Sidnei Nehme | 17.04.2019 11:09
Acentua-se a percepção de que as apostas no insucesso da recuperação mais imediata do país ganham, ainda que discreta, evidência e numa observação mais rigorosa é possível notar-se os fatos concretos e atitudes a fortalecem cotidianamente.
Quando observamos o “todo” do país é perceptível que, figurativamente, “o país está atolado na areia movediça e não consegue dar passos à frente”, havendo entraves nas questões políticas com fortes desencontros e atitudes persistentes adversas aos interesses maiores e imediatos do país, que emanam da conturbada articulação e convivência do Governo com o Congresso e setores corporativos, que acabam por postergar todo e qualquer avanço e acentuam a percepção das perspectivas que se acentuam binárias, agora com viés cada vez menos otimista.
A questão econômica sofre enxurrada de reivindicações e ao novo governo se atribui a culpa por todo um desgoverno antecedente que entregou um espólio nefasto, que, com a propagação de embate “no sense” nas redes sociais contamina a opinião pública, e então impõe desgaste absolutamente inconsequente, visto que não espaço para soluções mirabolantes antes de colocar a “casa em ordem”.
Há uma perda efetiva de foco no que é principal que é preterido pelo secundário.
Todo este entrave produzirá certamente um fato mais relevante ainda não posto claramente nas análises, o PIB do 1º trimestre de 2019 deverá ser negativo, o que colabora muito para o desalento que se generaliza por todo o setor produtivo.
Ao clima desconfortável no ambiente político e econômico, agora se agrega o desconforto com o Judiciário, que provoca intensos ruídos e irradia insegurança à toda a sociedade.
Este ambiente tenso e que compromete toda e qualquer perspectiva, acaba por justificar movimentos que ocorrem no silêncio e para os quais se busca sempre esta ou aquela justificativa, mas que no fundo aponta para a perda de credibilidade que o país sairá deste quadro nefasto no curto prazo, mas que ocorre ainda quase que em silêncio.
Como justificar o preço do dólar em alta especulativa a partir do mercado de dólar futuro num país que tem soberbas reservas cambiais e um quadro de conforto nas contas externas. Obviamente, os fundamentos não dão sustentabilidade a este comportamento, mas ele sinaliza aposta dos investidores, em especial os estrangeiros, de que naufragando os planos de soerguimento do país, como acreditam, este ativo será o abrigo de proteção e assim, tenderá a se valorizar.
Por que na composição da Dívida Pública os títulos compromissados, que são operações de curto prazo com juros pós-fixados, têm acentuada demanda e participação na composição da mesma? No nosso entender este é um sinal de aposta no insucesso por convicção e precaução.
E a Bovespa, certamente não passa incólume à formação de posições vendidas como apostas também no insucesso.
Estes “sinais” emitidos pelas atitudes no mercado financeiro são bem mais valiosos do que os embates críticos-ideológicos que ocorrem nas redes sociais e até em algumas mídias, e deixam evidente que o desalento vem ocorrendo de forma silenciosa, mais efetiva.
Então, este é um momento de atipicidades e que relegam ao segundo plano os fundamentos, frente à falta de sinais e padrões que definam uma direção concisa que os ativos tomarão no curto prazo.
Por isso, temos fortalecido o nosso ponto de vista quanto a dificuldade de opinarmos colocando projeções e perspectivas, destacando o “random walk”, no caso com o entendimento de que o preço de hoje é o de ontem mais o fato novo de hoje.
Como temos salientado o país neste momento não é protagonista no cenário global, está muito centrado nos seus relevantes desafios que o impedem de ter perspectivas consistentes, e assim fica à margem dos fatos nem sempre repercutindo ocorrências relevantes.
Hoje, como destaca a Broadcast,
“o dólar opera em queda generalizada nesta manhã, após dados do Produto Interno Bruto (PIB) (6,4%, acima das expectativas), produção industrial e vendas no varejo da China, divulgados na noite de ontem, apresentarem resultados acima do que esperavam analistas, impulsionando o sentimento de risco nos mercados internacionais”
Como o preço no Brasil está bem afastado do que é considerado o seu preço de equilíbrio, algo em torno de R$ 3,70/3,75, e as forças de formação do preço que está em torno de R$ 3,90 tem motivações sem ancoragem de fundamentos econômicos, as repercussões podem não ser tão significativas.
Enfim, nossa percepção é de que no mercado financeiro brasileiro, neste momento, há muitos “achismos” e poucos fundamentos dando sustentação à formação do preço dos ativos, pois num contexto de perspectivas binárias e com grande conturbação a insegurança predomina e, neste momento, fomenta o desalento.
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