Mercado em Clima de Futebol

 | 18.08.2020 08:50

Se as máximas do futebol valessem para o mercado financeiro, poderia se dizer que quando o presidente da República tem de vir a público para garantir a permanência de um ministro, é porque ele já caiu. Paulo Guedes ainda comanda a Economia no Brasil, mas talvez já não seja mais ministro na Austrália...Ao menos foi a esse fato que os ativos locais se anteciparam ontem. 

A queda o Ibovespa para abaixo dos 100 mil pontos, o que não acontecia desde meados de julho, e o avanço do dólar para R$ 5,50, nos maiores níveis desde o fim de maio, refletiram o medo do mercado doméstico de o ministro sair de campo. Esse risco ficou mais evidente na curva de juros futuros, que “puxou no grau”, diante da maior demanda por prêmio nas taxas mais longas. 

Mas a torcida pela permanência do integrante mais prestigiado no clube deve respirar aliviada hoje com o “fico” do ministro sendo comemorado como se fosse um gol em dia de decisão. Após encontro no Palácio do Planalto ontem, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que a saída de Guedes nunca foi cogitada. “Entramos juntos no governo e vamos sair juntos”, garantiu.

A aposta é de uma solução coordenada entre a ala do governo contra o “teto dos gastos” e a equipe econômica. Para tanto, o ministro deve fazer alguns dribles e dar um jeitinho de pedalar algumas despesas para 2021. Seria uma forma de agradar os dois lados em disputa e ninguém no Congresso iria pedir VAR (o famoso árbitro de vídeo) para saber se o resultado, no fim, vai “furar” o que diz a regra em meio às demandas eleitorais. 

 

Segue o jogo

Mas o que está em jogo não é apenas a figura de Guedes. A âncora fiscal e a agenda de reformas também são fatores importantes e, juntos, formam o tripé de apoio do mercado financeiro (e da classe empresarial) ao governo Bolsonaro. O risco de perder essas três escoras de uma só vez deu início a um ajuste nos preços dos ativos, mostrando que o nível de equilíbrio da Bolsa, do câmbio e da Selic seriam outros. 

A sensação entre os investidores é de que a polarização política, que ficou tão marcada no Brasil desde as eleições de 2018, agora ganha contornos de uma polarização econômica, com o limite ao aumento das despesas públicas colocando Guedes e Bolsonaro em times adversários. A queixa pública do ministro sobre a “debandada” na equipe abriu espaço para sua “fritura” dentro do governo e soou como um aviso prévio ao patrão. 

Abaixe o App
Junte-se aos milhões de investidores que usam o app do Investing.com para ficar por dentro do mercado financeiro mundial!
Baixar Agora

E mesmo se Guedes fosse substituído por Roberto Campos Neto, do Banco Central, o clima seguiria hostil. Mas essa alternativa parece sem sentido, aos olhos do mercado, pois há dúvidas se o presidente do BC estaria disposto em “manchar” o nome do avô. Afinal, quem aceitar assumir o cargo poderá executar as reformas (tributária, administrativa) e manter a austeridade fiscal, ou seria uma pasta à la o Ministério da Saúde?

A ver, então, o que trará a proposta do Orçamento do ano que vem, a ser entregue ao Legislativo até o dia 31. Até lá, a agenda econômica vazia, que traz hoje apenas prévias de índices de preços, pela manhã, continua sendo uma “oficina de volatilidade” nos negócios locais, com a cena política ganhando o palco principal das atenções dos investidores e sendo o fator de grande visibilidade e maior imprevisibilidade do momento. 

 

Futebol Americano

O cenário internacional também já se mostra mais sensível à corrida presidencial nos Estados Unidos e tende a contribuir para o vaivém do mercado doméstico. Antes favorito, o agora azarão Donald Trump tenta se manter no páreo contra o rival democrata Joe Biden e deve elevar a retórica anti-China, já que o impacto da crise do coronavírus sobre a economia norte-americana ainda não garante nenhum trunfo na campanha pela reeleição. 

A abertura da Convenção do Partido Democrata ontem, que irá confirmar a candidatura Biden e sua vice, Kamala Harris, não poupou críticas a Trump, alertando para o cenário de caos e o risco à democracia se a Casa Branca não estiver sob nova direção em janeiro. Figura importantes do partido, como a ex-primeira-dama Michelle Obama e o principal adversário de Biden nas prévias, Bernie Sanders, deram o tom do evento. 

Com o cenário político mais exacerbado, os índices futuros das bolsas de Nova York amanheceram na linha d’água, à espera de dados do setor imobiliário nos EUA (9h30) e digerindo novos golpes de Trump contra empresas chinesas. O alvo da vez foi novamente a Huawei, dias depois de uma ordem executiva que força a ByteDance a vender ou cindir os negócios do app TikTok nos EUA em 90 dias. 

A disputa afetou o pregão na Ásia, onde Xangai e Hong Kong tiveram leves altas, e tira o brilho na abertura da sessão na Europa. Ao mesmo tempo, os investidores ensaiam uma fuga para ativos seguros, o que coloca o ouro novamente acima da marca de US$ 2 mil por onça-troy. Mas a queda do dólar em relação às moedas rivais favorece o petróleo e o minério de ferro, que está nas máximas desde 2014.  

Negociar instrumentos financeiros e/ou criptomoedas envolve riscos elevados, inclusive o risco de perder parte ou todo o valor do investimento, e pode não ser algo indicado e apropriado a todos os investidores. Os preços das criptomoedas são extremamente voláteis e podem ser afetados por fatores externos, como eventos financeiros, regulatórios ou políticos. Negociar com margem aumenta os riscos financeiros.
Antes de decidir operar e negociar instrumentos financeiros ou criptomoedas, você deve se informar completamente sobre os riscos e custos associados a operações e negociações nos mercados financeiros, considerar cuidadosamente seus objetivos de investimento, nível de experiência e apetite de risco; além disso, recomenda-se procurar orientação e conselhos profissionais quando necessário.
A Fusion Media gostaria de lembrar que os dados contidos nesse site não são necessariamente precisos ou atualizados em tempo real. Os dados e preços disponíveis no site não são necessariamente fornecidos por qualquer mercado ou bolsa de valores, mas sim por market makers e, por isso, os preços podem não ser exatos e podem diferir dos preços reais em qualquer mercado, o que significa que são inapropriados para fins de uso em negociações e operações financeiras. A Fusion Media e quaisquer outros colaboradores/partes fornecedoras de conteúdo não são responsáveis por quaisquer perdas e danos financeiros ou em negociações sofridas como resultado da utilização das informações contidas nesse site.
É proibido utilizar, armazenar, reproduzir, exibir, modificar, transmitir ou distribuir os dados contidos nesse site sem permissão explícita prévia por escrito da Fusion Media e/ou de colaboradores/partes fornecedoras de conteúdo. Todos os direitos de propriedade intelectual são reservados aos colaboradores/partes fornecedoras de conteúdo e/ou bolsas de valores que fornecem os dados contidos nesse site.
A Fusion Media pode ser compensada pelos anunciantes que aparecem no site com base na interação dos usuários do site com os anúncios publicitários ou entidades anunciantes.

Sair
Tem certeza de que deseja sair?
NãoSim
CancelarSim
Salvando Alterações