Julio Hegedus Netto | 08.04.2013 12:22
Parece que vivemos num país imaginário, que mais se parece com aqueles descritos pelos escritores latino-americanos do chamado realismo fantástico. Lembra uma obra de ficção, dado o discurso dos quadros desenvolvimentistas do governo, mas vive levando choques de realidade, ao se confrontar com a dureza dos fatos, que se impõem pelo dia-a-dia dos mercados e dos indicadores econômicos divulgados.
Enquanto o governo prega a necessidade de crescer, mesmo com pitadas de inflação, os agentes econômicos desconfiam e adiam seus projetos diante da desorganização que a inflação traz, abortando uma possível retomada, além dos desencontros no discurso oficial. O governo, no entanto, teima em virar as costas para a urgência do combate à inflação, diante da necessidade de crescer, até porque 2014 é ano eleitoral.
Nos últimos dias, discursos desencontrados de membros do governo serviram para confundir ainda mais os mercados. De Durban, África do Sul, em discurso para os países dos BRICS, a presidente Dilma Roussef defendeu o crescimento a qualquer custo, não sacrificando-o para conter a inflação. Com isto, acabou gerando mais ruídos no mercado, enfraquecendo a atuação do BACEN, já que, a princípio, descartou a hipótese de elevação da taxa de juros no curto prazo. Como corolário, nos mercados futuros de juro, as taxas de curto prazo recuaram, servindo para jogar uma ducha de água fria sobre a hipótese de elevação de juro na reunião do COPOM em abril (dia 17). Serviram também para reduzir as apostas de elevação na reunião de maio.
Em seguida, a própria presidente veio a público reclamando que suas declarações haviam sido manipuladas por agentes do mercado. Nos dias seguintes, Alexandre Tombini, presidente do BACEN, voltou a aparecer na mídia, mostrando-se preocupado com a inflação, seu grau de disseminação e o comportamento dos núcleos. Mostrou-se cauteloso, dadas as incertezas internas e externas, mas reconhecendo o momento delicado do País, diante de uma retomada frágil da economia e a inflação ascendente no curto prazo. Disse também que esta tem se mostrado resistente com a elevação dos alimentos in natura e os serviços.
Afinal, diante destas declarações contraditórias, o que acreditar?
Não se deve defender a tese de que dá para crescer, mesmo que com um pouco mais de inflação. Como dizem, “não existe almoço grátis”. Para atingir um objetivo, o crescimento sustentável da economia no longo prazo, o que deve mudar são as políticas a serem adotadas e não a defesa errônea de certa leniência com a inflação. Na verdade, o que se observa é um discurso ambíguo do governo, ora defendendo mais crescimento, ora mobilizado em manter a inflação sob controle. Afinal, é possível compatibilizar ambos? Com certeza, acreditamos que sim, mas desde que adotadas medidas acertadas. Façamos algumas ponderações.
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