Petróleo, Disputa e Atuação dos EUA: Contrastes Entre 1986 e 2020

 | 09.04.2020 15:31

Os principais players da indústria mundial do petróleo estão se movimentando diante da crise imposta pela pandemia do coronavírus Covid-19, intensificada, no início de março, com o fim do acordo do corte de produção entre Arábia Saudita e Rússia no grupo denominado Opep+, que reúne membros da Opep com produtores independentes.

A geopolítica do petróleo, do ponto de vista teórico, é caracterizada por uma rede intrincada de atores em disputa. Esses conflitos ocorrem entre países produtores e consumidores na apropriação da renda e na definição de preços; entre companhias de exploração e países que hospedam essas operações na definição dos contratos; entre os próprios países produtores na disputa por uma fatia maior do mercado; assim como na disputa entre companhias estatais e internacionais por posições de destaque na hierarquia de decisões do mercado. Nessa rede, se confundem os limites entre as empresas que de fato atuam na indústria, e os Estados nacionais que buscam defender seus interesses do ponto de vista da segurança energética e do abastecimento interno.

Nesse contexto, Arábia Saudita e Rússia protagonizam a disputa mais recente, com intermediações dos Estados Unidos. O presente artigo busca mostrar que a intermediação americana atende a objetivos específicos e não é inédita na história do petróleo.

Para isso, primeiro é apresentado o cenário atual. Posteriormente, é feito um resgate da atuação americana durante a crise de oferta em 1986 - denominada em inglês como "oil glut". Por fim, contrapõem-se as evidências históricas com a conjuntura contemporânea.

h2 Cenário em abril de 2020/h2

O cenário atual é complexo e carregado de incerteza. Pelo lado da oferta, destaca-se a disputa entre Arábia Saudita e Rússia. Já pelo lado da demanda, a China, maior importador de petróleo do mundo, reduziu drasticamente sua margem de consumo, seguida, concomitantemente, da paralisação econômica mundial oriunda das medidas de isolamento.

Ambos fatores levaram o preço do petróleo, que já manifestava uma tendência de baixa nos últimos anos, para mínimos históricos (gráfico 1).