Inflação nos EUA: Vista de um Lugar Alto e Rochoso

 | 03.05.2022 14:17

Este artigo foi escrito exclusivamente para o Investing.com

Esta semana eu me lembrei de uma cena de A Sociedade do Anel na qual os viajantes tentam atravessar Caradhras, a imponente montanha no meio do caminho que escolheram. Durante a escalada, cai uma terrível tempestade que só piora à medida que avançam; até a própria montanha parece impor-lhes resistência.

“A Companhia parou de repente, como se tivesse chegado a um acordo sem que qualquer palavra fosse dita. Eles ouviram ruídos estranhos na escuridão ao seu redor. Pode ter sido apenas a passagem do vento pelas fendas da parede rochosa, mas os sons eram de gritos estridentes e uivos selvagens de riso. Começaram a cair pedras da encosta da montanha, zunindo sobre suas cabeças, ou chocando-se no caminho ao lado...

‘Não podemos avançar mais esta noite’, disse Boromir. 'Que chame isso de vento quem quiser; há vozes cruéis no ar; e essas pedras estão vindo em nossa direção.'"

Foi isso o que eu senti na semana passada. Depois que a última semana de negociações terminou com um forte recuo das ações, demonstrando a insatisfação dos investidores com rumores de uma alta de 75 pontos-base pelo Fed, os compradores estavam prontos para retomar a escalada nesta semana. Mas não paravam de cair pedras inflacionárias da montanha.

Na terça-feira, o índice de preços de imóveis residenciais S&P CoreLogic Case-Shiller veio acima das expectativas e atingiu um novo recorde anual de 20,2%. É um dado importante, na medida em que os preços das residências tendem a se antecipar aos dos aluguéis em cerca de 18 meses; portanto, se os preços residenciais ainda estão em alta neste momento, é sinal de que a inflação dos aluguéis no índice de preços ao consumidor (IPC) deve continuar elevada e aderente ao longo de 2023. Basta lembrar que os aluguéis representam cerca de um terço da cesta de consumo do IPC e 40% do núcleo de inflação, de forma que, se os aluguéis estão subindo 5%, não vamos voltar para um IPC de 2%, a menos que vários outros componentes entrem em deflação. E tudo indica que é pouquíssimo provável, para dizer o mínimo, que isso aconteça no curto prazo.