O Que Diria Warren Buffett?

 | 13.07.2018 18:16

Acho que foi o investidor Warren Buffett que discorreu há algum tempo sobre a diferença entre preço e valor. Para ele, preço é o que se paga por um ativo ou serviço, ao passo que valor é o que se leva. Nem sempre os dois estão no mesmo nível. Às vezes paga-se muito comparativamente ao valor daquele ativo outras paga-se pouco pelo valor daquele ativo. Para o investidor do mercado acionário, um bom negócio é comprar uma ação cujo preço esteja abaixo do valor da empresa e, pela mesma lógica, vender uma ação cujo preço negociado pelo mercado esteja acima do valor da empresa.

O mercado futuro de açúcar em NY encerrou a sexta-feira extremamente desvalorizado, com o vencimento outubro/2018 negociado a 10.96 centavos de dólar por libra-peso uma queda de 55 pontos na semana, equivalentes a 12 dólares por tonelada. O preço mais baixo desde abril.

Será que o preço atual do açúcar está abaixo do seu valor? Se Warren Buffett fosse investir no açúcar, de qual lado o megainvestidor se posicionaria? Ele tem sabidamente uma abordagem de longo prazo e, evidentemente, para esse exercício de ficção que estou aqui a propor, o mercado de commodities tem características bem diferentes do mercado acionário que impedem posicionamento de longuíssimo prazo. Mas, vamos lá.

No final de 2016, quando o açúcar em NY negociava muito próximo dos 24 centavos de dólar por libra-peso, para nós era claro que o preço negociado estava acima do valor do ativo. Commodities que negociam, como era o caso do açúcar naquele período, extraordinariamente acima do custo de produção sem que haja alguma ruptura na oferta e demanda do produto, estimulam a produção até o ponto em que os preços entram em equilíbrio com o valor do produto. No último trimestre de 2016, olhando para os preços que o mercado futuro apontava para 2018/2019 (todos acima de 16.50 centavos de dólar por libra-peso), era para vender tudo que desse, pois naquele momento preço estava acima do que o produto valia. Mas isso já é história.

O que vemos hoje no mercado de açúcar é uma situação em descompasso com o futuro que se avizinha. O preço do açúcar no mercado futuro em NY reflete uma situação momentânea (já explico) que desvaloriza o produto para muito aquém do seu valor. Não é comum que o mercado internacional negocie tão abaixo do custo de produção do mais competitivo produtor, pois o efeito disso é o oposto daquele mencionado do parágrafo anterior. Desestímulo na produção, falta de cuidados culturais, enxugamento nos investimentos, atraso na expansão e por aí vai. Mas, ainda assim, por que isso ocorre?

Abaixe o App
Junte-se aos milhões de investidores que usam o app do Investing.com para ficar por dentro do mercado financeiro mundial!
Baixar Agora

Nem vamos mencionar o superavit mundial pois esse está há muito fatorado nos preços. O custo de produção de açúcar no Centro-Sul, está num intervalo que vai de 42 até 49 reais por saca, posto usina, sem custo financeiro nem depreciação, ou seja, basicamente o custo caixa. Tomando por base o dólar médio dos últimos trinta dias, o custo de produção no Centro-Sul está entre 11.30 e 13.00 centavos de dólar por libra-peso FOB Santos, ou seja, a mais eficiente usina do país não consegue vender açúcar com margem de lucro no nível atual de preço do fechamento de NY.

Assim como o mercado acionário estressa em situações de pânico político e/ou econômico, o mercado de commodities estressa principalmente em rupturas da oferta e demanda. O que tem sido particularmente determinante na derrocada de preços do açúcar, em nossa opinião, é o atraso na fixação de preços por parte das usinas. Até o final de maio, apenas 60,6% das vendas para a safra 2018/2019 estavam fixadas. Há duas safras esse percentual era de 85%. Essa fragilidade potencializou a queda de preços pois as usinas foram forçadas a fixar seus contratos cujos açúcares já estavam prontos para embarcar. Houve flagrante pressão vendedora e ainda há remanescentes desse processo.

Ocorre que essa pressão será em breve desativada pela combinação de três fatores que estão amadurecendo: o primeiro (de curto prazo) é a redução de moagem para esta safra; mesmo as usinas mais eficientes registram queda de 2-3% do volume preliminarmente estimado, as menos eficientes anotam queda de até 10%. Se isso ainda não foi refletido nos preços é porque a cana mais seca (isoporizaçāo) vai ser moída a partir de julho e agosto e vai aparecer nos números da UNICA até a primeira quinzena de setembro.

O segundo (de médio prazo) é que muitas tradings estão pagando ou pagaram açúcar adiantado para as usinas com base no julho (que já expirou) ou no outubro, cuja contrapartida delas é carregá-lo em seus armazéns, gratuitamente, até que as tradings resolvam dispor dele. O spread outubro/março chegou a negociar com um carrego embutido de quase 25% ao ano. Ou seja, há um potencial enxugamento de produto para o último trimestre do ano.

O terceiro, de longo prazo, é que no ano que vem a disponibilidade de cana no Centro-Sul, pelo andar da carruagem, deverá ser menor ainda do que a desse ano (540 milhões de toneladas de cana) e o Brasil vai ter que resolver uma equação que tem de um lado a diminuição da oferta de açúcar e do outro, o aumento do consumo de combustíveis (ciclo otto) e o aumento da frota de veículos leves (e mais de 2.5 milhões de unidades em dois anos descontado o sucateamento). A equação não fecha.

Os três pontos mencionados podem ser potencializados se o preço do petróleo no mercado internacional continuar seu ritmo de alta, se o mix de produção no Centro-Sul mostrar o percentual destinado ao açúcar abaixo de 39% e se os fundos resolverem mudarem o atual posicionamento de vendido para comprado.

A recuperação de valor do açúcar estará comprometida caso tenhamos o abandono da política de formação de preços da Petrobras (SA:PETR4) ou venhamos a eleger um populista néscio como Ciro Gomes, por exemplo.

Enfim, são tantas as indefinições que é compreensível que o mercado aja movido pelo medo. Nesse momento cabe ao trader disciplinado definir se o preço do açúcar hoje tem um valor justo ou se está desvalorizado demais. O que diria Mr. Buffett?

Negociar instrumentos financeiros e/ou criptomoedas envolve riscos elevados, inclusive o risco de perder parte ou todo o valor do investimento, e pode não ser algo indicado e apropriado a todos os investidores. Os preços das criptomoedas são extremamente voláteis e podem ser afetados por fatores externos, como eventos financeiros, regulatórios ou políticos. Negociar com margem aumenta os riscos financeiros.
Antes de decidir operar e negociar instrumentos financeiros ou criptomoedas, você deve se informar completamente sobre os riscos e custos associados a operações e negociações nos mercados financeiros, considerar cuidadosamente seus objetivos de investimento, nível de experiência e apetite de risco; além disso, recomenda-se procurar orientação e conselhos profissionais quando necessário.
A Fusion Media gostaria de lembrar que os dados contidos nesse site não são necessariamente precisos ou atualizados em tempo real. Os dados e preços disponíveis no site não são necessariamente fornecidos por qualquer mercado ou bolsa de valores, mas sim por market makers e, por isso, os preços podem não ser exatos e podem diferir dos preços reais em qualquer mercado, o que significa que são inapropriados para fins de uso em negociações e operações financeiras. A Fusion Media e quaisquer outros colaboradores/partes fornecedoras de conteúdo não são responsáveis por quaisquer perdas e danos financeiros ou em negociações sofridas como resultado da utilização das informações contidas nesse site.
É proibido utilizar, armazenar, reproduzir, exibir, modificar, transmitir ou distribuir os dados contidos nesse site sem permissão explícita prévia por escrito da Fusion Media e/ou de colaboradores/partes fornecedoras de conteúdo. Todos os direitos de propriedade intelectual são reservados aos colaboradores/partes fornecedoras de conteúdo e/ou bolsas de valores que fornecem os dados contidos nesse site.
A Fusion Media pode ser compensada pelos anunciantes que aparecem no site com base na interação dos usuários do site com os anúncios publicitários ou entidades anunciantes.

Sair
Tem certeza de que deseja sair?
NãoSim
CancelarSim
Salvando Alterações