Mercado Volta a Respirar Sem Aparelhos

 | 23.09.2021 08:53

Duas decisões marcantes nesta quarta-feira, o Copom elevando a Selic em um ponto percentual, a 6,25%, e o FOMC se mantendo neutro, mas sinalizando o tapering para meados de 2022. 

Sobre a decisão do Copom, veio como esperava o mercado, com a elevação de um ponto percentual, a 6,25%, ao que tudo indica, sendo mantida esta estratégia, com “ajustes nas mesmas magnitudes”, nas próximas reuniões em outubro e dezembro. Com isso, a Selic se aproxima do patamar do início de 2019, quando estava em 6,5%. 

 Ao final do ano, acreditamos que a taxa Selic venha a fechar a 8,25%, não sendo surpresa se na última reunião vier um ajuste de 1,25 ponto percentual, para 8,50%. Tudo dependerá da evolução da inflação e dos riscos fiscais de sempre (o tal balanço de riscos, por enquanto favorável). Com esta taxa, deveremos atravessar 2022 e tentar trazer o IPCA para os limites da meta de inflação, entre 3,5% e 4,0%. Na verdade, ao inflação deste ano já está dada, pouco ou nada podendo ser feito. O foco é no ano que vem. 

 No comunicado do BACEN, o presidente Roberto Campos Neto e diretores, considerou o “balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis” para manter este ritmo de ajuste. Disse que “no atual ciclo de elevação de juros, esse ritmo é o mais adequado para garantir a convergência da inflação para a meta no horizonte relevante e permitir que o Comitê obtenha mais informações sobre o estado da economia”. 

 Neste balanço de riscos, ao que parece, no campo fiscal os fatos vão contribuindo para um cenário mais benigno. Pelas previsões da equipe econômica, a previsão de déficit em 2021 deve ficar em torno de R$ 139,4 bilhões, 1,6% do PIB, menor do que na estimativa de julho (R$ 155,4 bi). No crescimento, mantém 5,3% para este ano e acima de 2% no ano que vem. 

 Sobre o imbróglio dos precatórios, embora os mercados estejam mais aliviados pelo desfecho das negociações, é possível uma trajetória de sustentabilidade precária da dívida pública nos médio e longo prazos. Aplicar deságios de 40% em passivos de contencioso judicial nos parece temerário e pode sim, ser contestado nos tribunais. Por outro lado, há uma cláusula que não considera ser precatório despesa, mas sim dívida judicial, o que retira este debate do “teto dos gastos”. Soma-se a isso, não se justifica o aumento de espaço por mais gastos sociais, sem a garantia de fontes adequadas. Claramente, a luta do presidente por mais auxílios tem um só objetivo: sua reeleição em 2022, algo cada vez mais distante. 

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 Falando da decisão do FOMC nos EUA, Jerome Powell disse que o prazo de conclusão do Programa de Compra de Ativos (Quantitative Easing) pode estar sendo atingido (“em breve”), o que abre espaço para mudanças no comunicado para a próxima reunião (novembro). Pelas suas palavras, “o Fed discutiu o ritmo de redução gradual, assim que as condições para faze-la sejam satisfeitas. Se a economia se manter na trajetória correta, isso pode acontecer em meados de 2022”. 

 Nas projeções, o comitê manteve o juro entre 0 e 0,25%, mas modificou as expectativas de inflação, em 2021 passando de 3,4% para 4,1% e em 2022, 2,1% para 2,2%. Disse que “o crescimento deve continuar forte no restante do ano, mesmo com as revisões; que a taxa de desemprego decorre das incertezas geradas pela Covid, mas que logo deve começar a ceder; e que a inflação deve se manter mais persistente, pela complicada reabertura e o aparecimento de novas variantes do vírus.”

 Tudo indica que este anúncio do processo de redução de estímulos (tapering) deve acontecer na reunião de novembro. Acreditamos que seja em meados de 2022, um processo gradual, com estímulos atuais, US$ 120 bilhões mensais, recuando a algo entre US$ 80 bilhões e US$ 100 bilhões mensais por alguns meses, até nova redução. Já a taxa de juros também deve ser elevada ao longo de 2022 (ver tabela a seguir). Pela opinião dos diretores do Fed, sobre a decisão de elevar a Fed Funds, pelo gráfico por pontos da mediana do Fed, vemos o seguinte: um aumento em 2022 (antes, nenhum); três em 2023 (antes, dois); sete em 2024; e no longo prazo, nove (antes, 9).