O Fed Não Cria Mais Dólares

 | 04.07.2021 17:27

h5 Ao reler minha análise anterior, finalizada às pressas e publicada aqui, percebi que minha última frase soa arrogante. Se fosse só uma anotação pessoal, para eu mesmo consultar mais tarde, não teria importância. Porém, outras pessoas podem ficar com uma impressão errada. Não tenho a pretensão de me achar mais esperto que o pessoal do banco central americano, nem tenho certeza absoluta do que o futuro nos reserva.

O Federal Reserve tenta evitar que a economia caia noutra recessão. Para atingir seu objetivo, acredito que dirá o que for mais conveniente. Se tiver que dissimular seu discurso, assim o fará! Reconhecer humildemente suas limitações, temores e desafios futuros só iria piorar a situação. Desestimularia o empreendedorismo dos capitalistas e o consumo da população. Esperar total transparência de um pronunciamento do Federal Reserve me parece ingenuidade.

Cabe a nós, investidores, fazermos uma observação crítica e procurarmos enxergar as coisas da forma mais objetiva possível. O que não é fácil! Nem o Fed, nem eu, nem ninguém pode ter certeza absoluta do futuro. Estamos todos tateando no escuro. Uns mais, outros menos. Mas, ter grandes certezas sobre algo que não aconteceu ainda é tolice. Aliás, até o passado é subjetivo, influenciado por narrativas pessoais e vieses ideológicos dos historiadores.

Como investidores, precisamos analisar diferentes informações e estrapolações, para só depois formarmos nossa opinião. Mesmo depois, temos que continuar analisando e, sempre que necessário, mudar de ideia e estratégia. Também não somos obrigados a seguir um consenso. Se não nos sentirmos razoavelmente confortáveis com o nível de incógnitas, podemos simplesmente ficar fora do mercado.

Como já disse, escrevo porque me ajuda a pensar. Fica mais fácil discernir o que têm melhores argumentos, daquilo que tem menor consistência. Quem não for capaz de se expressar com palavras vai raciocinar de forma original e elaborada como? Com abreviações e emoticons é que não dá! Um bosque é formado por árvores, assim como nossos pensamentos são construídos por palavras. E, se as palavras têm significados peculiares, então a própria escolha destas merece maior atenção.

Mea culpa: várias vezes, usei as expressões inadequadas "criação de dinheiro" e "impressão de dólares". Elas induzem a equívocos implícitos. Explico: se a oferta e a demanda permanecerem constantes na economia, um aumento na quantidade de dinheiro em circulação provocará inflação. Em 2011, publiquei minha análise (Alavancagem e Desalavancagem) contrária à inflação nos EUA. Apesar das diferentes edições de QE pelo Fed, mantive minha aposta na valorização do dólar, até o ano passado. Só depois da pandemia de COVID levar o Tesouro americano a distribuir cheques para a população, é que me deixei levar pela narrativa de inflação e desvalorização do dólar. Mas minha aposta numa inflação americana persistente e generalizada durou pouco!

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Nos comentários do último artigo, um leitor extremamente educado me perguntou como faço minhas análises. Sou eclético e imune a rótulos ou preconceitos. Uso tudo que faz sentido para mim. Macroeconomia, demografia, análise técnica (gráfica), indicadores financeiros das empresas, e razões entre ativos brasileiros dolarizados e índices ou ETFs americanos. O que menos me importa são notícias na mídia tradicional. Mesmo analistas profissionais não me interessam muito. A justificativa de serem isentos, por não estarem investidos naquilo que analisam, não me seduz. Para saber o que outras pessoas relatam e pensam, prefiro ouvir grandes investidores estrangeiros. Aqueles com o próprio couro no mercado internacional. E é imprescindível manter a mente aberta para opiniões divergentes. Não adianta ouvir só gente diferente falando a mesma coisa. O consenso definha nosso pensamento crítico. Gosto de sondar o fogo cruzado das observações e interpretações diferentes. Quase todos contribuem com algum ponto de vista que merece ser considerado. Como dizem os franceses, "Vive la différence!" Ela estimula e agrega informações.

A demografia foi muito subestimada pelo mercado. Diria que ainda há poucos investidores atentos a ela. Comecei a escrever sobre isto em 2011. O meu Índice Tocalino mostra a importância dela nas minhas análises.