Inflação e Front Fiscal Preocupam

 | 11.11.2021 08:48

A aprovação da PEC dos precatórios acabou servindo para amenizar um pouco o clima nos mercados, assustados com a trajetória da inflação tanto no Brasil, como no exterior. Assim sendo, a bolsa paulistana perdeu um pouco de fôlego ao final do pregão de quarta-feira (dia 10), com queda de commodities e desempenho negativo dos seus pares em Wall Street.

Ao fim do dia, o Ibovespa fechou a 105.967, alta de 0,41%, tendo superado 107 mil na máxima do dia. Já nos mercados cambial e de juro a inflação mais elevada e esta PEC nortearam o ritmo dos ativos, mesmo que perdendo intensidade ao final do dia. No mercado de juro futuro a “ponta curta” operou “esticada”, precificando “prêmios” traduzidos em Selic, podendo chegar a 2 pontos em dezembro, e as intermediárias e longas “cederam”. No câmbio, o dólar acabou recuando, diante da “arbitragem”, quando o dólar foi a R$ 5,43, mas ao fim do dia, compras adicionais elevaram a moeda americana a R$ 5,5001 (valorização de 0,1%).

Nos EUA, o CPI acima do previsto acabou assustando, aumentando as especulações de que o Fed possa vir a antecipar a alta de juros para conter esta escalada de preços. Todos os três índices de NY cederam com o Nasdaq perdendo 1,66%.

Inflação e juro/h2

Tanto no Brasil, como nos EUA, e em outros países, a retomada da economia vem se mostrando acidentada, cheia de percalços, diante de uma inflação ascendente, as commodities em escalada e problemas no fornecimento de insumos nas várias cadeias produtivas. No Brasil, somando a tudo observamos um período de crise hídrica, lentamente superada agora na primavera, e uma crise politica intermitente, que se espalha pelo setor público e a necessidade de sustentação política. Nos últimos dias, a batalha da PEC dos precatórios nos colocou diante de questionamentos no teto dos gastos na necessidade de haver recursos a prolongar os auxílios emergenciais, assim como renovar o Bolsa Família, agora transformado em Auxilio Brasil.

Para piorar, pelos choques de oferta variados em curso, o IPCA vem se mostrando mais resiliente a ceder, o que vem pressionando o Bacen por uma ação ainda mais contundente na política de juros. Na reunião do Copom de dezembro já crescem as opiniões de um ajuste não mais em 1,5 ponto, agora em 2 pontos, a 9,75%. Na Focus, a taxa Selic prevista é de 11% em 2022. Ou seja, visando “ancorar as expectativas”, novos ajustes da Selic devem ocorrer no ano que vem, visando trazer a inflação para 3,5% a 4,0%.

No Brasil/h2

Assustou o IPCA de outubro, a 1,25%, contra 1,16% em setembro. Boa parte da aceleração foi causada pelos combustíveis, sendo o maior resultado mensal para o período desde 2002, no ano acumulando alta de 8,24% e em 12 meses 10,67%.

Os preços administrados registraram 1,35%, os livres 1,21%, os alimentos domiciliados 1,32%, os Serviços (ex-pa) 0,62%, os preços industriais 1,39% e o núcleo 0,92% (9,7% em 12 meses).

No mercado, as instituições financeiras já começam a revisar suas projeções para cima. O Bank of America (NYSE:BAC) (SA:BOAC34), por exemplo, estima 10,1%, o Citi (NYSE:C) (SA:CTGP34) 10,4%. No Boletim Focus desta semana a projeção é de 9,33%. Há um mês, era de 8,59%. Para 2022, trabalham com 11,0%. Ou seja, a aceleração no aperto monetário nos parece mais do que necessária. Para a reunião do Copom de dezembro se trabalhava com 1,5 ponto de ajuste, agora não será surpresa se for a 2 pontos.

No gráfico a seguir, podemos observar a diferença da inflação acumulada em 12 meses e os limites do sistema de metas de inflação do Bacen. Observamos que quanto maior o desvio em relação ao zero, maior o erro. As linhas pontilhadas mostram as bandas, superior e inferior. Se o erro está dentro da banda, o Bacen tem permissão pelo erro, desde que dentro das bandas. Se ficar fora, Roberto Campos Neto precisa justificar o erro junto ao governo.