Mercado Testa Lei de Murphy

 | 07.06.2018 08:28

O mercado financeiro no Brasil até pode ensaiar um rali de alívio nesta quinta-feira, diante do sinal positivo dos negócios com risco no exterior. Mas qualquer tentativa de melhora local tende a ser pouco duradoura, com o fracasso doméstico em promover reformas estruturais e o cenário eleitoral cada vez mais perigoso para o investidor renovando a pressão nos ativos.

A forte deterioração do mercado doméstico, com a Bolsa brasileira testando pisos abaixo dos 80 mil pontos e o dólar sustentando-se no maior nível desde março de 2016, é um comportamento condizente com o quadro político e econômico atual do país. Os ativos locais refletem tanto a piora fiscal, após a greve dos caminhoneiros, quanto a incerteza eleitoral.

Claramente, os investidores tomaram um choque de realidade e se deram conta de que são reduzidas as chances de um candidato pró-mercado vencer as eleições e dar continuidade às reformas estruturais em 2019. Essa percepção combinada com o impacto da desvalorização do real na inflação agravou a visão com a economia, com a atividade ainda patinando.

Diante disso, há quem diga que o “dólar está de graça” e escala rumo aos R$ 4, preparando-se para bater os R$ 4,50 – e por que não R$ 5? – antes do fim do ano. Para o conselheiro econômico Mohamed El-Erian, ex-PIMCO, as rupturas nos ativos emergentes continuam aparecendo e o real pode ser a próxima peça do dominó que derrubou Turquia e a Argentina.

Apesar desse cenário mais pessimista, ainda não há relatos de que os investidores estrangeiros estão querendo sair do Brasil e não estão conseguindo fazer isso, por causa da falta de recursos disponíveis. O fluxo sobre a entrada e saída de dólares do país ficou positivo em US$ 1,75 bilhão em maio, apesar do saldo financeiro negativo em US$ 5,1 bilhões.

É fato que grande parte desse montante no mês passado refere-se à fuga de capital externo da Bolsa. Os “gringos” retiraram quase R$ 8,5 bilhões, na maior retirada de recursos estrangeiros da renda variável brasileira desde que se tem registro, em 2004. A quantia supera as saídas de R$ 5,3 bilhões em março que era, até então, a maior desde a crise de 2008.

Mas o dado mostra apenas que houve saída da renda variável brasileira. Isso não significa, necessariamente, que todo esse recurso deixou o país. Pode ter ocorrido realocação em outros ativos, com reposicionamento de estratégia, ou mesmo guardado o dinheiro em caixa, à espera de uma oportunidade para “comprar na baixa”.

Abaixe o App
Junte-se aos milhões de investidores que usam o app do Investing.com para ficar por dentro do mercado financeiro mundial!
Baixar Agora

Assim, a renovada pressão no dólar, que ontem bateu R$ 3,85 na cotação máxima do dia, tem levado o mercado doméstico de câmbio a testar o BC - que parece ainda estar sendo castigado pela inesperada interrupção no ciclo de cortes da taxa básica de juros (Selic) em maio. Só que, por enquanto, o dólar tem subido “no vácuo” - ou seja, sem fluxo.

Trata-se, então, de um movimento especulativo, uma vez que o estoque de posições “positivas em Brasil” ainda demanda ajustes adicionais. Afinal, era muito artificial - ingênuo, talvez - embutir nos preços dos ativos que o eleitor apoiaria um candidato pró-mercado que venceria no voto popular após emplacar em campanha a reforma da Previdência, entre outras.

Dessa forma, por mais que pareça ser imperativo o Banco Central mudar de estratégia e injetar recursos no mercado à vista de câmbio, ofertando linhas de financiamento via leilão, não há, ainda, uma necessidade de irrigação de liquidez nos negócios. Por ora, o volume de proteção com swaps cambiais parece ser a estratégia preponderante - e mais adequada.

Atento a esse cenário, o BC resolveu atuar em conjunto com o Tesouro Nacional, realizando operação compromissada de nove meses hoje. A operação se refere à venda de títulos públicos com compromisso de recompra futura e envolve papéis prefixados (LTN e NTN-F) e pós-fixados (NTN-B), visando atender a demanda dos investidores.

É claro que essa postura nos negócios locais pode mudar, mas não há gatilho para reverter o movimento. Ao contrário, a pressão pode aumentar à medida que o mercado global ficar mais preocupado com as investidas protecionistas do governo Trump e/ou o Federal Reserve passar a sinalizar que a taxa de juros norte-americana pode subir mais rápido neste ano.

O próximo aumento, aliás, ocorre já na semana que vem, após a primeira alta, em março. O novo aperto deve ser na mesma magnitude, de 0,25 ponto, para o intervalo entre 1,75% e 2%. A dúvida é em relação ao ritmo no segundo semestre de 2018 e, para isso, o investidor estará ávido por pistas, seja no comunicado, seja na fala do presidente do Fed, Jerome Powell.

Nesta manhã, o juro projetado pelo título dos Estados Unidos de 10 anos (T-note) já se aproxima novamente da faixa de 3%, enquanto o dólar perde terreno para as moedas rivais, mas mantém a pressão nas emergentes, com destaque para a lira turca, antes da decisão do BC local sobre a taxa de juros. Nas bolsas, os índices futuros em Nova York avançam, embalando o pregão na Europa, após uma sessão de alta na Ásia. O petróleo sobe.

No calendário econômico externo, a quinta-feira começa os números finais do Produto Interno Bruto (PIB) da zona do euro e reserva também os pedidos semanais de auxílio-desemprego feitos nos EUA (9h30), além dos dados sobre o crédito ao consumidor em abril (16h).

Já a agenda doméstica do dia segue fraca, mas merece atenção o resultado do IGP-DI no mês passado (8h). O indicador deve acelerar e subir 1,40%, refletindo o impacto nos preços no atacado tanto da valorização do dólar quanto da greve dos caminhoneiros. Já a taxa acumulada nos 12 meses encerrados em maio deve saltar 3% para quase 5%.

Olivia Bulla

Negociar instrumentos financeiros e/ou criptomoedas envolve riscos elevados, inclusive o risco de perder parte ou todo o valor do investimento, e pode não ser algo indicado e apropriado a todos os investidores. Os preços das criptomoedas são extremamente voláteis e podem ser afetados por fatores externos, como eventos financeiros, regulatórios ou políticos. Negociar com margem aumenta os riscos financeiros.
Antes de decidir operar e negociar instrumentos financeiros ou criptomoedas, você deve se informar completamente sobre os riscos e custos associados a operações e negociações nos mercados financeiros, considerar cuidadosamente seus objetivos de investimento, nível de experiência e apetite de risco; além disso, recomenda-se procurar orientação e conselhos profissionais quando necessário.
A Fusion Media gostaria de lembrar que os dados contidos nesse site não são necessariamente precisos ou atualizados em tempo real. Os dados e preços disponíveis no site não são necessariamente fornecidos por qualquer mercado ou bolsa de valores, mas sim por market makers e, por isso, os preços podem não ser exatos e podem diferir dos preços reais em qualquer mercado, o que significa que são inapropriados para fins de uso em negociações e operações financeiras. A Fusion Media e quaisquer outros colaboradores/partes fornecedoras de conteúdo não são responsáveis por quaisquer perdas e danos financeiros ou em negociações sofridas como resultado da utilização das informações contidas nesse site.
É proibido utilizar, armazenar, reproduzir, exibir, modificar, transmitir ou distribuir os dados contidos nesse site sem permissão explícita prévia por escrito da Fusion Media e/ou de colaboradores/partes fornecedoras de conteúdo. Todos os direitos de propriedade intelectual são reservados aos colaboradores/partes fornecedoras de conteúdo e/ou bolsas de valores que fornecem os dados contidos nesse site.
A Fusion Media pode ser compensada pelos anunciantes que aparecem no site com base na interação dos usuários do site com os anúncios publicitários ou entidades anunciantes.

Sair
Tem certeza de que deseja sair?
NãoSim
CancelarSim
Salvando Alterações