Menos Indústria, Mais Agricultura

 | 07.10.2021 09:05

Washington Luiz, em meados do século passado, dizia que governar é abrir estradas.

Juscelino acreditava que governar é investir em 5 anos o que levaria 50.

Os economistas da época viam como uma relação matemática implacável o encarecimento dos produtos industriais, em comparação com os agrícolas; portanto, países que se ativessem à produtos primários estavam condenados a exportar cada vez mais toneladas de grãos, em troca de volumes cada vez menores de manufaturados.

A combinação destas ideias gerou um modelo perverso, elitista e ineficiente de desenvolvimento. O Governo assumia um papel de empreendedor do crescimento, criando estatais típicas do setor privado, proibindo a importação de bens para forçar sua substituição por similares nacionais de qualidade duvidosa e preços extorsivos e a agricultura era tratada como aleijão, a ser compensado pela pujança industrial. O paroxismo desta loucura veio com a Lei da Informática, que proibia qualquer importação de computadores, para estimular produtores nacionais despreparados, viabilizados apenas pela combinação perversa de ausência de competição internacional e volumes substanciais de subsídios. Mas, até hoje, o maior beneficiário desta teta é a indústria automobilística, com 35% de alíquota de importação a defender sua produção capenga no País.

Desapercebidamente, alguns exemplos frutificaram com um embasamento ideológico totalmente diferente. A Embraer (SA:EMBR3), por exemplo. Em vez de se seduzir uma multinacional, doando a ela impostos arrecadados de todos para que produzissem aqui aviões obsoletos, criou-se um centro universitário de excelência, que contratava conhecimento de ponta, trazendo professores das universidades de primeira linha para ensinarem no Instituto Tecnológico da Aeronáutica. Décadas se passaram no processo de qualificação de mão de obra, até chegarmos ao protótipo de Bandeirante. Poucas mais, para nos tornarmos um player respeitado no mercado internacional, através da qualidade dos produtos ofertados por uma Embraer privatizada.

Outro exemplo notável é o da Embrapa, um núcleo de agrônomos formados nas excelentes faculdades do País que foi concebido para desenvolver saber voltado ao atendimento das necessidades da agropecuária brasileira. A ocupação do Centro-Oeste – um vazio econômico até a segunda metade do século XX- só vai ocorrer pela simbiose entre a ousadia do agricultor gaúcho e a qualidade da pesquisa da Embrapa.

Qual a diferença entre o modelo protecionista da automobilística e da de eletrônicos destes exemplos citados? Em vez de ancorar o processo de desenvolvimento setorial fomentando uma demanda interna e aprisionando o consumidor local aos desejos da multinacional que vivia de subsídios, trata-se de criar tecnologia sem atalhos, apropriando conhecimento científico e desenvolvendo tecnologia, sem lideranças artificiais do governo-empreendedor e sim em simbiose com o setor privado eficiente. Sem subsídios eternos, talvez com algum amparo na demarragem do processo e só.

Hoje, o triunfo do novo modelo é inegável. Restam poucas empresas produtivas nas mãos do Estado e é questão de tempo para o processo se completar. Melhor: a infraestrutura do País está sendo construída por concessões ao setor privado, já que o Estado perdeu capacidade de investimento, refém que ficou da sua folha salarial e de aposentadorias estapafúrdias.

E na medida em que este pântano de benesses subtraídas do contribuinte e apropriadas pelas empresas subsidiadas seca, aflora a competência dos setores que, do Governo, pedem apenas que não atrapalhe.

O dogma da teoria da deterioração secular dos termos de troca entre agricultura e indústria foi para o lixo da História: basta observar o que aconteceu com o preço da tonelada de soja e o de um televisor de qualidade.

Hoje, o País entende que nossa vantagem comparativa e absoluta está no setor primário. Pulverizado, autônomo em tecnologia local, diversificado, gerido em padrões de Primeiro Mundo, em continua evolução. Até a antiga dependência existencial que mantinha com o financiamento de safra pelo Banco do Brasil (SA:BBAS3) hoje foi substituída largamente pelo financiamento privado.

Tudo isto conseguido sem devastar florestas, crime cometido por uma minoria de marginais que devem ser perseguidos com pertinácia. Nossa agricultura formal opera com uma das mais altas taxas do mundo entre áreas ecologicamente preservadas e áreas incorporadas à produção.

Quanto mais promovermos a soberania do mercado na alocação de recursos da agricultura, maior o bem estar da sociedade, que desfrutará da sua produção de alta qualidade e das divisas geradas pelas exportações do setor, responsáveis por termos recursos para importar produtos do mercado mundial.

Um exemplo de um potencial de riqueza que estamos deixando passar, a maconha. Se há consenso na sociedade brasileira que consumo de bebidas é legitimo e o de maconha não, o economista se curva aos valores culturais vigentes. Mas, se Estados Unidos, Holanda, Canadá e Portugal permite o consumo, qual é a lógica de impedir nosso agricultor de participar do mercado internacional? Do mesmo modo que temos armazéns alfandegados espalhados pelo País e armazenando produtos importados sem o ônus do pagamento antecipado de impostos, poderíamos ter áreas em que se produziria a maconha exclusivamente para exportação. Parte dos recursos gerados pelo fluxo de exportações poderia ser dirigido à recuperação de viciados brasileiros ou destinados a pesquisas sobre usos medicinais avançados da canabis.

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