Por que os mercados sentem a pressão do descalabro fiscal

 | 11.11.2022 14:11

Chegamos ao final da segunda semana pós-segundo turno, e o mercado passa a precificar de forma mais objetiva as perspectivas fiscais do governo eleito. A sinalização recente provocou forte reação dos ativos financeiros, pois as notícias veiculadas em relação à PEC de Transição indicam (i) uma conta elevada a ser paga e (ii) um aumento substancial dos gastos permanentes do governo. Ao mesmo tempo, a falta de indicação sobre quem ocupará o Ministério da Fazenda reforça a tese de que o projeto para substituição do arcabouço fiscal do novo governo segue sem dono. Ou seja, uma combinação pouco animadora.

O primeiro fator relevante a ser comentado é que política fiscal idealmente tem características anticíclicas. Momentos de força da economia devem ser utilizados pelo governo para aumentar o caixa e se preparar para desaceleração que invariavelmente ocorrerá (basta lembrar que economia é uma sucessão de ciclos). Assim, a autoridade fiscal terá espaço para fazer frente à queda de arrecadação que se relaciona à perda de dinamismo da economia.

A economia brasileira segue dando sinais de que a atividade permanece em patamares sólidos. Ainda que o ritmo tenha desacelerado, caminhamos para sólidos 3% de crescimento de PIB neste ano, junto a um mercado de trabalho que apresenta taxas de desemprego reduzidas se comparado à última meia década.

A perspectiva de gastos adicionais obrigaria o governo a explicitar quais os objetivos do dispêndio e como ele será financiado. Na falta desta indicação, é natural que se espere que a conta seja paga por mais inflação no tempo. Consequentemente, nota-se um forte movimento da curva de juros futuros (a famosa curva DI) para cima, refletindo expectativa de necessidade de mais juros à frente. Por sua vez, mais juros reverberarão necessariamente em menos atividade econômica. Ou seja, menos PIB.

Portanto, se uma métrica relevante para a situação fiscal de um país é a razão dívida/PIB, vemos que, pelo numerador, a fração crescerá por conta de uma dívida mais elevada e juros mais altos para carregá-la. Pelo lado do denominador, o PIB crescerá menos. Assim, ambas as partes da fração mostrarão uma situação fiscal mais delicada.

No limite, esse processo impedirá que o Banco Central se beneficie de uma possível desaceleração da inflação que permitiria executar cortes na taxa Selic contratados para o ano que vem. A sinalização de deterioração fiscal leva evidentemente a uma revisão da perspectiva de política monetária e traz com isso a necessidade de mais juros.

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