Insegurança Política Abala Mercados

 | 12.04.2017 09:53

O governo Temer parecia ter tomado a dianteira na questão da reforma da Previdência, alegando ter 350 votos para aprovação da medida na Câmara, mas eis que ressurge a delação da Odebrecht para lembrar à população que a classe política que quer mudar as regras da aposentadoria está envolvida em esquemas de corrupção - até mesmo os presidentes das duas Casas e o próprio relator da pauta. Assim, a insegurança deve tomar conta dos mercados domésticos nesta quarta-feira, com a cena política voltando a preocupar a necessidade de colocar as contas públicas do país em ordem.

A divulgação da "Lista de Fachin" aconteceu no fim da tarde de ontem, nos momentos finais do pregão, mas já foi suficiente para inverter o sinal da bolsa, para baixo, e do dólar, para cima. Os negócios locais fecharam em clima negativo, na esteira da abertura de inquérito contra nove ministros, 29 senadores e 42 deputados, suspeitos de receberem propina, com base nas delações de executivos da Odebrecht.

A investigação contra políticos da base aliada pode comprometer a governabilidade do presidente Michel Temer, apesar da tentativa de manter um "clima de normalidade". Por ora, nenhum ministro suspeito será afastado, os presidentes da Câmara e do Senado continuarão em seus assentos e os parlamentares irão circular pelos corredores do Legislativo como se nada tivesse sido descoberto sobre eles.

Mas, de "normal" a situação não tem nada, por mais que o sistema político reaja como se estivesse cheio de vida. As consequências dessa implosão em Brasília são imprevisíveis, podendo ser tratada como uma explosão atômica sobre os políticos ou ter o efeito de um traque. Diante dessa incerteza do que pode acontecer, a sensação de insegurança deve bater forte nos investidores, que tendem a fugir do risco Brasil.

No exterior, a tensão geopolítica também continua ameaçando a paz dos mercados. Mas a busca por proteção perdeu força, com os investidores mostrando maior confiança em retirar seus recursos de ativos seguros e migrar para as ações e as commodities.

Trouxe certo alívio aos negócios lá fora a declaração do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que recusou o conselho do assessor político Steve Bannon e afirmou que os EUA não estão rumo a uma guerra com a Síria. "Não vamos para a Síria. Nossa política é a mesma - não mudou", disse Trump, em entrevista ao New York Post.

Em relação à Coreia do Norte, ele disse que pretende colocar mais pressão política e econômica sobre Pyongyang, deixando as opções militares para um cenário de longo prazo. Sobre o agravamento da situação nuclear naquele país, Trump disse saber que era uma "bagunça". "Mas é pior do que eu pensava."

Como resultado, os índices futuros em Wall Street estão em alta e as principais bolsas europeias também avançam, desvencilhando-se do sinal negativo que prevaleceu na Ásia. Ainda assim, chama atenção a leve alta de 0,2% da Bolsa de Seul, depois de recuar 2% nas últimas seis sessões.

Nas commodities, o petróleo registra ganhos pelo sétimo pregão, na maior sequência de alta desde dezembro, após a Arábia Saudita apoiar um novo corte na produção. O ouro recua e o cobre também. Entre as moedas, o dólar perde terreno para as rivais de países desenvolvidos e mede forças ante as divisas emergentes.

No calendário econômico no exterior, serão conhecidos dados dos Estados Unidos sobre os preços de importação e exportação em março (9h30); os estoques norte-americanos de petróleo bruto e derivados (11h30) e o resultado fiscal no mês passado (15h). Logo cedo, a China anunciou que a inflação ao produtor (PPI) perdeu força em março e subiu 7,6%, em base anual, após avançar 7,8% em fevereiro.

Os números refletem um esfriamento na alta dos preços das commodities e lançam dúvidas obre a recuperação da inflação global. Do lado do varejo, o índice de preços ao consumidor (CPI) chinês subiu 0,9% no mês passado em relação a um ano antes, acelerando-se ante o avanço de 0,8% no mês anterior, na mesma base de comparação.

No Brasil, o ponto alto da agenda econômica está reservado para esta quarta-feira, que trará atualizações importantes acerca da atividade econômica e também da taxa básica de juros (Selic). Logo cedo, saem as vendas no varejo em fevereiro (9h) e a expectativa é de alta de 0,5% na comparação com janeiro, cujos resultados serão revisados.

Já na comparação anual, o comércio deve registrar o 23º resultado negativo seguido, de -6,9%. Considerando-se o desempenho das lojas de material de construção e de veículos (conceito ampliado), deve haver um avanço robusto, de 1,5%, em base mensal.

Caso os números sejam confirmados, cresce a sensação de que a economia brasileira encontrou o fundo do poço. Mas, para sair dele e engatar uma trajetória firme de recuperação, ainda é necessária uma ajuda do Banco Central. Por isso, é grande a expectativa pela aceleração no ritmo de queda do juro básico.

Após o Comitê de Política Monetária (Copom) iniciar 2017 em um ritmo mais acelerado de cortes, a doses de 0,75 ponto, o passo deve ser intensificado para um ponto porcentual (pp) em abril, no maior corte desde 2009. Assim, a taxa Selic deve cair pela quinta reunião seguida e voltar aos níveis de outubro de 2014, a 11,25%. A decisão deve ser unânime.

Contudo, mais importante do que a decisão em si, serão os sinais do BC sobre os próximos passos. Sabe-se que, até aqui, é a combinação de uma atividade econômica combalida com a trajetória cadente da inflação que tem permitido cortes mais intensos na taxa básica de juros e o comunicado do Copom pode dar pistas sobre se esse ritmo de redução continuará nas próximas reuniões.

A expectativa é de que o Comitê faça novamente menção a fatores condicionantes – seja para a manutenção do “novo ritmo”, seja para alteração da magnitude dos cortes. E o divisor de águas para definir quanto mais a Selic pode cair é a reforma da Previdência. Mas os pedidos de investigação contra políticos com foro privilegiado podem atrapalhar o andamento das reformas, ampliando as incertezas em âmbito local.

Abaixe o App
Junte-se aos milhões de investidores que usam o app do Investing.com para ficar por dentro do mercado financeiro mundial!
Baixar Agora

Negociar instrumentos financeiros e/ou criptomoedas envolve riscos elevados, inclusive o risco de perder parte ou todo o valor do investimento, e pode não ser algo indicado e apropriado a todos os investidores. Os preços das criptomoedas são extremamente voláteis e podem ser afetados por fatores externos, como eventos financeiros, regulatórios ou políticos. Negociar com margem aumenta os riscos financeiros.
Antes de decidir operar e negociar instrumentos financeiros ou criptomoedas, você deve se informar completamente sobre os riscos e custos associados a operações e negociações nos mercados financeiros, considerar cuidadosamente seus objetivos de investimento, nível de experiência e apetite de risco; além disso, recomenda-se procurar orientação e conselhos profissionais quando necessário.
A Fusion Media gostaria de lembrar que os dados contidos nesse site não são necessariamente precisos ou atualizados em tempo real. Os dados e preços disponíveis no site não são necessariamente fornecidos por qualquer mercado ou bolsa de valores, mas sim por market makers e, por isso, os preços podem não ser exatos e podem diferir dos preços reais em qualquer mercado, o que significa que são inapropriados para fins de uso em negociações e operações financeiras. A Fusion Media e quaisquer outros colaboradores/partes fornecedoras de conteúdo não são responsáveis por quaisquer perdas e danos financeiros ou em negociações sofridas como resultado da utilização das informações contidas nesse site.
É proibido utilizar, armazenar, reproduzir, exibir, modificar, transmitir ou distribuir os dados contidos nesse site sem permissão explícita prévia por escrito da Fusion Media e/ou de colaboradores/partes fornecedoras de conteúdo. Todos os direitos de propriedade intelectual são reservados aos colaboradores/partes fornecedoras de conteúdo e/ou bolsas de valores que fornecem os dados contidos nesse site.
A Fusion Media pode ser compensada pelos anunciantes que aparecem no site com base na interação dos usuários do site com os anúncios publicitários ou entidades anunciantes.

Sair
Tem certeza de que deseja sair?
NãoSim
CancelarSim
Salvando Alterações