Matemática Básica Para Explicar a Bolha Imobiliária

 | 09.06.2013 21:44

Quando eu tinha 17 anos, entrei para uma Universidade Pública, a Universidade Federal do Rio de Janeiro, pra fazer o curso de Administração de Empresas.

Naquele época, me empolgava com as idéias de Mário Covas, lia textos de Economia e Administração e era favorável às privatizações, até porque, ficava 5, 10 minutos segurando o aparelho de telefone à espera de um sinal para fazer uma ligação.

Tal perfil me colocava, segundo o Manual do Partido dos Trabalhadores, como um neo-liberal burguês tucano a serviço do capitalismo selvagem.

Apesar do meu lado, novamente segundo o Manual do Partido dos Trabalhadores, neo-liberal burguês tucano privatista e ativista do capitalismo selvagem, precisava ganhar algum dinheiro pra ajudar nas despesas de casa.

Não havia dinheiro pra despesas básicas , muito menos pra comprar um Vinho Romanée-Conti.

Assim, fui fazer uma das poucas coisas que eu sabia fazer, dar aula particular de Matemática.

Sim.....afinal, um adolescente de 17 anos não tem tantas oportunidades assim no mercado de trabalho e, afinal, gostava de matemática.

Passadas 2 décadas, percebo que não é preciso trigonometria, derivadas, geometria analítica ou espacial ou mesmo equações reflexivas e complexas para avaliar a Bolha Imobiliária pela qual o Brasil vive hoje.

Basta Matemática Básica, Matemática Simples.

Peço apenas um pouco de atenção, um pouco de calma pra chegarmos lá.

Antes, apenas uma rápida passagem no cenário que construi aqui e no meu blog, em um artigo escrito há alguns meses, acerca da minha tese sobre como chegamos na disparada dos preços dos imóveis no Brasil.

Resumidamente, inseri no contexto um estudo-pesquisa de 2002 do BIS (Banco de Compensações Internacionais) no qual estabelecia uma relação forte entre o tripé "PIB, Taxa de Juros e Mercado acionário" e a direção dos preços dos imóveis.

Ou seja, as 3 variáveis mencionadas ajudariam a explicar uma eventual exacerbação dos preços dentro de um contexto de "Bolha".

No raciocínio que expus, questionei tamanha simbiose, dado que, PIB e Mercado acionário já vinham subindo ao longo dos "anos 2000", ali no período 2002-2007, mas nem por isso, o preço dos imóveis disparou.

Nem tampouco a queda na taxa de juros foi determinante, dado que a queda mais forte se deu nos últimos 12-18 meses, muito depois da disparada dos preços dos imóveis, que foi mais intensa no período 2008-2011.

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Logo, o tripé "PIB-JUROS-MERCADO DE AÇÕES" não seria determinante para a disparada dos preços dos imóveis no Brasil, talvez no máximo, agiu como "reforço" ou "alimentador final" para a perpetuação do "Efeito Manada".

A minha tese carregava um ponto pouco discutido até hoje, por especialistas ou não;

Qual era o ponto?

O quanto os IPO'S das várias construtoras ao longo de 2006-2007-2008 foi determinante para tirar da inércia os preços dos imóveis.

O quanto o dinheiro trazido pelos IPO'S das construtoras foi determinante para inundar o mercado de liquidez e "inflacionar" o preço dos terrenos e, por conseguinte, dos mercados primário e secundário de imóveis.

O tripé "PIB-JUROS-MERCADO DE AÇÕES" apenas "corroborou" a liquidez jogada no mercado de imóveis.

Sem o dinheiro dos IPO'S das Construtoras, o tripé "PIB-JUROS-Mercado acionário" não teria força para tirar da inércia os preços dos imóveis.

É claro que o chamado "investidor" teve um papel "primeiro" no processo, isto é, vendo "oportunidades à frente e percebendo a dinâmica de valorização que os preços poderiam tomar, ele comprava "barato", inflava mais ainda o discurso da valorização e ampliava os ecos de uma "bolha" em andamento.

Todos os inúmeros processos e acontecimentos que foram se sobrepondo posteriormente, mês a mês, ano a ano, apenas chancelava, reforçava e empurrava os preços cada vez mais para cima, numa velocidade impressionante e "irracional", num clássico "Efeito Manada".

Questões como o aumento do crédito dos bancos privados e públicos, a manutenção da taxa de juros americana em "zero" desde dezembro de 2008, Copa do Mundo e Olimpíadas se sobrepunham e representavam pólvora pura na fogueira já armada da "Bolha Imobiliária em andamento".

"Comprem!! Comprem! Vai bombar! Vai bombar!"

Expressões como essas, já vistas em bolhas de qualquer ativo, principalmente nas bolhas dos mercados de ações, eram frequentes entre os participantes, investidores ou não.

O que se ouvia e ainda se ouve é que "vai valorizar" até a Copa, até as Olimpíadas, "tá tudo barato", enfim, sem que as pessoas parem para fazer apenas uma coisa.

MATEMÁTICA BÁSICA, MATEMÁTICA SIMPLES

Volto a dizer.....

Pesquisas precisam ser aprofundadas, principalmente no Brasil que carece de dados, históricos e pesquisas no campo de "imóveis". A minha "defesa", representa apenas mais uma, entre tantas outras, vigentes ou não.

Ponto.

Por outro lado, nesse artigo, quero enfatizar o "elo final".

Ou seja, até esse instante, me preocupei em expor a minha visão de como chegamos até aqui, como chegamos nos preços aviltantes dos imóveis que encontramos por aí.

Agora, é preciso tratar da consistência por trás das compras, que, afinal, é por onde se passa o "chancelamento" da aberração dos preços.

Se não tivesse comprador, não teríamos a "Bolha", correto?

Nesse momento, a MATEMÁTICA BÁSICA E SIMPLES faz milagre.

Obviamente, a figura do investidor "primeiro" ou "segundo" não pode ser descartada. Eles compraram e repassaram para outros " segundos investidores" inflando e ecoando a "Bolha", como destaquei mais acima.

Outros compradores que não eram investidores "compravam a idéia" e embarcavam no discurso, "se virando" como podiam.

"Como podiam"???? Uma grande pergunta, não é?

Como isso acontece?

Não sei!!

Perguntem aos bancos.....

Vamos a MATEMÁTICA BÁSICA!

Diz o IPEA, que o rendimento médio nominal do trabalhado principal, habitualmente recebido por mês, pelas pessoas de 10 anos ou mais de idade, ocupadas na semana de referência, por regiões metropolitanas (leia-se: Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre) é hoje cerca de R$ 1.800,00.

Vejam no gráfico abaixo: