A Líbia Pode Ser Apenas o Primeiro dos Problemas que a Opep Terá pela Frente

 | 25.09.2020 10:03

Publicado originalmente em inglês em 25/09/2020

“Alegrem meu dia”, disse o ministro de energia da Arábia Saudita, Abdulaziz bin Salman, também conhecido como AbS, na semana passada, a todos os que estavam apostando contra a Opep e a alta dos preços do petróleo.

Mas ele não contava com o homem forte das forças armadas da Líbia, Khalifa Haftar.

Horas depois de AbS e seus colegas encerrarem uma conferência via Zoom no dia 17 de setembro, o general Haftar, que travou uma longa guerra contra o governo de Trípoli reconhecido pela ONU, anunciou um acordo de paz que pode abrir as portas do mercado para um volume muito maior de petróleo líbio.

Mais cedo naquele dia, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo celebrou seu 60o aniversário e realizou uma coletiva de imprensa presidida por AbS.

No evento, todos os 13 membros da Opep prometeram produzir apenas o volume permitido ou até mesmo ficar abaixo das suas cotas, se necessário, para compensar as transgressões passadas. A ideia era manter a oferta abaixo da demanda e os preços do petróleo acima de US$ 40 por barril para financiar as economias dependentes da commodity, que estavam sem caixa por causa da pandemia de coronavírus. Evidentemente exceções tácitas se aplicavam à Arábia Saudita, líder do cartel, e à Rússia, que ajuda a conduzir o grupo mais amplo Opep+. Esta aliança abrange os membros originais do cartel e mais 10 países externos produtores de petróleo.

Um general pode estragar tudo

Haftar, que não estava na reunião, pode estragar os planos da Opep.

Desde quinta-feira, os terminais petrolíferos da Líbia em Hariga, Brega e Zueitina estavam abertos para negócios e recebendo navios-tanque para transportar petróleo, se bem que o maior porto responsável por escoar a produção do principal campo petrolífero do país ainda estivesse sob força maior.

A National Oil Corp, estatal do país norte-africano, afirmou que espera aumentar a produção para cerca de 260.000 barris por dia (bpd) até a próxima semana. Antes da liberação dos seus portos e campos petrolíferos pelas forças de Haftar no fim da semana passada, o país produzia apenas 100.000 bpd.

A produção total da Líbia pode atingir 550.000 bpd até o fim do ano e cerca de um milhão de bpd até meados de 2021. Isso tudo de um país que não exportava um único barril desde janeiro, devido à guerra civil declarada por Haftar. No pico de 2008, a Líbia produziu cerca de 1,8 milhão de bpd.

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A mudança da dinâmica do mercado pode forçar a Opep a refazer seus planos em vista de toda essa nova e inesperada oferta.

À guisa de contexto, a promessa da Opep de cortar 9,6 milhões de bpd desde maio foi responsável por fazer os preços do petróleo americano saírem da mínima história a -US$ 40 por barril em abril para a máxima de cinco meses de US$ 43,77 em agosto. 

Entusiasmada com o firme comportamento dos preços nos últimos quatro meses, a Opep decidiu reduzir seus cortes em 2 milhões de bpd neste mês, assumindo que o mercado não sofreria um crash, à medida que as economias continuam se recuperando dos distúrbios da covid-19. O alerta de AbS aos ursos do petróleo de que tornaria a vida deles “um inferno” se tentassem ficar vendidos a descoberto no mercado foi a parte principal de um campanha calculada para defender os preços.

Para os traders do petróleo, o que importa são os barris, e não a tática do medo

Mas as centenas de milhares de barris adicionais singrando os mares a cada mês podem fazer com que os traders de petróleo se sintam mais convencidos com o volume das cargas registrado pelos rastreadores de navios-tanque do que com a tática do medo empregada por AbS. Para a sorte da Opep, a dinâmica na Líbia não pesou muito sobre o WTI ou o Brent na última semana. Mas pode ser apenas uma questão de tempo para que a pressão sobre eles se renove.