Horizontes de Investimentos e Cascas de Bananas

 | 11.02.2020 10:18

Lembro-me de ter lido em algum livro uma generalização bastante ousada sobre o sucesso na alocação de investimentos. Ousada pelos valores tão redondos ali apresentados. Mas vou reproduzi-la aqui apenas como curiosidade. O autor dizia que cerca de 80% dos investimentos feitos pelas pessoas responderiam por apenas 20% dos seus retornos, e só 20% das alocações é que lhes trariam 80% dos ganhos de capital. Escreveu isso sem citar qualquer estudo documentado. Mas quem investe e estuda o mercado há algum tempo já deve ter notado que existem muitas lesmas e micos entre tantas ações. De fato, só um pequeno percentual das alocações financeiras é que vingam como investimentos de grande sucesso. Mas talvez muitos investidores recém chegados à renda variável não tenham conhecimento disso.

Eu não costumo dar tanta atenção à imprensa tradicional ou às análises de quem não é gestor de sua própria carteira. Prefiro fazer minhas pesquisas independentes sobre a economia e ponderar com mais atenção os comentários de investidores internacionais que têm a sua pele no jogo (skin in the game). Mas, há alguns dias, eu li dois textos que citarei abaixo. São de diferentes analistas de uma mesma firma de consultoria brasileira. Ambos me parecem bastante inteligentes e bem informados, além de escreverem muito bem. Embora eu não tenha lido muita coisa deles, os textos que li sempre foram agradáveis e interessantes.

Um deles (em 30/01/2020) começou falando de dois temas que aprecio muito: física e cinema. Reescrevo aqui o essencial: "Vamos Supor Que Você Entenda. (...) Para Fellini, a interpretação de um filme (...) ocorre (...) fora do terreno racional. Você chora ao assistir um filme. O que você entendeu da história? Não importa. (...) Você está chorando, e aquilo basta." Concordo. O excêntrico cineasta italiano até anotava as alegorias subconscientes de seus sonhos, para o caso de aproveitá-las nos filmes que fazia. Mas o texto acaba assim: "De que maneira encaramos as perdas de -3,29% e os ganhos de +4,25%? Você só precisa responder essa pergunta a si mesmo, e não precisa de nenhuma explicação."

O colega dele (no dia seguinte, 31/01/2020) reforçou: "Sobreviveu? Foi Só o Começo. (...) Pode ser que você tenha entrado na Bolsa há pouco tempo, na esteira de investidores que buscam na renda variável uma alternativa para aumentar seus retornos no atual cenário de juros baixos. Ou pode ser que seja mais experiente nesse mundo. Em qualquer um dos casos, o importante é manter o foco no longo prazo diante de testes como aos que fomos submetidos neste derradeiro janeiro. Então vamos fazer um combinado. Você aguenta firme mirando o horizonte de longo prazo e, da nossa parte, te mostraremos os melhores fundos de ações aqui."... E terminou com o link para a proposta de subscrição de seus serviços de consultoria em investimentos.

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Ambos instigavam nas pessoas físicas uma visão de longo prazo para as ações. Este tema de longo prazo todos nós já ouvimos muitas vezes. Coincidentemente, eu também recebi de outra fonte um gráfico de longuíssimo prazo do mercado de ações nos Estados Unidos. Este parecia até algum marketing para atrair novos investidores ou prevenir que os atuais vendam suas ações no caso de uma maior turbulência. O tal gráfico mostrava um fantástico exercício de extrapolação retrospectiva desde 1789. Ou seja, os últimos 230 anos. Veio repleto de anotações sobre crises, guerras e eventos históricos. A ilustração é tão grande e as anotações tão miúdas que não vou reproduzi-la neste artigo, mas quem quiser conferir, pode encontrá-la aqui .

Opto então por mostrar apenas um século do índice americano, a partir de 1913. Ano da instituição do atual Banco Central dos EUA (o Fed). Neste gráfico eu marquei alguns tempos corridos até que o índice de ações voltasse ao mesmo valor nominal do pico anterior.