Moedas digitais dos bancos centrais estão começando com o pé esquerdo

 | 28.02.2023 09:54

A Nigéria talvez não esteja no radar da maioria das pessoas, mas deveria. O maior país africano está nos estágios iniciais de um experimento monetário que pode chegar aos EUA mais cedo do que você imagina.

Em outubro de 2021, o banco central da Nigéria lançou o eNaira, uma versão digital da sua moeda naira, e, até o momento, as coisas não estão indo bem. Em primeiro lugar, por que os nigerianos não estão usando a moeda.

Em segundo, porque o banco central substituiu as notas bancárias antigas de alta denominação por outras menos falsificáveis. Como você pode imaginar, isso gerou uma caótica corrida para os bancos. Em razão disso, o governo limitou os resgates a cerca de US$ 45 por dia.

Algumas pessoas acreditam que a crise foi tramada para pressionar as pessoas a usar o eNaira. Se isso é verdadeiro ou não, o fato é que o país não pretende abrir mão da moeda. A Nigéria, que realizou uma eleição presidencial bastante contestada no último fim de semana, está em tratativas com uma empresa de tecnologia de Nova York, a fim de permitir que o país tenha “total controle” sobre o eNaira, de acordo com uma reportagem da Bloomberg.

Já escrevi sobre os prós e os contras das moedas digitais dos bancos centrais, conhecidas pela sigla em inglês CBDC, e acredito que a maioria das pessoas já tenha formado uma opinião sobre o assunto.

A questão é que as CBDC são destinadas apenas a países emergentes e em desenvolvimento, como a Nigéria. Cerca de 90% dos bancos centrais do mundo estão em algum ponto do processo de criar suas próprias moedas digitais. A Suécia, que já é uma das sociedades que menos usa dinheiro físico do mundo (apesar de ter sido o primeiro país da história a emitir notas bancárias), pode estar prestes a implementar o e-krona.

Nem todo mundo é a favor da ideia de uma moeda digital centralizada, e poucos países estão trabalhando em uma legislação para limitar sua abrangência. A Suíça, cujos cidadãos detêm o maior volume de notas físicas per capita, deseja consagrar a disponibilidade de notas bancárias de papel em sua constituição. Na semana passada, um parlamentar norte-americano propôs uma lei antivigilância estatal, a fim de proibir que o Federal Reserve emita seu próprio dólar digital.

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Mesmo entre aqueles que não apoiam a criação de uma CBDC, os apelos para proibir certas notas bancárias vem crescendo cada vez mais com os anos. Os EUA já acabaram com notas de alta denominação, como US$ 500 e US$ 100.000, e a próxima a entrar na lista de cortes pode ser a de US$ 100.

Os defensores dessa ideia afirmam que a descontinuação das notas que levam o rosto de Ben Franklin seria um importante fator para coibir a corrupção, o terrorismo e outras atividades ilícitas, principalmente no exterior. Acredite ou não, a grande maioria das notas de US$ 100 – cerca de 80% do seu volume, de acordo com o Fed de Chicago – é mantida no exterior. A demanda sobe em momentos de crise política e financeira.

Como as notas de 100 dólares são as mais impressas nos EUA, superando inclusive as notas de 20 e 1 nos últimos anos, a quantidade de dinheiro fora do sistema financeiro americano é substancial.