Não Seja do Contra: Invista Como Um Investidor Profissional

 | 27.05.2020 07:05

A receita para se ter sucesso nos investimentos é, a priori, bem simples: compre barato, venda mais caro. A grande questão é que no mercado financeiro, infelizmente, muitas vezes companhias que parecem baratas à primeira vista, podem se tratar de verdadeiras bombas-relógio. Como então saber em que empresas investir?

Todo investidor que leva a sério as suas aplicações financeiras sempre realiza uma série de análises antes de efetuar o seu investimento: se for adepto da análise gráfica, ele analisará uma série de tempos gráficos e indicadores técnicos da empresa; se for adepto da análise fundamentalista, ele analisará os balanços e múltiplos da companhia. Não raramente o investidor faz uma mistura das duas, analisando tanto os fundamentos da empresa quanto a tendência de seu preço no mercado, de modo a identificar melhores pontos de entrada.

O que porém muitos investidores se esquecem de analisar não está em nenhum rodapé das DREs (Demonstração do Resultado do Exercício) nem em nenhum tempo gráfico incomum, mas sim na frente das telas de seus computadores: são os seus próprios vieses psicológicos. Neste artigo vamos falar sobre alguns deles e como é possível trabalhar para que eles lhe afetem menos.

Boa parte dos problemas do investidor pessoa física têm origem no excesso de confiança. Após realizar a análise de diversos papéis, eventualmente o investidor encontra um que lhe parece ser uma excelente oportunidade, o que pode de fato ser o caso, mas o excesso de confiança tende a levá-lo a cometer uma série de erros danosos ao seu patrimônio.

Em primeiro lugar, por pensar se tratar de uma oportunidade imperdível, há uma tendência que o investidor concentre boa parte dos seus recursos em um único papel. É verdade que com a concentração o investidor pode ter excelentes retornos caso a sua aposta se mostre correta, mas caso esteja errada, este erro significará uma grande perda para seu capital, já que o potencial de ganho tende a ser sempre proporcional ao potencial de perda.

Desta forma, o excesso de confiança acaba guiando o investidor contra a diversificação, que como sabemos há algumas décadas, é o único almoço grátis do mercado financeiro: através do investimento em ativos não correlacionados, é possível não apenas diminuir o risco mas também aumentar o retorno esperado para um portfólio, sobretudo a médio e longo prazo.

Essa, porém, não é a única consequência negativa causada pelo excesso de confiança. De maneira geral, os investidores (sejam eles individuais ou institucionais) tendem a se posicionar comprados em algum ativo, isto é, apostando na alta das cotações. Isso é prevalente principalmente em investidores de varejo, que poucas vezes operam vendidos, isto é, apostando na queda das ações. Isso faz com que o investidor pessoa física tenha a tendência de encontrar mais oportunidades em papéis que estariam subvalorizados pelo mercado e, portanto, teriam grande possibilidade de alta. O problema dessa estratégia reside em ignorar a hipótese de mercados eficientes: se as ações destas companhias estão descontadas, provavelmente, os maiores players do mercado estão enxergando um alto risco atrelado a essas empresas.

Alguns dos casos mais exemplares no mercado nacional recentemente são as ações da Oi (SA:OIBR3), Via Varejo (SA:VVAR3) e IRB (SA:IRBR3), que atingiram grande participação do investidor individual em seus números de acionistas. Não quero aqui tecer nenhum juízo de valor sobre as três empresas, mas cabe destacar que a primeira passa por recuperação judicial, a segunda está passando por uma grande reestruturação interna e a terceira foi diretamente acusada de grandes fraudes contábeis. Essas características fazem com que estas empresas exijam teses de investimento muito complexas e robustas, que possivelmente estejam além da compreensão de um investidor não qualificado.

Particularmente, adoraria que estas apostas dos investidores individuais contra os institucionais terminasse com a vitória do lado mais fraco, como na história de Davi e Golias, mas infelizmente não é isso que a literatura nos relata. Em estudo sobre o mercado finlandês, os economistas Mark Grinblatt e Matti Keloharju demonstram que os investidores estrangeiros (em sua esmagadora maioria institucionais) tendem a ser investidores de momentum, isso é, que se apoiam nas tendências de alta ou de baixa, enquanto que os investidores domésticos, principalmente do varejo, tendem a ser do contra: compram ações que estão caindo e vendem as que estão subindo. O que ocorre é que os institucionais conseguem gerar alfa (excessos de retorno), enquanto os investidores de varejo não.

A ideia de investir a favor da tendência então se mostra muito atrativa, mas como é possível identificá-la? O investidor poderia pensar que a análise técnica lhe ajudaria nessa questão, mas muitos analistas têm dificuldade de diferenciar padrões no gráfico de ações reais ou de gráficos gerados aleatoriamente (padrão Random Walk). O gráfico abaixo ilustra esse problema:

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