Indicadores financeiros em uma outra ótica

 | 31.03.2023 09:57

Uma mensagem que sempre procurei passar para meus alunos é que, espero deles a capacidade de questionar as minhas falas, não as aceitando como verdade, mas tendo a certeza de que o que ouvem é apenas a visão do professor.

Neste texto, trago algumas questões sobre a interpretação de alguns dos indicadores financeiros mais comumente utilizados por analistas e gestores. O objetivo principal é convidar o leitor a refletir sobre a visão tradicional da maioria dos livros textos de Análise Financeira, normalmente representada pela ótica de um potencial emprestador de recursos, e propor uma visão alternativa, mais voltada para a ótica da geração de valor. 

Dessa forma, este é primeiro de uma série de três. Vamos lá:

Endividamento /h2

Vamos começar pelos indicadores que tratam das fontes de financiamento da empresa, ou seja, os de endividamento. 

Para refletirmos sobre o endividamento de uma empresa, é importante pensarmos na finalidade do capital de terceiros. Para que uma empresa se endivida? Quais as vantagens e riscos associados ao endividamento? Como o endividamento gera valor?

Entendendo-se valor como sendo o valor presente líquido dos fluxos de caixa futuros, da empresa, uma companhia gera valor quando consegue obter recursos a uma taxa menor do que a que consegue obter da sua aplicação. Ou seja, quão maior a taxa de retorno dos ativos e menor o custo de financiamento da empresa, maior será o valor gerado. 

Também sabemos que, quão maior for o risco percebido pelo investidor racional, maior será a taxa de retorno esperada exigida por ele para realizar o investimento. Como o risco assumido pelo acionista é notadamente maior que aquele assumido pelo emprestador, a taxa de retorno exigida pelo detentor de ações deverá ser maior que a taxa exigida por quem empresta. Em outras palavras, o capital próprio tem um custo de oportunidade maior que o capital de terceiros. 

Seguindo esta lógica, o menor custo de financiamento de uma empresa é quando ela trabalha exclusivamente com capital de terceiros. Isto não acontece na prática, porque o emprestador de dinheiro, ao perceber uma empresa com maior grau de endividamento, perceberá um maior risco e, logo, exigirá uma taxa de retorno maior. A conclusão a que chegamos da análise acima é que o custo de financiamento de uma empresa, dado pela proporção das diferentes fontes de recursos e seus custos relativos deve se comportar como o gráfico abaixo: