Olhando a Economia Global

 | 13.05.2013 11:02

Vamos dar um tempo sobre os desencontros da política econômica brasileira e foquemos nossas atenções nesta semana sobre o comportamento da economia global. Esta, aliás, é a principal preocupação do BACEN, a partir das justificativas da ata e do comunicado do COPOM em abril. Disse ele que uma postura cautelosa se faz necessária, principalmente pelas incertezas externas.

Sobre a Zona do Euro, as projeções indicam mais um ano de recessão. O FMI, por exemplo, projeta retração de 0,3% neste ano, com uma janela de recuperação de 1,1% no ano que vem, desde que os ajustes em curso não tenham tanto impacto sobre a demanda agregada. Este, aliás, é um ponto crucial no debate em curso: como compatibilizar a retomada da região com ajuste fiscal? Cresce a tese de que “doses excessivas do remédio estão matando o doente”. Ou seja, programas de corte de gastos e aumento de impostos estão jogando a região num ciclo recessivo de difícil solução. Na Espanha e na Grécia o desemprego já passa dos 26% da PEA e na Zona do Euro beira os 12%, com a Alemanha sendo exceção, registrando desemprego em torno de 6,2% da PEA.

Decorrente disto, no encontro de primavera do FMI, ao fim do mês passado, era opinião corrente a defesa de programas de austeridade mais amenos, prazos de maturação mais longos, de forma a dar aos países tempo suficiente para conseguir impulsionar o consumo e a renda, sem deixar de ajustar suas contas públicas. O FMI, inclusive, está defendendo a redução da dívida de médio prazo, rodadas de ajustes estruturais e “recalibragem dos ajustes”. As políticas fiscais devem evitar ser pró-cíclicas, com ajustes em momento de fraqueza econômica, mas sim anticíclicas, na qual se aumenta a poupança em momentos de prosperidade, para serem usadas em fases de crise aguda, como a que se observa na Zona do Euro.

Na figura-mapa a seguir, aliás, verificamos os países periféricos, como Portugal, Chipre, Grécia e Itália, com dívidas muito altas, de difícil rolagem, acima de 100% do PIB; França, Alemanha e Espanha, em patamares um pouco menores, mas não menos preocupantes e outros países de fora da Zona do Euro com situações fiscais melhores.

Figura-Mapa

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Observa-se que a Alemanha registrou uma piora fiscal nos últimos meses pela necessidade de socorrer outros países da região, o que vem desgastando um pouco o governo da primeira ministra Ângela Merkel. Isto, inclusive, foi um ponto discutido no socorro ao Chipre, condicionado por um forte ajuste interno, com taxação sobre operações bancárias, a principal fonte de recursos desta pequena ilha.

A Alemanha, aliás, é um caso à parte na região, por já ter realizado suas reformas estruturais, por ocasião da unificação nos anos 90. Desde então observa-se ganhos de produtividade crescentes na Alemanha, bem maiores do que de outros países membros da Zona do Euro. Os que fizeram reformas na previdência, trabalhista e tributaria, são hoje muito mais competitivos do que outros, que sempre as adiaram, muitas vezes por conveniência política de momento. Devemos frisar que os modelos nórdicos são um caso à parte, estes sim, com a consolidação de uma boa política de bem-estar social.

Nos EUA, o cenário é um pouco menos nebuloso, mas ainda sujeito a solavancos, dado ao gatilho fiscal acionado a partir de março, impactando a renda e consumo dos norte-americanos. Segundo o FMI, o crescimento neste ano deve ficar em torno de 1,9%, em função desta consolidação fiscal, que deve representar 1,7% do PIB, a maior em 30 anos, mas em 2014 observa-se um “desanuviamento”, com o crescimento podendo chegar a 3%.

Neste caso, observa-se uma forte diferenciação entre os EUA e a Zona do Euro. Por serem economias diferentes, a primeira com mercados mais flexíveis e adaptáveis e a segunda, lenta, rígida e de difícil capacidade de ajuste. Somado a isto, nos EUA sua política monetária vem sendo bem mais agressiva do que na Europa. Na semana passada, o Fed decidiu por manter a política de compra de títulos, no montante de US$ 85 bilhões e o juro próximo a zero. Reflexo disto, o desemprego recuou um pouco, a 7,5% da PEA e a geração de empregos deu uma melhorada, mesmo que ainda moderada, a exemplo da retomada da economia. Observamos também que o consumo privado, motor da economia norte-americana, vem avançando com força, tendo até sustentado o crescimento do PIB no primeiro trimestre, 2,5% anualizados, enquanto que na Zona do Euro o contrário acontece.

Por lá, como os mercados são muito mais rígidos, pelos excessos do welfare state, o desemprego segue bem mais alto e o crescimento pífio. Na mesma toada do Fed, na semana passada o BCE anunciou corte de juros em 0,25 ponto percentual, agora a 0,5% anuais. Os indicadores da economia, porém, não mostram capacidade de reação, dado o alto desemprego e endividamento das famílias. Tem-se na Zona do Euro a chamada “armadilha de liquidez”, termo cunhado por Lord Keynes para designar aquelas economias paralisadas pela perda de confiança dos agentes, receosos de se endividar dado o fantasma do desemprego e a perda de confiança das ações governamentais.

Na Ásia, observamos a China e o Japão em momentos bem peculiares. A primeira segue ajustando seu modelo de crescimento, mais focado no consumo interno e nos investimentos em infraestrutura, o surgimento de grandes cidades e uma classe média mais demandante. Com a crise na Zona do Euro, cerca de 30% das exportações chinesas foram afetadas, forçando o país a se voltar mais para dentro, para o consumo doméstico e menos para o exterior. Neste contexto, estamos orientando nossas projeções para um crescimento mais próximo de 7,0% a 7,5% do que os 8% previstos pelo FMI, como visto na tabela ao fim.

Sobre o Japão, o agressivo programa de compra de títulos e injeção de liquidez tem por meta acabar com a deflação crônica do país, tentando estimular o crescimento. Ainda é cedo para um diagnóstico, mas o FMI está projetando um crescimento maior para o Japão neste ano, em torno de 1,6%, mesmo sabendo da situação fiscal delicada. Na terra do “sol nascente”, a dívida pública passa de 200% do PIB.

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