Governo Temer Apresenta Sinais de Isolamento

 | 26.05.2017 10:22

A decisão do governo de convocar as Forças Armadas para conter a manifestação realizada na última quarta-feira em Brasília aumentou o viés negativo da atual crise política. Considerada por muitos como um gesto de desespero e autoritarismo, Temer revogou o polêmico decreto nesta quinta-feira, ratificando mais um comportamento errático do Planalto.

Convocar as Forças Armadas no momento em que o País pega fogo está longe de ser uma decisão sensata. Temer está possivelmente sofrendo os mesmos efeitos de isolamento que paralisaram o governo Dilma Rousseff há pouco mais de um ano atrás. As evidências estão cada vez mais claras.

Temer já perdeu quatro de seus cinco assessores especiais. Figuras políticas de peso não escondem articulação para discutir nomes alternativos à presidência numa eventual eleição indireta. Críticas aumentaram no Congresso, inclusive de partidos da base aliada. Sua permanente reprovação o colocou entre os cinco líderes menos populares do mundo, segundo a revista Time. Por fim, a atual crise política irá influenciar o julgamento do dia 6 de junho no TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

Uma decisão desfavorável a Temer levaria à cassação do mandato e à pena de inelegibilidade. A decisão é vista por parlamentares da própria base aliada como uma saída honrosa ao presidente, que por sua vez se recusa a renunciar.

A reação do mercado nos últimos dias tem sido positiva em função da queda do dólar contra cesta de principais moedas globais, juntamente com elevação dos yields das Treasurys (títulos do Tesouro norte-americano), o que força investidores a buscarem alternativas em outras praças e ativos mais arriscados.

A tese de que uma eventual eleição indireta permitirá o andamento da agenda de reformas (utilizada por economistas e analistas para justificar a recente alta nos ativos brasileiros) é infundamentada. Não existe clima para nenhum líder conseguir 2/3 do Congresso nos próximos meses. Além da elevada fragmentação, muitos parlamentares (que aparentam já estar em campanha eleitoral para 2018) utilizarão a atual crise como marketing político.

S&P500 renovando nova máxima histórica com ganhos relevantes acumulados nos últimos seis pregões é o termômetro perfeito de um mercado insistentemente bullish.