George Soros Explica a Alta do Bitcoin

 | 12.08.2019 11:57

 

Desde o último dia 31 o Bitcoin já acumula mais de 21% de alta, saindo da região dos US$ 9.400 para a região dos US$ 11.600, tendo atingido máximas de US$ 12.400. São vários os fatores que podem ter motivado o recente rali da criptomoeda, com os grafistas apontando principalmente para o golden cross (cruzamento de uma média móvel de curto prazo com uma média móvel de longo prazo) ocorrido no gráfico de três dias no último dia 30. O último golden cross desse timeframe havia ocorrido em fevereiro de 2016, logo antes de um dos maiores ralis da história do Bitcoin.

Historicamente o golden cross é visto como um indicador extremamente bullish para qualquer ativo. Para os descrentes da análise técnica isso pode parecer bobagem, porém como já expliquei em outro artigo, é bastante plausível que indicadores como estes disparem ordens de compra ou venda para algoritmos, que respondem a uma grande parcela do mercado.

Entretanto, a narrativa comprada para explicar a alta do Bitcoin não reside nos gráficos de candlesticks, mas sim na Casa Branca de Washington. De maneira generalizada, tanto a mídia quanto os analistas atribuíram a alta do Bitcoin ao acirramento da guerra comercial entre EUA e China.

 

No último dia 31 o presidente do FED, Jerome Powell, anunciou o corte da taxa de juros americana em 25 pontos base. Historicamente cortes de juros são bem recebidos pelo mercado, uma vez que tendem a injetar liquidez e gerar pressão positiva sobre o preço dos ativos de risco, porém não foi isso o que aconteceu. Powell anunciou o corte com um tom “hawkish”, indicando que não se trata do início de um novo ciclo de queda nos juros americanos, o que fez com que os mercados despencassem ao redor do mundo.

 

Apesar de a medida enfraquecer o dólar perante outras moedas, a China não retaliou a mudança na política monetária americana. Porém no dia primeiro de agosto Donald Trump anunciou um tarifaço de 10% sobre exportações chinesas, fazendo com que o iuan despencasse. Historicamente o banco central chinês vinha mantendo uma política de câmbio fixo, porém como retaliação à política fiscal de Trump, a China não se moveu para conter a desvalorização do iuan, que chegou a romper a barreira de 7 por dólar, valor não atingido desde 2008.

 

Segundo o que diz a cartilha, ao observarem o derretimento do iuan em relação ao dólar, investidores chineses teriam corrido para o Bitcoin como forma de proteger o seu patrimônio, fazendo com que as cotações disparassem. A narrativa é muito bonita, só tem um pequeno problema: não se adequa à realidade.

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Se investidores chineses tivessem corrido para o Bitcoin, seria de se esperar que exchanges com grande concentração de players chineses como a OkCoin e Huobi negociassem Bitcoin com um prêmio significativo, o que não ocorreu. Além disso, devido à sua alta volatilidade, o Bitcoin ainda não é a reserva de valor de escolha dos chineses: para isso, o Tether (USDT) é o rei. E longe de ser negociado por um prêmio, o Tether estava descontado nessas exchanges. Mas então o que raios explica a alta do Bitcoin? Eu particularmente não sei, mas talvez os ensinamentos do megainvestidor George Soros possam nos ajudar.

Muita gente não sabe, mas George Soros não começou sua carreira no mercado financeiro, mas sim estudando filosofia na renomada London School of Economics. Lá ele seria extremamente influenciado pelo pensamento de Karl Popper, um dos maiores epistemólogos do século XX.

Popper parte da teoria do conhecimento de Kant, de que há limites para o conhecimento humano, que podemos ter conhecimento apenas dos fenômenos: o nôumena, as coisas-em-si, os fundamentos últimos de nossa natureza podem nunca nos serem acessíveis. Como então poderia a ciência progredir rumo a uma melhor compreensão dos fenômenos do mundo?

Para Popper, a ciência se moveria não através de provas, de demonstrações empíricas positivas, mas sim através da falseabilidade de hipóteses, de conjecturas e refutações. É famoso o exemplo do cisne negro: acreditava-se que todos os cisnes seriam brancos, até que foi descoberta a existência de cisnes negros, falseando então a hipótese de que todos os cisnes são brancos. Primeiro surgem-se conjecturas, então elabora-se hipóteses, que são falseadas e portanto refutadas, dando início a um novo ciclo de elaboração de conjecturas. Assim move-se a ciência.

Nas ciências naturais é fácil observar esse processo em ação, mas para as humanidades esse é um arcabouço difícil de ser replicado. Em muitos casos o problema é a infalseabilidade das hipóteses, casos do marxismo e da psicanálise, ambos furiosamente criticados por Popper. Já em outros casos há o problema da reflexividade: se a asserção de previsões sobre um sistema pode alterar o sistema como um todo, toda a capacidade preditiva vai por água abaixo e não pode haver previsões científicas. Por isso seria difícil falar em ciências sociais.

A questão da reflexividade sempre fascinou Soros, que dedicou boa parte de sua vida a estudá-la. Seu livro mais famoso, “A alquimia das finanças”, publicado em 1987, nada mais é do que um grande estudo sobre a reflexividade do mercado financeiro. O título já explicita de que trata o livro: os alquimistas não faziam ciência e seu principal objetivo era o de transformar materiais sem valor em ouro, coisa corriqueira nas bolsas de valores.

 

No livro, Soros destaca a importância primordial que a reflexividade tem no mercado financeiro: como em uma profecia autorrealizada, se os agentes acreditam que determinado ativo irá cair, ele cai, e vice-versa. Isso ocorre pois os agentes tentam antecipar-se uns aos outros, gerando feedbacks de reflexividade. Por isso, para Soros, a hipótese de mercados eficientes não tem validade, pois se fosse verdadeira, os agentes se adaptariam a ela, tornando então a teoria falsa, em um eterno feedback de reflexividade.

Na última alta do Bitcoin foi exatamente isto o que ocorreu: todo o mercado acreditou que os investidores chineses iriam fugir para o Bitcoin como forma de proteger seu capital da guerra comercial, fazendo com que as cotações disparassem. No fim das contas o investidor chinês não veio, mas será que isso realmente importa? A cotação decolou e o Bitcoin já é negociado a preço de ouro. E uma vez transformado em ouro, não há alquimia capaz de desfazer o processo.

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