O que a eleição do Brasil significa para a economia global? Algumas dicas importantes

 | 01.11.2022 08:14

  • A volta do esquerdista Lula ao cargo mais alto do Brasil completa um pivô político regional iniciado no México em 2018
  • Lula disse que seu país, terceiro maior exportador de alimentos do mundo, "não está interessado no papel de eterno exportador de commodities"
  • No entanto, o Brasil tem assumido um papel crescente no fornecimento de alimentos ao mundo diante da guerra na Ucrânia – e tem se beneficiado amplamente disso
  • Na eleição mais apertada do Brasil de todos os tempos, o ex-presidente de esquerda Luiz Inácio Lula da Silva voltou ao poder após 12 anos depois de garantir 50,9% dos votos válidos do país. Será seu terceiro mandato, não consecutivo. Jair Bolsonaro é o primeiro presidente democraticamente eleito do Brasil a não ganhar um segundo mandato e ainda não admitiu a derrota publicamente.

    Em seu discurso de vitória no domingo à noite em um hotel na maior cidade do país, São Paulo, Lula, de 77 anos, falou sobre a reunificação de um país altamente dividido, dizendo que "há apenas um Brasil", um feito que parece improvável, já que Lula enfrentará forte oposição no Congresso, Senado e Estados.

    O pivô político do Brasil é o mais recente e significativo da América Latina nos últimos anos. Ele completa uma ampla mudança regional para o nacionalismo de esquerda que tomou conta da América Latina desde que Andrés Manuel López Obrador assumiu o cargo de presidente do México no final de 2018.

    Embora ainda seja cedo para avaliar todas as implicações da eleição de Lula, aqui estão algumas conclusões imediatas relevantes para a economia global.

    h2 Produtos alimentícios/h2

    O Brasil é atualmente o terceiro maior produtor de alimentos do mundo. Recentemente, deslocou os EUA como o maior exportador mundial de carne bovina e continua sendo o maior exportador de café e soja.

    Com uma oferta global de grãos apertada devido à guerra na Ucrânia, seca recorde na Europa e chuvas incomuns na Índia e na China, o país sul-americano emergiu como uma das principais soluções de curto prazo do mundo para o crescente problema de segurança alimentar.

    No entanto, em seu discurso ontem à noite, Lula disse que o Brasil "não está interessado no papel de eterno exportador de commodities". Por sua vez, prometeu priorizar os pequenos e médios produtores rurais, já que são eles que fornecem a maior parte do abastecimento interno de alimentos de seu país.

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    A declaração indica um pivô da política agrícola voltada para a exportação de Bolsonaro, que levou a dois anos de exportações recordes de commodities para o país devido ao aumento dos preços globais.

    Uma mudança na política agrícola brasileira provavelmente prejudicaria a oferta mundial de alimentos, possivelmente resultando em preços mais altos de mercado e ao consumidor.

    Ao contrário dos EUA, Europa e China – que já atingiram o pico das terras agrícolas – o Brasil vem crescendo exponencialmente sua área cultivável durante o governo de Bolsonaro. Isso, por sua vez, gerou preocupações ambientais, principalmente em relação ao desmatamento da região Amazônia.

    Como o presidente e CEO da AgResource, com sede em Chicago, Dan Basse, disse em uma entrevista: "Estimamos que o mundo precisa trazer outros 25 milhões de acres de terras agrícolas nos próximos cinco anos para equilibrar as coisas. A maior parte dessa terra terá vir da América do Sul."

    h2 Petrobras (BVMF:PETR4)/h2

    Embora Lula não tenha mencionado nada específico sobre gigantes corporativos estatais, como Petróleo Brasileiro Petrobras (NYSE:PBR) ou Eletrobras (BVMF:LIPR3), os negócios de petróleo e eletricidade do país, sua trajetória política indica que o governo provavelmente buscará um maior poder de decisão nessas empresas.

    Durante seu governo anterior, o presidente controlou a inflação do país por meio de políticas de teto de preços em ambas as empresas, sobrecarregando seus balanços e levando a ganhos medíocres de ações no longo prazo.

    Além disso, um grande escândalo de corrupção que envolveu os governos de Lula e de sua sucessora, Dilma Rousseff, ajudou a levar a Petrobras a novos patamares.

    Esse panorama começou a mudar durante a presidência de Michel Temer, em 2016, quando o ex-presidente afirmou que a empresa venderia sua imensa produção de petróleo bruto a preços equivalentes ao benchmark norte-americano WTI.

    A liberalização da empresa se aprofundou com Bolsonaro, marcada por uma diminuição significativa na propriedade governamental de ações ordinárias e a venda de muitas licenças de exploração de petróleo para empresas privadas estrangeiras e brasileiras.

    Nesse período, a empresa melhorou suas margens operacionais e aumentou as reservas de caixa, o que gerou um ganho de aproximadamente 130% para as ações. A Petrobras também aumentou seu rendimento de dividendos para quase 35%.