volta à FTX, o que pode sugerir que já podia estar em dificuldades financeiras no mercado desde o crash da Terra Luna e vir se mantendo viva e capaz de garantir seus fundings da FTX somente em função dos 173 milhões de FTT como colateral. Reafirmo que esta é apenas uma hipótese.

O fato é que a companhia mudou seus termos de serviço por trás dos panos após o crash do mercado visto em junho, estabelecendo que nenhum ativo digital, moeda fiduciária ou dinheiro eletrônico mantido nas contas dos usuários contava com qualquer proteção de seguro.