André Salmeron | 09.03.2020 11:49
Como havia se fizesse muita besteira ” poderia chegar mesmo a esse patamar. Ao que parece, a moeda americana ignorou a fala e hoje, durante a abertura, ficou a um ponto de atingir o estrondoso patamar de R$4,80.
A economia global está derretendo num ritmo não visto desde a crise de 2008-09, quando os mercados financeiros dos EUA chegaram a flertar com um colapso total, demandando uma intervenção maciça do governo, que injetou trilhões de dólares no sistema. A diferença, contudo, é que naquele caso a situação era inteiramente “humana”: uma série de decisões economicamente irracionais – a aquisição em massa de contratos de dívida de alto risco lastreados no mercado imobiliário dos EUA – corroeu a base de bancos e outras instituições.
Não é o caso do Coronavirus, que é regido apenas pela lei da seleção natural das espécies e cujas mudanças, para o bem ou para o mal, são absolutamente imprevisíveis. Ficando tudo como está, temos um cenário bastante negativo: quarentena em torno da Lombardia , que comporta centros como Milão e Veneza, além de aproximadamente um quarto do país.
Os impactos econômicos daquilo que alguns veículos, South by Southwest (SXSW) , um dos maiores do mundo. Além disso, algumas das maiores empresas do mundo, como Facebook, Amazon (NASDAQ:AMZN) e Google (NASDAQ:GOOGL), pediram aos/às funcionários/as do Vale do Silício (sedes) e Seattle que adotem home office para conter a proliferação do vírus.
Como se não bastasse, leve-se em conta ainda que a Arábia Saudita e a Rússia, dois maiores exportadores de petróleo do mundo, romperam a parceria que, informalmente, chamava-se de OPEC+. A sigla indica a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEC), encabeçada pela Arábia, mais outros países não membros, principalmente a Rússia. Antes, esses países trabalhavam em conjunto para frear ou acelerar a produção de petróleo em função da oferta e demanda. Entretanto, o rompimento do acordo informal levou a nação árabe a abrir a torneira, injetando excesso de oferta no mercado; a Rússia, por sua vez, promete fazer o mesmo, estando caracterizada assim uma guerra de preço : ao longo do fim de semana, o preço do barril chegou a cair 30%.
Isso se sobrepõe, como é importante lembrar, a um cenário global bastante precário: negociações sobre o Brexit estão ainda em aberto, a Guerra Comercial entre China e EUA não foi resolvida, as economias desenvolvidas continuam em desaceleração, porém com pouquíssimo espaço para estímulo monetário, dado que as taxas já estão em território negativo. No Brasil, a saída de capital estrangeiro em 2020 já supera o recorde de 2019 – câmbio baixo, juro alto ”.
O PIB não cresceu e o presidente, literalmente, deu banana para o fato – ou, melhor dizendo, recebeu endosso do Presidente , correndo uma relação já precária com os outros poderes.
Tudo isso, obviamente, joga contra uma recuperação da economia brasileira. Com a taxa de juros baixa, o país não tem quase nada a oferecer. Em suma, o juro oferecido pelo instrumento mais seguro da nossa economia, o título público, não paga em conformidade com o risco de se investir no Brasil – que, diga-se de passagem, coisa que o Brasil, definitivamente, não é .
Com a que mais se desvalorizou frente ao dólar .
Com tudo isso em mente, o provável corte deve terminar de pressionar o dólar ao inédito patamar de cinco reais, algo que não deve demorar muito tempo independente da ação do BC – que, até o momento, fez apenas intervenções pontuais. Em todo caso, a simples injeção de dólares abaixo do preço de mercado, sem que o problema estrutural da desvalorização do real seja solucionado, não faz muita diferença: na prática, grandes instituições compram a moeda com a confiança de que o preço voltará a subir – como de fato vem ocorrendo há meses.
Do ponto de vista técnico, o indicador ATR (average true range), que mede a volatilidade ou grau de oscilação dos últimos 14 pregões, aponta cerca de 59 pontos por sessão. Com o preço fechando em R$4,70 seriam apenas 30 pontos ou, por alto, cinco sessões de valorização seguidas para rompermos esse novo patamar de desvalorização do real – que equivaleria a menos de 20 centavos de dólar. Considerando que, entre o fechamento de sexta e a abertura de hoje o dólar já se valorizou aproximadamente 2,5%, não me parece surreal – na atual conjuntura do Brasil – que os cinco reais sejam rompidos até o fim desse mês.
Sobre o autor: André Salmerón é jornalista, investidor e pesquisador na área de análise do discurso, com ênfase em economia e sociedade.
Contato: afsalmeron@gmail.com
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