Os Bancos Realmente Têm Algo a Temer com o Brexit?

 | 18.09.2017 16:21

por Jason Martin

À medida que a quarta rodada de negociações do Brexit, prevista para 25 de setembro, se aproxima, o volume de queixas surgindo nos setor de serviços financeiros a respeito da ausência de progresso está crescendo. Isso faz sentido. Até que o Reino Unido e a União Europeia assinem seus acordos comerciais, bancos operando na região não são capazes de avançar em estratégias para suas próprias atividades multinacionais.

Os preços das ações de bancos e a opinião pública sobre o valor de Londres como centro financeiro mostram claramente quem em todas as probabilidades, boa parte disso tudo é "ruído" político. Como discutiremos, o impacto das decisões políticas sobre o relacionamento futuro entre o Reino Unido e a União Europeia terá pouco, se é que haverá algum, impacto no setor bancário e nossas descobertas sugerem que seria melhor que os investidores se concentrassem em outras considerações.

h3 Brexit: Negociadores continuam a discordar/h3

Negociadores da União Europeia insistem que antes do início das negociações sobre as relações comerciais, tópicos cruciais como os direitos dos cidadãos, o pagamento do Reino Unido em sua partida e a discussão sobre a fronteira irlandesa devem ser tratados.

Contudo, mesmo após a terceira rodada de negociações concluída no final de agosto, os negociadores do Brexit pareciam não conseguir sequer chegar a um acordo se qualquer progresso havia sido feito.

"Não fizemos qualquer progresso decisivo quanto aos principais assuntos", afirmou Michel Barnier, negociador-chefe da União Europeia para o Brexit, no final das últimas negociações, embora ele tenha reconhecido que as discussões sobre a fronteira irlandesa foram "frutíferas".

Por outro lado, David Davis, negociador britânico e secretário de Estado do Reino Unido para saída da União Europeia, declarou que ambas as partes fizeram "progressos concretos".

A diferença óbvia de opinião naturalmente faz qualquer um se perguntar se Barnier e Davis estiveram de fato na mesma reunião, já que eles negociaram os termos da saída do Reino Unido da União Europeia, deixando os bancos em um estado constante de incertezas antes de importantes decisões sobre como progredir em suas estratégias para o Brexit.

h3 Bancos em um limbo estratégico/h3

"Diante da falta de clareza sobre as futuras relações entre União Europeia e Reino Unido, participantes do mercado estão tendo que tomar importantes decisões em meio a incertezas consideráveis", alertou em um relatório recente a Associação de Mercados Financeiros na Europa (AFME, na sigla em inglês), que se define como a "voz dos mercados financeiros de atacado da Europa".

Abaixe o App
Junte-se aos milhões de investidores que usam o app do Investing.com para ficar por dentro do mercado financeiro mundial!
Baixar Agora

Em conjunto com a UK Finance, que representa quase 300 das principais empresas que oferecem serviços financeiros, bancários, de mercado e relacionados com pagamentos dentro do Reino Unido ou a partir deste país, a AFME publicou um documento conjunto com sugestões para as autoridades britânicas e europeias sobre como lidar com as questões que estão surgindo com o Brexit.

"As incertezas contratuais em contratos transnacionais após o Brexit precisam ser abordadas rapidamente por todas as partes para evitar impactos danosos aos consumidores em ambos os lados do Canal da Macha", afirmou Steven Jones, diretor-executivo da UK Finance.

"Essa questão é abrangente e não se limita apenas aos bancos, afetando também produtos transnacionais e serviços transacionais de pagamentos, de seguros e de gestão de investimentos", acrescentou ele.

"Estima-se que 1,3 trilhão de euros (US$ 1,56 trilhões) de ativos bancários do Reino Unido estão relacionados com a provisão transnacional de produtos e serviços financeiros, muitos dos quais dão apoio às empresas exportadoras da União Europeia que são importantes mobilizadoras de crescimento", Simon Lewis, diretor-executivo da AFME, especificou.

Ambos os especialistas sugeriram que esclarecer essas questões é algo "crítico".

No cerne do problema estão exatamente essas "incertezas contratuais" com bancos globais sem detalhes sobre o que será exigido a eles para continuarem em suas atividades como de costume, se é que isso será possível.

Enquanto as manchetes são inundadas com informações sobre bancos estabelecendo planos de contingência que incluem a mudança de alguns empregados para Frankfurt ou Dublin, conforme informações do início desse mês, menos de 10 de aproximadamente 40 bancos que realizam atividades da União Europeia fora de Londres apresentaram, até agora, pedidos formais de licença para continuarem com atividades bancárias no bloco após a saída do Reino Unido.

Entre essas 40 instituições financeiras que realizam negócios na União Europeia e possuem sede em Londres, há bancos britânicos e bancos de investimento norte-americanos, juntamente com alguns grupos menores tanto da Ásia quanto do Oriente Médio, de acordo com Sabine Lautenshlaeger, vice-presidente na divisão de supervisão de bancos do Banco Central Europeu.

Em algumas situações, como no caso do Barclays (NYSE:BCS), do Citigroup (NYSE:C), do HSBC (NYSE:HSBC), do JP Morgan (NYSE:JPM) e do State Street (NYSE:STT), suas subsidiárias em Londres já são grandes o suficiente para serem supervisionadas diretamente pelo BCE, embora questões permaneçam exatamente quanto a qual permissão, se houver, eles precisarão ter se optarem por expandir suas operações ao Continente.

Entre os bancos britânicos, o próprio Barclays anunciou planos de assegurar uma licença ampliada para sua subsidiária na Irlanda, ao passo que o Royal Bank Scotland (NYSE:RBS) supostamente estaria negociando com reguladores holandeses sobre a transferência de parte de sua equipe de se suas atividades para a já existente subsidiária na Holanda. O Lloyds (NYSE:LYG) e o Standard Chartered (LON:STAN) já indicaram que poderiam apresentar pedidos formais antes do fim do ano.

Mesmo que a data limite do Brexit não seja antes de março de 2019, o pedido de uma licença bancária para um órgão regulador de um estado membro da União Europeia e para o BCE pode levar de seis a doze meses ou ainda mais caso haja uma precipitação de pedidos.

A quarta rodada de negociações entre Reino Unido e União Europeia foi adiada em uma semana e agora acontecerá em 25 de setembro por conta de um discurso a ser feito por Theresa May, primeira-ministra britânica.

De acordo com um porta-voz de May, a primeira-ministra fará um discurso em 22 de setembro em Florença, Itália, para destacar os tipos de vínculos que a Grã-Bretanha deseja ter com a União Europeia após deixar o bloco, preparando o cenário para discussões na sequência.

A quinta rodada de negociações foi provisoriamente agendada para 9 de outubro, ocorrendo apenas dez dias antes da reunião de cúpula de dois dias da União Europeia.

Rompendo com a linha dura dos negociadores da União Europeia, informações que surgiram no final de agosto sugerem que diplomatas franceses estariam pressionando o início de negociações comerciais com a Grã-Bretanha já em outubro.

Nesse sentido, a iminente reunião de cúpula da União Europeia poderá servir como um ponto crucial para os políticos da região reconsiderarem suas posições quanto a esse assunto, embora observadores mais céticos apontam para a atual falta de progresso e sugerem que a próxima reunião de cúpula em meados de dezembro seria um cenário mais provável para o início de negociações sérias.

h3 Londres permanece como principal centro financeiro, ações do setor bancário não são punidas/h3

Deixando tudo isso de lado, pouco impacto foi visto tanto na situação de Londres como o centro financeiro classificado como número um do mundo ou em preços de ações do setor bancário em geral.

Na 22ª edição da Z/Yen da classificação de centros financeiros de todo o mundo, conhecida como GFCI 22, Londres continuava a manter o primeiro lugar contra 107 concorrentes.