Juros Têm Dia Tranquilo

 | 13.01.2017 16:06

A culpa é minha, e eu ponho em quem eu quiser

Aposto que o M5M de hoje vai ser sobre Sexta-Feira Treze!

Estava agoniado: como aproveitar o tema sem ser clichê? Fui salvo pelo rádio do Uber no caminho do escritório, no qual ouvi que a primeira Sexta-Feira Treze do ano é “Blame Someone Else Day” nos Estados Unidos: em tradução livre “dia de culpar outra pessoa”.

Pedi para a Mariana checar se isso é real ou é uma brisa lisérgica da turma do Huffington Post (tipo "sereismo"). Diz ela que é… então tá: se não for, a culpa é dela.

Herrar é Umano

Bom dia para pensarmos em como reagimos quando as coisas dão errado: e aceitemos que, seja em investimentos ou qualquer outra coisa, mais dia menos dia isso acontece.

Em um mercado no qual a natureza das pessoas é de falar só dos acertos — parafraseando o Alexandre, no mercado financeiro todo mundo dirige bem, pega muita mulher e nunca perde dinheiro -, ninguém fala dos tombos que levam.

Eu já apanhei muito. Já acreditei em coisas que hoje parecem absurdas (que tal Positivo a 30 reais?), já comprei na hora certa e vendi na hora errada (o famoso pé trocado), já entrei em pânico e já deixei passar muita oportunidade: a posteriori, tudo é óbvio.

Tropeços fazem parte do constante aprendizado: eles sempre vão acontecer, então assegure-se sempre de que os impactos são administráveis — como diria o Felipe, você precisa estar vivo para continuar no jogo.

Aprenda a lidar com os seus; conheça seus limites; faça a lição de casa e coma seus vegetais. Não se deixe levar demais nem por otimismo nem pessimismo: desenvolva um ceticismo blasé.

Mais velho e mais sábio, você ficará bem - e isso, no limite, depende só de você.

Meio pra lá, meio pra cá

Nossa bolsa opera em pequena queda hoje. No front doméstico, investidores reagem a indicador de atividade do BC acima do esperado e a expectativas em torno de mudanças na TJLP e em regras para concessão de financiamentos pelo BNDES (sobre ambas, falo logo abaixo). Polícia Federal na rua traz alguma preocupação adicional para empresas selecionadas - mas, até aqui, só fumaça.

Após a festa de ontem, juros têm dia tranquilo.

Nos Estados Unidos, atenção dividida entre bons indicadores econômicos e bons resultados corporativos de bancões — mas nada suficiente, até o momento, para levar o Dow Jones aos cabalísticos 20 mil pontos. Europa, nada de mais.

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A brincadeira vai acabar

Vai ter choro e ranger de dentes entre empresários. Não faz muito tempo, vi gente ter a pachorra de dizer que nossa taxa de juros de longo prazo (a TJLP) era uma das maiores do mundo. Nunca vi alguém dizer que quer menos subsídio para nada.

Voltam aos holofotes os esforços da equipe econômica para alterar o critério de determinação da taxa. Atualmente, na prática, é uma decisão discricionária dos burocratas da vez. A intenção é que a TJLP passe a flutuar conforme o custo de captação do Tesouro Nacional. Justo.

Adicionalmente, BNDES trabalha no sentido de impor restrições a quem quiser encher a mão no dinheiro barato: a ideia é que empresas fiquem contratualmente obrigadas a limitar dividendos ao mínimo legal (25 por cento do lucro) caso desejem contratar financiamentos em TJLP a partir de determinado nível em relação ao total dos projetos. Justíssimo.

Tem muita empresa por aí captando recursos a juros subsidiados e aplicando caixa no CDI - uma verdadeira imoralidade.

Uma hora a brincadeira tinha que acabar.

Por que no te callas?

Pau que bate em Chico também tem que bater em Francisco.

Desnecessário dizer que o mercado inteiro ficou ouriçado com a decisão do BC de cortar a Selic em 75 pontos nesta semana. Expectativas para a frente foram devidamente ajustadas, aí incluídas i) a manutenção desse ritmo na(s) próxima(s) rodada(s) e ii) taxa na casa dos 10 — ou menos — ao final deste ano. Viva os prefixados.

Os problemas começam quando o Presidente da República resolve afiançar que é isto que o Copom fará e “prometer” que entraremos 2018 com juros de um dígito. Isso mina a credibilidade do BC e alimenta percepções de que Goldfajn e equipe estão encilhados.

Perdeu ótima oportunidade de ficar quieto, Temer.

Cumprindo promessas… só que não

Vieram fracos os dados de balança comercial da China em dezembro. Importações cresceram menos e exportações caíram mais do que o esperado, resultando assim em saldo menor.

O dado faz um (saudável, penso eu) contraponto aos recentes indicadores de atividade, cuja leitura sugeriu dias atrás que são maravilhosas as perspectivas por lá. Você já sabe bem que essa tese eu não compro — muito antes pelo contrário.

A propósito, ficou no discurso a intenção do governo chinês de trabalhar, ao longo de 2016, para reduzir a alavancagem financeira no país. Estoque de crédito cresceu por lá, no ano passado, o equivalente ao PIB da Itália.

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