O Temor da Greve Geral

 | 27.04.2017 10:41

A sinalização de que a greve geral, convocada para esta sexta-feira, pode ser bem maior do que a prevista anteriormente pelo governo, tem contribuído para aumentar o clima de tensão no mercado, dificultando a manutenção do nível de tolerância verificado nos últimos meses.

Temer está subestimando os efeitos negativos de sua baixa popularidade e disparada da taxa de desemprego, o que, somado ao clima de total repúdio à classe política, cria um barril de pólvora prestes a explodir a qualquer momento. A pressa para aprovar as reformas trabalhista e previdenciária pode ser considerada um erro estratégico até o momento, pois certamente aumentou a desconfiança de boa parte da população e, consequentemente, está estimulando mais setores da sociedade civil a participarem das manifestações.

O que seria um protesto de viés à esquerda está se tornando num novo ato de revolta mais abrangente, pois está incorporando pessoas e setores com diferentes motivações políticas e ideológicas. Contribui para o aumento da adesão às manifestações as delações da Odebrecht ainda frescas nas mentes das pessoas, que afetam em cheio o governo Temer e sua base.

O deputado federal Paulinho da Força, do partido SD, que por sinal integra a base do governo Temer, é justamente um dos organizadores da greve geral. Outro partido da base, o PSB, fechou questão contra a reforma trabalhista e previdenciária, com previsões de punições aos que não seguirem a orientação.

As duas reformas são extremamente relevantes, mas a propaganda do governo não tem funcionado e a forma como os temas tem sido tratados no Congresso e na própria mídia dificulta o entendimento e a aceitação por parte da população.

Para conseguir aprovar o texto-base da reforma trabalhista na Câmara, por 296 votos a favor e 177 contra (superior a maioria simples necessária de 257 votos), o governo teve que ceder em alguns pontos, como de costume. A votação de hoje é encarada pelo mercado como grande teste à reforma da previdência, que precisa de pelo menos 308 votos para ser aprovada.

Mesmo empenhando máximo esforço na articulação, o governo não conseguiu alcançar os simbólicos 308 votos necessários. Chegou perto, mas ainda não demonstra possuir base forte e unida para vencer na reforma da previdência, que por sinal é mais problemática e impopular. Além disso, o governo ainda precisaria de uma margem de gordura (ou segurança), pois clima no Congresso nas próximas semanas pode azedar de vez, a depender do desfecho das manifestações desta sexta-feira em várias cidades do País.

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