Morde e Assopra. Greve dos Caminhoneiros, Reforma Eleitoral e Mercados

 | 10.09.2021 08:38

Mais um capítulo lamentável nesta errática relação do presidente Bolsonaro com os poderes, as instituições da República.

Desta vez, depois de um dia tenso de indefinições e mercado “mergulhando”, ainda mais com a reunião do Conselho de Ministros mostrando um presidente contrário ao recuo, tudo virou à noite. Totalmente “encurralado”, ainda mais depois dos discursos fortes dos ministros Barroso e Luiz Fux, colocando a hipótese de impeachment na pauta, recuou, chamou o ex-presidente Michel Temer, e “soltou” um manifesto totalmente contemporizador.

Na defensiva, disse que realmente, em momentos mais calorosos tende a falar demais, mas sempre visando o “bem comum”. Se desculpou aos “poderes”, praticamente, me permitam, pedindo perdão. Para completar, abriu um novo canal com o ministro Alexandre de Moraes, intermediado por Temer, marcando um encontro para os próximos dias, com a participação de Michel Temer, Ciro Nogueira e Fabio Faria.

Muito se comenta que houve um acordo aí. Bolsonaro cedeu para poder aprovar o ICMS fixo para os combustíveis, o Auxílio Brasil, solucionar o impasse dos precatórios e ver André Mendonça aprovado no STF. Em resposta, se compromete a esvaziar a greve dos caminhoneiros, evitando assim desabastecimento. Abre também um canal para que Michel Temer se lance como deputado no ano que vem, tendo o apoio para se lançar também na sucessão de Arthur Lira.

Por outro lado, ficam os “despojos pelo caminho”. Bolsonaro é uma fábrica de crises e de mal entendidos. Ainda que tenha capacidade de mobilização, vide as manifestações de 7 de setembro, Bolsonaro não tem força para “emparedar" as instituições. Os discursos de Fux e Barroso, realmente, foram uma dura resposta a isso. Disseram ambos que não se curvariam, Barroso inclusive, chamando-o de “covarde”, e que a possibilidade de uma solução jurídica estava na mesa. Se Bolsonaro não cedesse, fosse para cima, desrespeitando as decisões judiciais, como no discurso da Paulista e no Conselho de Ministros, inevitável seria Arthur Lira ceder e ter que colocar o impeachment na pauta. Estaria aqui configurado “crime de responsabilidade”. Lembremos que já são mais de 130 pedidos!

Vem se tornando um mantra. Jair Bolsonaro é chefe de Estado, presidente de uma das maiores nações do mundo. Não pode se comportar como se fosse um líder de agremiação estudantil. Não pode ser panfletário, incendiário. Sempre a criar conflitos.

Precisa respeitar a “liturgia do cargo”. Não pode se comportar emitindo “opiniões” a todo momento, nos seus canais (cercadinhos, lives), se expondo, desautorizando ministros e base de apoio, desgastando ainda mais as relações.

É só observarmos os tantos personagens que ingressaram nesta caminhada com ele, mas foram ficando pelo caminho diante da postura neurótica e beligerante do presidente. Começando pelo falecido Gustavo Bebbiano, dois ministros da Saúde, da Educação, o general Santos Cruz, cúpula militar, nas três forças, Sergio Moro, quase todo o staff de Paulo Guedes no Ministério da Economia, etc. Bolsonaro, definitivamente, vai na contramão do bom trato político, das articulações, “freios e contra freios”. Queima pontes, não as constrói.

Ontem, por exemplo, era constrangedor o esforço de Arthur Lira, ao fim do dia, antes da carta de Michel Temer, tentando achar um caminho, uma saída, a tal “ponte”, para seguir com a agenda de reformas. E não dá para “dourar a pílula”. Todas as dificuldades políticas que se mostraram pelo caminho, nas reformas, na prometida agenda de privatizações, na agenda econômica como um todo, possuem um responsável, Jair Bolsonaro. Nas suas declarações desastrosas que, muitos, tentando amenizar, chamam de “sincericídio”, vai se isolando e se tornado sim, uma “incógnita” para 2022.

Nos ritos de um governo republicano, o que se é dito possui um poder impressionante, ainda mais partindo de um chefe de Estado. Um presidente não pode sair por aí falando o que quer, o que pensa, mais preocupado com a sua base de apoio, cerca de 20% ou menos, mas ignorando a sociedade como um todo.

E o que dizer da “gestão da pandemia ”? Quantas vezes, Bolsonaro disse que as pessoas não tinham que usar máscara, manter isolamento, que isso era para “maricas”, o mesmo se referindo à necessidade de vacinação? Quantas vidas se perderam por estes comunicados dúbios e vacilantes? Por este palavreado fora de hora e local?

Greve dos caminhoneiros/h2

Voltando a realidade, quando tudo parecia contornado, pelo menos nesta semana, vieram os caminhoneiros grevistas ameaçando continuar a greve, enquanto não houver um desfecho para o imbróglio STF, Alexandre de Moraes não for “enquadrado” e um encontro com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco. É este o resultado de tanta belicosidade, clima beligerante, gerado pelo presidente. “O feitiço se volta contra o feiticeiro”. Como negociar isso agora?. Já são vários caminhões bloqueando estradas em 14 estados. Vamos acompanhando.

Reforma eleitoral/h2

O texto-base, aprovado com larga margem na Câmara (378 a 80), rejeitou a proposta de quarentena para juízes, militares e promotores disputarem as eleições. Agora, o prazo de desincompatibilização passa a ser de seis meses antes da eleição para qualquer um que concorrer a um cargo eletivo.

Tal mudança de última hora deve manter o ex-juiz e ministro Sergio Moro no páreo. Uma boa notícia. O Código Eleitoral será aprovado pelo Senado e sancionado no dia 02/10.

Indicadores/h2

Saiu o IPCA de agosto, desacelerando de 0,96% em julho para 0,87%. Tal resultado deve continuar a pressionar a economia brasileira até o final do ano. Uma postura mais hawkish do Bacen é esperada nas próximas reuniões do Copom. No mercado já se fala numa Selic entre 8,0% e 8,5%.

A produção industrial recuou em sete dos quinze estados pesquisados, entre junho e julho, segundo o IBGE. Em São Paulo, maior parque industrial do País, houve queda de 2,9%. Na média global, a indústria nacional recuou 1,3% entre julho e junho.

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Pela B3 (SA:B3SA3), as vendas financiadas de veículos em agosto deste ano somaram 527 mil unidades. O número, que inclui automóveis leves, motos e pesados, representou um avanço de 4,6%, contra o mesmo mês de 2020.

Mercados/h2

O mercado virou depois do discurso apaziguador do presidente Jair Bolsonaro. O dólar fechou em queda ante o real, -1,85%, a R$ 5,2270. Já o Ibovespa “acalmou” ao fim do dia, depois de muita volatilidade, recuperando parte do tombo de 3,7% no pregão anterior. O índice subiu 1,66%, aos 115.291 pontos.