It’s Revolution, Baby

 | 08.11.2019 11:25

Leblon, horário comercial. Joel estuda incessantemente balanços de empresas com a missão de formar uma carteira de ações capaz de bater o Ibovespa. Na mesa ao lado, está seu irmão, Ray, que tem como foco as small caps, enquanto Wace se concentra nos relatórios do sell side. O mais experiente do time, Eddie, tem feito um excelente trabalho como “scalper”, encontrando boas oportunidades de arbitragem há mais de uma década.

Essa seria uma cena comum numa gestora de recursos brasileira. Isso se os “analistas” citados não fossem robôs. O relato acima não é uma peça de ficção científica. Eles realmente existem e dividem a sala com colegas humanos — altamente capacitados — na Quantamental, casa carioca fundada há dois anos que combina modelagem quantitativa com análise fundamentalista. Esse modelo misto ainda é “light”, já que lá as decisões de investimento são tomadas apenas quando há convergência entre o quantitativo e o qualitativo.

Agora eu te pergunto: você está preparado(a) para ter seu dinheiro gerido por robôs? Eu sugiro fortemente que se acostume com a ideia; já adianto que o seu portfólio tem muito a se beneficiar.

Talvez você não saiba, mas na lista dos maiores investidores do mundo está um matemático: Jim Simons, fundador da Renaissance Technologies ­e pai da gestão baseada em modelos quantitativos. Seu fundo Medallion entrega retornos invejáveis há 30 anos e o segredo é obedecer basicamente a um sistema de computador, sem qualquer interferência humana. Pode até ser considerado uma caixa-preta, como dizem os críticos, mas é uma caixa-preta lucrativa...

Para quem não está familiarizado com os termos, eu explico. Os fundos quantitativos têm origem na constatação de que nós, humanos, temos limitações. Quer um exemplo?

Quantas pessoas seriam necessárias para captar, avaliar e armazenar todas as informações (balanços, relatórios, notícias) de uma empresa e de seu respectivo mercado? Um computador bem programado pode fazer isso 24 horas por dia, sete dias por semana ­— sem reclamar — para dezenas ou centenas de companhias ao mesmo tempo.

E o que dizer de nossa influência emocional sobre as decisões de investimento? A regra de vender uma ação na alta e comprar na baixa ou o tal foco no longo prazo pode fazer muito sentido racionalmente falando, mas a execução tende naturalmente a esbarrar em sentimentos como a aversão a perdas ou a ganância.

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Da mesma forma, nenhum humano está imune a erros ou a influências externas durante o trade. Ou será que você trabalha com a mesma disposição depois de passar a noite em claro ou quando enfrenta uma crise no casamento?

Conclusão: a solução para evitar erros, otimizar recursos e remover o elemento emocional do processo de investimento seria então delegar a execução das decisões às máquinas, por meio de fundos controlados por algoritmos ou fundos quantitativos.

Diferentemente de um fundo tradicional, que tem um gestor experiente à frente, em um “quant” (como são carinhosamente chamados) as alocações são feitas sem interferência humana, por meio de estratégias sistematicamente programadas. Na prática, a gestão é feita com base em estatística.

E onde entram os humanos? Na construção dos modelos e na programação dos algoritmos de acordo com o histórico dos ativos. Seria como tirar 5 mil fotos de uma pessoa ao longo de um período e “parametrizar” as imagens, identificando os momentos em que ela está feliz, neutra ou triste, e qual é o grau de convicção do sentimento.

Agora pense que essa pessoa é o mercado, e que “felicidade” e “tristeza” são, respectivamente, situações em que ela está propensa a tomar risco ou não, de acordo com as condições econômicas. Teríamos aí uma estratégia de “trend following”, ou seguidora de tendências.

Uma vez criado o modelo, ele é submetido à prova histórica, ou “backtest”. É a hora de se certificar de que as decisões de investimento teriam sido bem-sucedidas no passado. Para ativos brasileiros, é comumente usado um intervalo de 25 anos, tempo em que vigora o Plano Real. Você conseguiria levantar quais foram as decisões de investimento tomadas pelo seu gestor preferido nesse período?

Um dos grandes charmes de ter um fundo quantitativo no portfólio é certamente a diversificação, por serem pouco correlacionados com a maior parte dos produtos tradicionais. Veja o gráfico abaixo, elaborado pelo meu colega Bruno Marchesano.