O Tempo Não Para

 | 20.05.2020 11:06

 My story isn't pleasant, it's not sweet and harmonious like the invented stories; it tastes of folly and bewilderment, of madness and dream, like the life of all people who no longer want to lie to themselves.”

Minha história não é agradável, não é doce nem harmoniosa como as histórias inventadas; ela tem gosto de insensatez e desorientação, de loucura e sonho — como a vida de todas as pessoas que não aguentam mais mentir para si mesmas.”

Hermann Hesse

Eu já fiz front running com as ações da Marfrig (SA:MRFG3). Curiosamente até, fui suspeito de denunciação caluniosa — o termo não estava na moda à época. 

Tive um sócio oculto por muito tempo, que apenas fingiu ter saído da nossa companhia vários anos antes.

Depois, virei terrorista, atentando contra as eleições presidenciais e estimulando a evasão de divisas. Num grande esquema montado junto ao Google (NASDAQ:GOOGL) e ao PSDB, vendi minhas opiniões em troca do dinheiro do então candidato a presidente Aécio Neves, no que me rendeu processo movido pela ex-presidente da República — essa última parte é verdade. No final, colecionei dois processos de ex-presidentes no meu currículo. A tese resultou num livro, eleito por votação popular na Livraria da Folha o melhor do ano em 2014 —, mas também essa votação foi um grande esquemão, uma marmelada organizada num conchavo com a família Frias.

Escrevi outra obra literária de importante sucesso de crítica, batizada “Manual do Cocaleiro”, em que eu ensinava as pessoas a cheirar cocaína.

Também me engajei em adjetivos como marqueteiro, agressivo, chato, repetitivo — falados por pessoas altamente capacitadas e que me conhecem super de perto, que viram aquele personagem no YouTube e, em 15 segundos, foram capazes de formar, de maneira muito bem embasada, sua opinião sobre a minha personalidade. Até comparações com o nazismo vieram de um apresentador de esquerda, contra os financistas da Faria Lima, porcos capitalistas, exploradores. 

Num famoso episódio, defendi enfática e publicamente uma menina muito competente, inteligente e trabalhadora, só porque eu tinha a intenção de transar com ela. 

Mais recentemente, recomendei a venda do Ibovespa a 62 mil pontos (embora os registros oficiais, devidamente publicados e documentados, indiquem que a única movimentação feita nesses níveis foi de sugerir a compra de BOVA11 (SA:BOVA11), recompondo parte da posição previamente vendida dias antes, como forma exclusiva de proteger uma parcela de nossa carteira comprada; acho que o João Piccioni fez a mínima nesta crise).

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E, para coroar minha ficha criminal, agora estou envolvido num esquema mais amplo e sofisticado, que contempla a intenção de derrubar um presidente e a publicação de notícias contrárias à Bolsa brasileira num importante veículo de imprensa local, por sinal acompanhado de perto pelo próprio Jair Bolsonaro. 

Eu vendo as ações na frente e, na sequência, consigo empurrar a publicação, imediatamente. Mais curioso ainda: a arquitetura da coisa é tão sofisticada que nem importa se a notícia é originalmente escrita pelo Antagonista. Se o site está apenas replicando uma notícia do Estadão ou da Folha, numa espécie de clipping, também foi algo plantado, por mim, claro. Cada país tem o Rupert Murdoch que merece! Não sei como isso se encaixa com a exposição líquida comprada (não vendida) que temos em Bolsa, mas segue o jogo.

“Te chamam de ladrão, de bicha, maconheiro.” Uma pena que assim não se ganha mais dinheiro. 

Não adianta culpar a imprensa por publicar notícias que desagradem suas posições em Bolsa. Vale (SA:VALE3) o lembrete: num país em profunda recessão, em crise política e com a medalha de bronze em casos de Covid-19, o mais natural seria mesmo esperar a predominância de notícias negativas na imprensa. Lembrete 2: entre as funções essenciais da imprensa, está uma postura mais crítica, não de aplausos e apoio ao establishment. O viés investigativo e contrário é da natureza da profissão. O jornalismo não é um palco de teatro. 

Às vezes, acho que não posso muito com esse mundo das redes sociais. Ele gosta do Gustavo Lima e da Marília Mendonça, que eu mal sei quem é — fui consultar os universitários. Para alguém cujos ídolos eram Ayrton Senna, Gustavo Kuerten, Gustavo Borges, Fernando Scherer, Mike Tyson, Michael Jordan, Carl Lewis Neto, Romário e Ronaldo, confesso alguma decepção. 

Bicho, eu gosto do Belchior e, aconteça o que acontecer, no fundo eu vou ser sempre um rapaz latino-americano, sem amigos importantes. “Nunca mais meu pai falou: She's leaving home. E meteu o pé na estrada, like a rolling stone” — onde é que há gente nesse mundo? Onde é que estão os homens de verdade, cujo silêncio assusta mais do que o grito dos corruptos, dos violentos, dos desonestos, dos sem caráter, dos sem ética.

Uma pessoa que, como eu, vive de opiniões só as tem a oferecer — por definição, ela vai cobrar por isso. Nada mais. E essa opinião precisa ser dita ainda que venha a desagradar grupos de interesse, torcedores fanáticos e fundamentalistas religiosos, incapazes de perceber que a cloroquina não é deus nem o diabo na terra do sol.

Conseguimos conceber que as coisas não são tão maniqueístas assim? Existe a possibilidade de uma avaliação um pouco mais sofisticada e profunda, fora do completo otimismo ou inteiro pessimismo? Quando vão perceber que um mundo cheio de dúvidas, riscos e pouca visibilidade impede a calça de veludo e também a bunda de fora? Compra tudo, vende tudo? Diversificação, inclusive internacional, gestão de riscos, proteções, dilatação do horizonte temporal, redução do nível de risco do portfólio, melhora do Sharpe — onde foram parar esses conceitos? 

(Deveria ser óbvio, mas melhor esclarecer, vai que… os fatos narrados nos primeiros parágrafos deste texto não correspondem à verdade, em nenhuma instância.)

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