O Mensalão Voltou - e Não É de Onde Você Pensa Que É

 | 20.08.2020 12:32

O Brasil não é para amadores

Você já deve ter ouvido aquela frase: "O Brasil não é para amadores". Sabendo como as coisas funcionam na política por aqui, naturalmente a gente tende a associar a alguma excrescência vinda do governo.

Incrível pensar que uma frase tão pejorativa como esta serve perfeitamente para o que acontece também no mercado financeiro brasileiro.

Em 5 de setembro de 2018, o Bruce inaugurou uma série de artigos na Nord batizada como "Sócio dos Infernos". Nesta série nós comentamos casos de empresas listadas na bolsa que praticaram atos flagrantes para prejudicar seus minoritários.

Em Sócio Dos Infernos parte 1, o caso escancarado foi a da jogada da TAM para fechar o capital de Multiplus (SA:MPLU3) a um valor de mercado "bastante conveniente".

Na sequência do mesmo artigo, o Bruce trouxe à tona os problemas que Via Varejo (SA:VVAR3) e Pão de Açúcar (SA:PCAR3) sofriam por ter um sócio problemático como o grupo Casino, e que isto por si só já era um bom motivo para ficar longe das ações das duas empresas.

Poucas semanas depois, em Sócio Dos Infernos parte 3 e 4, comentamos sobre o caso de Qualicorp (SA:QUAL3), quando foi anunciado que a empresa pagaria 150 milhões de reais por um acordo de non-compete de 6 anos com o fundador, presidente e seu maior acionista.

Em seguida, mais um caso bizarro ilustrado, envolvia a GWI, controladora da Gafisa (SA:GFSA3), e que mesmo extremamente endividada e sem caixa, anunciou uma recompra de ações.

Se o Wagner Moura estrelasse um filme sobre as histórias do mercado financeiro brasileiro, esta seria a hora em que ele usa aquela icônica frase: "O sistema é f…, parceiro".

Mais algumas semanas depois, em Sócio dos Infernos parte 5, a Gol (SA:GOLL4) achou uma boa copiar a sua concorrente TAM, e tratou de encomendar uma engenharia societária para fechar o capital da Smiles (SA:SMLS3) (SMLE3) — sem ter que botar a mão no bolso. Menos de um mês antes, o Bruce esteve com o Departamento de RI da Gol, e eles negaram veementemente qualquer fechamento de capital.

O pior é que os casos não pararam por aí. Digite "infernos" na barra de busca do nosso site, e encontre mais uma porção de outros insights como estes.


"Mensalão" corporativo: o caso LINX3 (SA:LINX3)

Me perdoem por ser repetitivo, mas este é o tipo de coisa que a Nord, como grande patrocinadora do movimento de democratização dos investimentos e defensora dos interesses de investidores Pessoa Física, não pode deixar passar sem fazer o devido barulho.

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Importante dizer também que aqui não temos o rabo preso. Como uma casa 100 por cento independente, advogamos, única e exclusivamente, pelos interesses dos nossos leitores e assinantes.

O caso da negociação de Linx, envolvendo Stone (NASDAQ:STNE) e Totvs (SA:TOTS3), é um dos mais bizarros que eu já vi nos meus mais de 15 anos de mercado financeiro. Os fundadores da Linx omitiram uma proposta maior (Totvs) pelo controle da empresa — e que beneficiaria também os minoritários pelas regras de tag along do Novo Mercado — em detrimento de receber um bônus travestido de cláusula de não competição.

A entrevista dada pelo fundador da FAMA, Fábio Alperowitch, para a Veja foi precisa: “É pior {do que o mensalão}, porque o mensalão não era tão gordo assim”.

Note que a FAMA é uma das gestoras mais longevas do Brasil, com mais de 25 anos de história, referência em adotar práticas de ESG em seu processo de investimento e detentora de 3 por cento do capital da Linx.

O alerta que eu faço é que se um investidor de profissional como a FAMA incorre em riscos como este, imagine os riscos que investidores incautos, que seguem dicas de redes sociais, podem incorrer.

No sábado, o Ricardo escreveu um texto brilhante mostrando como os selos de governança corporativa são lindos na teoria. Na prática, nem mesmo o Novo Mercado dá para levar a sério.

Por vezes somos cobrados a emitir opiniões sobre empresas que estão na moda, pura e simplesmente porque estão subindo muito. Digo com toda certeza, na maioria das vezes não passamos vontade ou nutrimos qualquer arrependimento.

A verdade é nós tomamos um imenso cuidado ao escolhermos quem serão os nossos sócios e os riscos contratuais (e outros) que possam existir.

Como o Bruce costuma dizer: "Na bolsa, é muito melhor ser desconfiado do que ser enganado". A empresa pode ser maravilhosa, apresentar um histórico consistente de crescimento e lucratividade, mas se algo nos cheira mal, ou põe em risco nossa posição como minoritário, para nós é um deal breaker.

O bull market aceita muito desaforo. A bolsa sobe, e a maré sobe para todo mundo. Mas como o Buffett já disse uma vez: "Quando a maré baixa, é aí que você descobre quem está nadando pelado".