Para Trump, Vitória na Guerra Comercial Significa Petróleo Barato e Juros Menores

 | 06.08.2019 14:45

Será que Donald Trump está vencendo a guerra comercial contra a China, pelo menos do ponto de vista das commodities?

Pode parecer que essa questão seja prematura – ou mesmo estranha –, considerando que a China acaba de desvalorizar sua moeda. Provavelmente seja necessário um intervalo de tempo bem maior para dizer se o governo Trump está se saindo bem nas ofensivas contra Pequim, ainda que o impacto de suas ações no mercado norte-americano nas últimas 24 horas tenha sido nada menos que um desastre.

Mesmo assim, analisando o cenário do ponto de vista das commodities, é lícito fazer essa pergunta, pois o presidente dos EUA parece estar conseguindo pelo menos uma coisa que ele tanto quer neste momento: petróleo (mais) barato.

Sem dúvida, um prêmio maior pode estar à espera de Trump, se a reação adversa do mercado cambial e acionário diante da guerra comercial persistir e os temores de uma recessão aumentarem: O Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) pode ser forçado a realizar um segundo corte, possivelmente maior, no próximo mês para fazer frente ao movimento do iuane chinês . Mesmo os defensores mais fervorosos do presidente, como o conhecido comentarista dos mercados de energia, Phil Fynn, acreditam que a tarifa de 10% imposta por Trump às importações chinesas a partir de 1 de setembro tem por objetivo forçar uma ação do Fed.

Isso porque não é segredo para ninguém o tamanho do aborrecimento do presidente com o modesto corte de 25 pontos-base anunciado pelo Fed em 31 de julho. Embora muitos esperassem um corte de 50 pontos-base na semana passada, não estava fora de cogitação que o presidente poderia forçar um corte de um ponto percentual do banco central no curto prazo, com base na desmesurada pressão que ele tem exercido sobre o presidente da instituição, Jerome Powell.

Mas Powell praticamente fechou as portas para mais cortes pelo resto do ano, ao descrever a ação da última semana como um “ajuste não recorrente de meio de ciclo”. “Como sempre, Powell nos decepcionou”, tuitou o presidente americano após o corte de 25 pontos-base. Na segunda-feira, os Estados Unidos acusaram a China de “manipulação cambial”, elevando a pressão por um afrouxamento do Fed. Trump também direcionou seu tuíte a Powell, perguntando: “Está ouvindo, Federal Reserve? Essa é uma grande violação que enfraquecerá enormemente [o iuane da] China com o tempo!".

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Rali das commodities agrícolas vs. preços menores do petróleo

Outro corte do Fed certamente impulsionaria os preços das matérias-primas, além das ações, obviamente, o que teoricamente seria positivo para as commodities. Mas será que o presidente realmente deseja um rali nas commodities? Sem dúvida, os preços da soja norte-americana poderiam se estabilizar e até mesmo subir no caso de um corte de juros. Apesar do anúncio da China, na segunda-feira, de que iria congelar as importações agrícolas dos EUA, os preços da soja em Chicago, que inicialmente caíram 1,6%, atingindo as mínimas de junho, acabaram se recuperando e fecharam perto da estabilidade. A ideia de um corte iminente, e talvez mais profundo, por parte do Fed ajudou na recuperação. Novamente, em teoria, isso é positivo para Trump, já que 80% dos agricultores na zona central do país votaram nele nas eleições presidenciais de 2016. E se conseguirem preços mais altos para seus produtos, sem dúvida será melhor para ele ao invés de assinar cheques de bilhões de dólares em subsídios para garantir os votos desses eleitores novamente em 2020.

Portanto, apesar de a recuperação do mercado agrícola ser favorável a Trump, quem conhece bem o presidente também sabe que ele é apaixonado por outra commodity: o petróleo.

A história já mostrou que os preços altos do petróleo não são nada bons para um presidente que busca reeleição, e Trump está a 15 meses da candidatura ao seu segundo mandato.

Em uma coluna escrita no ano passado, o analista de energia da Reuters, John Kemp, observou que a elevação dos preços do petróleo norte-americano desde patamares abaixo de US$ 30 por barril, em fevereiro de 2016, para mais de US$ 70, em julho de 2018, impulsionou as economias do Texas, Oklahoma, Dakota do Norte e outros estados produtores. mas Kemp também observou que a maioria desses estados era fortemente republicana. O analista complementou:

“Por isso, o presidente está dando tanta atenção ao impacto danoso dos preços mais altos do petróleo e da gasolina nos consumidores dos estados indecisos.”

Por várias vezes no passado Trump expressou sua insatisfação com a forma como os preços e a produção de petróleo eram controlados pela Opep, que, aliás, estendeu até março de 2020 seu compromisso de cortar a produção normal em 1,2 milhão de barris por dia (mbpd).

Petróleo mais barato pela frente?

Mas, ao manter as relações comerciais com a China em constante mudança, o presidente, de forma incomum, consegue os preços mais baratos que deseja para o petróleo e a gasolina nas bombas.