Junho: Mês das Quadrilhas

 | 19.06.2017 09:53

A confiança de que Michel Temer está seguro no cargo está em xeque mais uma vez nesta semana, em meio à declaração de Joesley Batista de que o presidente "é o chefe da quadrilha mais perigosa do Brasil", feita às vésperas da denúncia a ser apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR). Por mais que tente fingir que está tudo bem, cobrando punição a criminosos, Temer não consegue explicar a estreita relação que mantinha com o empresário antes do estouro da crise política, que parece sem fim.

Os investidores continuam atentos ao cenário político, com a sensação de caos organizado em Brasília refletindo os esforços do governo para se salvar, às custas da interrupção da retomada econômica. A estratégia da base aliada consiste em paralisar as atividades na Câmara, adiando a votação da reforma da Previdência, para que não haja quórum nas sessões que irão analisar a denúncia criminal contra Temer.

O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, deve formalizar nesta semana uma série de crimes envolvendo o presidente, mas o conteúdo pode ficar "trancado" no Supremo Tribunal Federal (STF) antes de ser encaminhado ao Congresso. Para que o STF possa investigar o presidente, são necessários 342 votos de deputados a favor, transformando a denúncia em um processo contra Temer.

Mas o governo acredita contar com os 172 votos que seriam suficientes para barrar a abertura da investigação, arquivando o processo. Ao esvaziar a sessão, o governo evita um desgaste político e se fia no improvável cenário de a oposição e dissidentes reunirem mais de 300 votos.

Com isso, o governo vai ganhando tempo e reforçando os ares de tranquilidade, em meio à ausência de um nome de consenso para substituir Temer e à continuidade do apoio do maior aliado, o PSDB. Mas as suspeitas levantadas contra o presidente nos depoimentos capitaneados por Joesley não deixam dúvidas de que a classe política mantém um conluio com o setor privado.

Portanto, é evidente que os riscos não acabaram e o período de incertezas no campo político tende a continuar até o fim deste mês, se estendendo ao longo de julho. Ao que tudo indica, qualquer desfecho é esperado, em princípio, apenas para agosto - sem descartar novas delações que possam surgir e voltar a criar certa turbulência.

Por isso, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, tem pressa para que a votação da denúncia seja realizada antes do recesso. Maia, aliás, assume como presidente da República nesta semana, devido à viagem internacional de Temer para a Rússia, com passagem pela Noruega, na volta.

Em meio a essa troca de cadeiras no Executivo e no Legislativo, o Senado tenta dar continuidade à votação da reforma trabalhista. O texto deve ser votado em comissão nesta semana, podendo ir ao plenário da Casa até o fim do mês. Já a reforma da Previdência, mais complicada, tende voltar à pauta somente a partir de agosto.

No curto prazo, a agenda econômica doméstica concentra os destaques apenas no fim da semana. Na quinta-feira, o Banco Central publica o relatório de inflação (RTI) referente ao primeiro trimestre deste ano e deve confirmar, no documento, que a trajetória favorável dos preços tende a manter o ciclo de cortes na taxa básica de juros (Selic). No dia seguinte, sai a prévia de julho da inflação ao consumidor brasileiro (IPCA-15).

Hoje, o calendário do dia traz a segunda leitura do IGP-M neste mês (8h), a pesquisa semanal Focus (8h25) e os dados semanais da balança comercial (15h). Ao longo da semana, são esperados os resultados de maio da arrecadação federal e do emprego formal no país.

No exterior, a agenda está vazia hoje e sem a divulgação de indicadores relevantes nos próximos dias. Merecem atenção os dados do setor imobiliário nos Estados Unidos, a partir de quarta-feira, e os números sobre a atividade norte-americana na indústria e no setor de serviços, na sexta-feira.

Lá fora, o ambiente de negócios segue sendo beneficiado pela elevada liquidez em nível global, com o cenário de juros para cima nos Estados Unidos não sendo acompanhado pelos demais bancos centrais, como do Japão (BoJ) e da Inglaterra (BoE). Essa divergência indica que os dados econômicos nas economias centrais não responderam aos estímulos adotados da mesma forma que nos EUA.

Mais que isso, trata-se de uma resposta que pode demorar, demandando estímulos adicionais e por mais tempo para garantir o crescimento econômico. Por isso, nem mesmo os riscos políticos e geopolíticos têm tido potencial de reverter tal contexto favorável à tomada de risco.

Com isso, o que se vê é um início de semana positivo, com ganhos acelerados nas bolsas. O índice japonês Nikkei 225 voltou a fechar acima dos 20 mil pontos, o que embalou os demais mercados na região. Hong Kong subiu mais de 1%, enquanto Seul e Sidney avançaram até 0,5%, cada.

Na Europa, as ações de empresas ligadas às commodities e ao consumo interno conduzem os ganhos, em meio à recuperação do volume de negócios, com o giro financeiro sendo o maior desde meados de março. O setor de tecnologia também se recupera das fortes perdas da semana passada, que provocou preocupação quanto à baixo volatilidade nos papéis das maiores empresas dos EUA.

Em Wall Street, os índices futuros das bolsas de Nova York têm alta firme, diante das dúvidas sobre a trajetória traçada pelo Federal Reserve para a taxa de juros norte-americana por causa dos sinais fracos de inflação e atividade no país. Esse movimento nas bolsas acontece a despeito da queda nos preços do petróleo, que é negociado perto dos menores níveis desde novembro, e também do fortalecimento do dólar.

A moeda norte-americana ganha terreno em relação ao iene, mas cai frente a libra esterlina, neste dia que marca o início das negociações do Reino Unido sobre a saída da União Europeia (UE), quase um ano depois da escolha pelo Brexit. O euro está estável, após a vitória do partido do presidente eleito francês Emmanuel Macron nas eleições parlamentares ontem.

Entre as moedas correlacionadas às commodities, o dólar australiano recua, após alcançar o maior nível desde março. Esse comportamento favorável dos ativos mais arriscados no exterior deve beneficiar a Bovespa e o real brasileiro, apesar do ambiente de instabilidade política.

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