Pode isso, Arnaldo?

 | 17.03.2014 11:07

Enfim, o socorro

Passei o M5M de ontem sentado à porta de uma sala de reunião. Estava de fora, e a porta fechada. Tanto esperei que ela se abriu.

A novidade não veio da praia. Muito pelo contrário, veio de Brasília: o esperado socorro às distribuidoras de energia enfim foi anunciado.

Serão R$ 12 bilhões para pagar a conta das térmicas, em duas tranches:

1) O Tesouro colocará R$ 4 bilhões no CDE, fundo que vem bancando os custos das distribuidoras desde o ano passado;

2) A CCEE (Câmara de Comercialização de Energia Elétrica) tomará R$ 8 bilhões emprestado e repassará às distribuidoras.

Com o Brasil hexa e depois que as eleições tiverem passado, a partir de 2015, as distribuidoras repassarão o custo ao consumidor.

Voltando à velha pergunta: quem vai pagar a conta?

A outra reunião

Ahh, a outra reunião da véspera segue em impasse. Aquela da S&P com membros do governo. Traduzindo: ainda estamos no escuro quanto à redução ou não da nota de classificação de risco brasileira.

Reuniões paralelas, interesses comuns...

Essa reunião do rating tinha como principal argumento a meta fiscal de superávit primário de 1,9% do PIB em 2014.

Lembrando que ela não contemplava a conta das térmicas.

É mais ou menos assim: você tem uma meta fiscal de R$ 99 bilhões de “economia” para o ano, mas somente a conta das térmicas envolve um “gasto” não contemplado de R$ 12 bilhões.

Nada que não se dê aquele famoso jeitinho brasileiro...


A contabilidade elétrico-criativa

De conta do Tesouro mesmo, “só” entrarão R$ 4 bilhões, que serão compensados com aumento de impostos (quem vai pagar a conta?) e reabertura do Refis.

As outras 8 bilhas são de responsabilidade da CCEE.

Arno Augustin, nos explica quem é a tal CCEE: "ela não é do setor público e, portanto, está fora dessa discussão de estatística fiscal. Não há efeito fiscal".

Minha dúvida é:

Se a CCEE é um organismo privado, como o governo federal decide que ela terá de tomar um empréstimo e repassar às distribuidoras?

A recompra monstra


Passando para o lado da Bolsa, depois que as distribuidoras de energia já viveram o seu pregão de euforia à medida (sobe no boato, cai no fato), quem se destaca hoje é CSN.

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A siderúrgica anunciou programa de recompra de 10% das ações em circulação em um prazo - pasme - de 30 dias.

Como os programas de recompra normais, que abrangem prazos geralmente de 1 ano, este traz (i) referência de valor a partir de insider para as ações, (ii) estrutura de capital relativamente confortável e/ou expectativa de boa geração de caixa à frente, ao menos para suportar as compras de ações, e (iii) alinhamento aos interesses dos acionistas (ação em Tesouraria não recebe dividendos, sobrando mais fatias do bolo para os demais).

No caso de CSN, a enorme pressão compradora em curto prazo pega os shorteadores no pulo. É um claro aviso aos navegantes: operou vendido, vai levar.

Pode isso, Arnaldo?

A CSN acima responde pela principal alta do Ibovespa nesta sexta-feira, com alta de mais de 10% impulsionada - adivinha! - pela cobertura de posições vendidas.

Na outra ponta, os papéis da MRV despencam mais de 10% depois da apresentação de resultados trimestrais ruins. MRV vendeu barato em 2011, e agora... Não tem jeito, uma hora a conta vem.

Legal que a temporada de resultados trouxe hoje um outro dado interessantíssimo, mas este fora do radar. Teve uma outra empresa que soltou resultados hoje, uma das ações para ficar milionário, que gerou de caixa no ano mais do que ela vale em Bolsa!

Pode isso, Arnaldo?