Juros compostos: Não mate a porquinha prenha

 | 09.06.2023 10:00

No século XVIII, Benjamin Franklin trouxe a expressão acima em uma das edições do Almanaque do Pobre Ricardo. Esse almanaque foi editado durante 25 anos após a primeira publicação em 1732, com grande sucesso. Era uma publicação dirigida à população em geral, que tinha pouco acesso a livros ou jornais. Ela trazia informações sobre vários assuntos que eram do interesse das comunidades americanas no período colonial num formato simples, lúdico e direto. 

O almanaque apresentava dados sobre o calendário com as principais datas de feriados, horóscopo (muito lido já naquela época), tábua das marés – afinal, o transporte por navio era o único meio de locomoção e a maior parte das cidades estava no litoral –, informações sobre agricultura, histórias diversas, filosofia e uma parte muito apreciada pelos leitores, que eram os ditados, frases, versos, anedotas e pequenas histórias, todas elas cercadas de moral, de ensinamentos, de indicações sobre como se comportar na vida prática, buscar a virtude, a qualidade na vida, melhorar na vida financeira, na vida em família, no relacionamento com filhos e outros assuntos que afligiam os primeiros americanos em um país ainda sob o controle da monarquia britânica.

As pessoas que compravam o almanaque tinham a oportunidade de conhecer muitas coisas de uma maneira divertida e prática. A maior parte do material publicado não tinha autoria conhecida, já que eram as coisas que se contavam entre as pessoas e que faziam parte da cultura geral, a cultura popular como se diz hoje. Mas a peça tinha grande impacto nas pessoas, tanto que muitos dos ditados e frases ali publicados chegaram até nós e ainda são ditos por aí. Foi realmente um grande sucesso!

O estilo da escrita fazia juz ao editor do almanaque. Benjamin Franklin era uma pessoa divertida, prática e muito curiosa. Foi um grande grande inventor, estadista, empresário, político e um dos pais fundadores dos Estados Unidos. 

A frase que o almanaque nos apresenta foi descrita no original da seguinte forma:

“Lembra-te de que o dinheiro é de natureza prolífica, geradora. Dinheiro pode gerar dinheiro, e sua prole pode gerar ainda mais, e assim por diante. Cinco xelins empregados são seis, empregados novamente são sete e três pence, continuadamente, até que se tornam 100 libras. Quanto mais dele houver, mais ele produz a cada investimento, de maneira que os lucros elevam-se cada vez mais rápido. Aquele que mata a porca prenha destrói toda a sua descendência até a milésima geração”.

A frase é a melhor defesa que já conheci sobre a força dos juros compostos. Os famosos “juros sobre juros” da sabedoria popular, que já naquele período eram respeitados por quem queria fazer bom uso do seu dinheiro e obter resultados satisfatórios em seus investimentos. Toda a base de acumulação dos investimentos e empréstimos se deriva desse conceito de juros. 

Os sumérios já registravam, há cerca do ano 2.100 a.C., ideias e conceitos sobre juros simples e compostos, assim como noções sobre crédito. Isso está devidamente registrado em tábuas de argila localizadas por arqueólogos. Por sua vez, o maior investidor do mundo, Warren Buffet, considera que os juros compostos são a principal explicação para sua fortuna. São o motor do resultado de seus investimentos.

Até o economista Thomas Piketty, que não é muito conhecido por investimentos e sim por seu livro sobre a desigualdade de renda no mundo, o famoso “O Capital no século XXI”, traz para discussão o conceito “Lei de Crescimento Acumulado” – que é central nessa obra e que explica que “uma diferença pequena entre a taxa de retorno (ou remuneração) do capital e a taxa de crescimento da economia pode produzir, no longo prazo, efeitos muito potentes e desestabilizadores para a estrutura e a dinâmica da desigualdade em uma sociedade” – mostrando o quão importante é o resultado de uma taxa composta de ganhos (ou de juros) em um modo cumulativo e ao longo de gerações.

Trazendo esses poderosos conceitos para nossa vida de investidor, devemos relembrar o quanto é importante, para conseguirmos resultados positivos e consistentes, mantermos nossos investimentos em um modo de acumulação constante. Pense no exemplo de um apartamento que você adquiriu e o aluga – o valor do aluguel, ao invés de você usar para pagamento de despesas correntes, é mantido em outra conta para ser acumulado e reaplicado, para adquirir mais apartamentos com o passar do tempo e, assim, repetir o processo. Fortunas em imóveis foram feitas nesse formato. 

A riqueza de uma pessoa é construída ao longo de muito tempo. Período em que, em sua maior parte, o investidor deveria ficar quieto, esperando a mágica dos juros compostos fazer seu papel. Fazer um plano, colocá-lo em execução e esperar que os resultados venham. Essa é uma atitude que vai contribuir para aumentar sua riqueza. Por outro lado, mudar de estratégia e de plano a todo tempo, não vai te ajudar nessa jornada. 

O filósofo Blaise Pascal tem uma frase que está no livro “O investidor Inteligente“ de Ben Graham, que diz: “Toda a infelicidade humana tem uma única origem: não saber permanecer quieto em uma sala”. Para os investimentos, é válido o mesmo raciocínio. É claro que essa atitude não é a que vai produzir felicidade nos agentes de mercado. Os agentes precisam de movimento dos investidores para ganharem com taxas, comissões, rebates etc. 

O agente prefere o investidor que se movimenta bastante em busca das melhores aplicações, dos melhores fundos, das melhores ações etc. Aquele investidor que muda rapidamente de estratégia atrás da dica mais quente (alguns nem ao menos deixam o dinheiro no mesmo lugar por um mês), é o rei para os agentes. Howard Marks – head e estrategista do Oaktree Capital – recomenda que você “não interrompa o caminho dos juros compostos”.

Nesse sentido, destaco uma pesquisa muito interessante que mapeou a média de tempo que o investidor brasileiro mantém seus ativos em carteira, e os resultados são os seguintes: