Mercado se Prepara Para o Confronto

 | 29.05.2020 08:48

Maio chega ao fim hoje para o mercado financeiro, com os investidores se preparando para o confronto. No dia da divulgação do impacto da pandemia de coronavírus no PIB do Brasil, as atenções estão concentradas na coletiva de imprensa que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, concede hoje (sem horário definido) para falar sobre a China.

A notícia inverteu a trajetória das bolsas de Nova York na reta final do pregão ontem, apagando os ganhos e deixando Wall Street no vermelho ainda nesta manhã. Os índices futuros do Dow Jones e do S&P 500 apontam para uma continuidade dessa queda hoje, com o otimismo dos investidores abalado em meio à escalada da tensão sino-americana.

As principais bolsas europeias também abriram no vermelho, à espera do pronunciamento de Trump, com o índice Stoxx 600 caindo pela primeira vez em cinco dias. Na Ásia, apenas Xangai oscilou em alta (+0,2%), enquanto Hong Kong caiu 0,8%, diante das incertezas envolvendo a ex-colônia britânica. O petróleo cai, enquanto o dólar se enfraquece.   

O anúncio da coletiva de Trump elevou a preocupação de que a piora nas relações entre as duas maiores economias do mundo pode colocar em risco a recuperação da atividade em um cenário pós-coronavírus. A declaração conjunta de EUA, Austrália, Canadá e Reino Unido sobre a lei de segurança nacional em Hong Kong exacerbou os ânimos com Pequim.

Entre as medidas, Trump deve punir autoridades chinesas com a revogação de vistos, sob a acusação de aprisionar mais de um milhão de muçulmanos em campos de concentração. Além disso, a declaração de que Hong Kong perdeu sua autonomia pode levar à retirada do status comercial especial, provocando uma saída maciça de capital externo da região.  

Do outro lado, a China já deixou claro que rejeita a "mentalidade de Guerra Fria" entre os dois países e defende a cooperação mútua para a recuperação econômica global em um cenário pós-pandemia. Ainda assim, o primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, evitou ontem, durante entrevista coletiva, falar sobre a tensão com os EUA envolvendo Hong Kong.

 

Verdade Conveniente

Em outra frente, Trump realmente assinou uma ordem executiva para impedir a censura nas plataformas digitais, revisando as leis governamentais sobre a atividade nas redes sociais. Segundo o chefe da Casa Branca, as empresas de mídia social não possuem “poder incontrolável” para “censurar e restringir” o discurso. “Estamos cansados disso.”  

Abaixe o App
Junte-se aos milhões de investidores que usam o app do Investing.com para ficar por dentro do mercado financeiro mundial!
Baixar Agora

Ainda assim, nesta manhã, o Twitter colocou um aviso em uma mensagem de Trump publicada na rede social, sob a acusação de “glorificar a violência”. O tweet do presidente fala sobre a onda de violência em Minneapolis, que enfrentou ontem a terceira noite de protestos após um homem negro ter sido sufocado até a morte por um policial da cidade.  

Ontem, durante a sessão regular, as ações do Twitter fecharam em queda de mais de 4% e as do Facebook recuaram 1,6%. Aliás, também chamou atenção ontem a declaração da porta-voz da Casa Branca, Kayleigh McEnany, de que essas duas empresas recebem dinheiro da China para permitir que Pequim dissemine notícias falsas na internet.

Portanto, a batalha entre a disseminação de fake news e a liberdade de expressão tende a se acirrar. À medida que se aproximam as eleições presidenciais nos EUA, o candidato republicano à reeleição, que aparece atrás nas pesquisas, já deixou claro que a estratégia do partido é atacar a China, principalmente responsabilizando país pela pandemia.

Da mesma forma, aqui no Brasil, o inquérito de fake news evidenciou a importância da disseminação de notícias falsas pelas redes sociais como estratégia política na internet. Ex-aliados do presidente Jair Bolsonaro deram detalhes sobre o modus operandi do chamado “Gabinete do Ódio”.

Trata-se de uma possível associação criminosa que desfere ataques ofensivos a pessoas públicas, autoridades e instituições, com subversão da ordem democrática e incentivo à quebra da normalidade institucional. Talvez, por isso, a maioria dos ministros da Suprema Corte (STF) defende a manutenção da investigação, conduzida por Alexandre de Moraes.

 

Buy in May

E o mês acaba hoje contrariando a própria fama. Ao invés de venderem e irem embora (Sell in May and go away), os investidores foram às compras e aproveitaram o período que antecede as férias de verão no hemisfério norte para recuperar boa parte das fortes perdas registradas em março. 

O Ibovespa, por exemplo, deve encerrar o mês com resultado positivo pelo segundo ano seguido. Mas se engana quem acha que é lenda a história que marca os meses de maio. Afinal, 2019 foi a primeira vez em dez anos que o principal índice acionário da Bolsa brasileira não ficou no vermelho em maio - e 2009 foi um ano de recuperação pós-crise.

O mesmo fator, então, marca o mês de maio de 2020. Após cair quase 30% em março, quando registrou recorde de circuit breakers em um único mês e cravou o segundo pior resultado mensal da história da Bolsa, era natural que houvesse um repique. Ainda assim, os ganhos acumulados desde abril não anulam o estrago causado na renda variável.

Talvez porque algo ainda não mudou: o fato de que o Brasil ainda não é atraente aos olhos dos investidores estrangeiros. Diante da imagem negativa do país no exterior, em meio às crises política e sanitária para tratar da Covid-19 - além, é claro, dos frágeis indicadores econômicos - a saída de capital externo segue maciça. E não apenas na via financeira.  

A crise entre os poderes, confrontando ora o Congresso, ora a Corte Suprema (STF), mostra que a instabilidade em Brasília não deve cessar logo. Ao menos, por ora, o risco de impeachment do presidente Jair Bolsonaro é baixo, o que mantém a crença de que, em algum momento, a agenda de reformas, ajuste fiscal e privatizações será retomada. 

Essa aposta permitiu que os investidores locais (fundos institucionais e pessoa física) reduzissem a posição defensiva (hedge) em dólar, que se afastou da marca de R$ 6,00. Aliás, maio deve ser o primeiro mês de queda da moeda norte-americana neste ano. Ainda assim, a formação da taxa referencial Ptax pode trazer volatilidade ao pregão hoje.

 

Dia de agenda cheia

Em meio aos ajustes de fim de mês e ao noticiário político mais tenso, os investidores recebem ainda uma agenda econômica carregada de indicadores e eventos relevantes. O destaque por aqui fica com os números do Produto Interno Bruto nos três primeiros meses deste ano (9h). 

Sob os efeitos iniciais das medidas de isolamento social e bloqueio (lockdown) da atividade, a economia brasileira deve interromper três trimestres seguidos de crescimento e cair 2,5%, no primeiro resultado trimestral negativo desde o fim de 2016. Já na comparação anual, a previsão é de queda menor, de 1%, mas há quem espere até uma alta.

Aliás, tem causado certa controvérsia os dados divulgados pelos órgãos do governo, que não parecem refletir a realidade dos impactos econômicos do coronavírus. A polêmica mais recente girou em torno dos números sobre o desemprego, mas o desempenho da atividade também gera dúvidas, uma vez que a recuperação já vinha frágil na virada do ano.

Seja como for, o IBGE anuncia, também às 9h, o índice de preços ao produtor (IPP) em abril, que mede o custo  dos produtos “na porta de fábrica” - sem impostos, nem fretes. Depois, às 9h30, o Banco Central publica a nota sobre o desempenho consolidado das contas públicas, com o déficit fiscal do mês passado já refletindo a pandemia. 

No exterior, o calendário norte-americano traz os dados sobre a renda pessoal e os gastos com consumo (9h30) em abril e o índice de confiança do consumidor neste mês (11h). Entre os eventos de relevo, o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, discursa via webcast em um evento na Universidade de Princeton, a partir das 12h.

Negociar instrumentos financeiros e/ou criptomoedas envolve riscos elevados, inclusive o risco de perder parte ou todo o valor do investimento, e pode não ser algo indicado e apropriado a todos os investidores. Os preços das criptomoedas são extremamente voláteis e podem ser afetados por fatores externos, como eventos financeiros, regulatórios ou políticos. Negociar com margem aumenta os riscos financeiros.
Antes de decidir operar e negociar instrumentos financeiros ou criptomoedas, você deve se informar completamente sobre os riscos e custos associados a operações e negociações nos mercados financeiros, considerar cuidadosamente seus objetivos de investimento, nível de experiência e apetite de risco; além disso, recomenda-se procurar orientação e conselhos profissionais quando necessário.
A Fusion Media gostaria de lembrar que os dados contidos nesse site não são necessariamente precisos ou atualizados em tempo real. Os dados e preços disponíveis no site não são necessariamente fornecidos por qualquer mercado ou bolsa de valores, mas sim por market makers e, por isso, os preços podem não ser exatos e podem diferir dos preços reais em qualquer mercado, o que significa que são inapropriados para fins de uso em negociações e operações financeiras. A Fusion Media e quaisquer outros colaboradores/partes fornecedoras de conteúdo não são responsáveis por quaisquer perdas e danos financeiros ou em negociações sofridas como resultado da utilização das informações contidas nesse site.
É proibido utilizar, armazenar, reproduzir, exibir, modificar, transmitir ou distribuir os dados contidos nesse site sem permissão explícita prévia por escrito da Fusion Media e/ou de colaboradores/partes fornecedoras de conteúdo. Todos os direitos de propriedade intelectual são reservados aos colaboradores/partes fornecedoras de conteúdo e/ou bolsas de valores que fornecem os dados contidos nesse site.
A Fusion Media pode ser compensada pelos anunciantes que aparecem no site com base na interação dos usuários do site com os anúncios publicitários ou entidades anunciantes.

Sair
Tem certeza de que deseja sair?
NãoSim
CancelarSim
Salvando Alterações