O mercado de trabalho evitará que os EUA entrem em recessão?

 | 03.03.2023 19:18

É possível defender que a economia dos EUA está forte ou se enfraquecendo, dependendo do conjunto de indicadores econômicos escolhido. Isso ocorre porque sempre há um ou mais setores da economia que estão indo contra a tendência. Mas desta vez é diferente, na medida em que o grau dos sinais conflitantes é muito forte.

O exemplo claro disso é o mercado de trabalho, que continua registrando sólidos ganhos – muito mais fortes do que outros indicadores nas últimas décadas, que ofereciam sinais relativamente confiáveis do ciclo de negócios.

O debate é se a robusta criação de postos de trabalho se deve a fatores não recorrentes e extraordinários, ligados aos efeitos persistentes da pandemia. A chamada “reserva de mão de obra” é uma das explicações para o fato. Se houver algo diferente desta vez, pode haver uma reversão repentina? Ou será algo persistente?

Independente da explicação, não há como negar os números. O desemprego nos EUA continua baixo, e as contratações seguem em firme alta: foram criados 517.000 postos de trabalho em janeiro, maior avanço mensal desde julho. Ao mesmo tempo, a taxa de desocupação recuou para 3,4%, menor nível desde os anos 1950.

Outras áreas essenciais da economia também vão bem. Apesar das oscilações dos últimos meses, os gastos dos consumidores mostram uma incrível capacidade de recuperação. Os gastos com consumo pessoal subiram 1,8% em janeiro, maior aumento em quase dois anos.

As definições de recessão variam, mas é seguro assumir que a economia americana irá evitar uma contração se o mercado de trabalho e os gastos dos consumidores permanecerem fortes. Isso não muda o fato de que os principais indicadores continuam emitindo sinais de alerta. Exemplo disso é a inversão da curva de rendimentos dos títulos do Tesouro americano (treasuries). O aumento das taxas de juros e o acentuado declínio da oferta monetária são outros indicativos nesse sentido.

Ocorre que várias medidas amplas do ciclo econômico apontam em uma direção diametralmente oposta. O índice econômico antecipado do Conference Board, por exemplo, mostrou um cenário nada bom em janeiro.