Por Que a Alta da Selic Pode Alterar a Dinâmica do Ibovespa

 | 15.03.2021 11:51

O grande evento da semana é a reunião do COPOM, em que será debatido um provável aumento em nossa taxa básica de Juros, a taxa SELIC. O que ainda não se sabe, até o momento em que escrevo esse artigo, é de quanto será esse aumento. O mercado especula que esse aumento será de no mínimo 0,25% a.a., mas que poderia chegar em até 0,75% a.a. Além disso, é muito provável que esse viés de alta esteja apenas começando.

Com os dados de inflação divulgados recentemente, o IPCA de Fevereiro ficou em 0,86%, elevando o indicador nos últimos 12 meses para 5,20%. Fica clara a necessidade de um aumento na SELIC, até porque sabemos que outros índices que medem a inflação apontam aumentos nos preços ainda maiores. O próprio IGP-M já acumula alta de quase 30% em doze meses.

Desde que o país passou a ter juros reais negativos, o que verificamos foi uma massiva saída de capital do país e, aliado a fatores como risco político e um agravamento da crise sanitária do coronavírus, faz o dólar bater novos recordes a cada semana.

E assim se desencadeia um ciclo nocivo para o brasileiro: quando o dólar sobe, a inflação também sobe, e quanto mais ela sobe, mais o juro real fica negativo, e mais dólares saem daqui… e assim sucessivamente. A alta da SELIC chega como um príncipe no cavalo branco para domar o dragão da inflação.

Mas como esse movimento de alta nos juros pode impactar nos preços das ações no médio e longo prazo? Existem alguns setores que podem se beneficiar mais do que outros? Existe algum motivo para o investidor se preocupar?

h2 JUROS BAIXOS, VALUATIONS ALTOS…/h2

Para fazer essa análise, é importante entender a dinâmica da precificação de ativos. Seguindo os modelos tradicionais, a metodologia mais conhecida é a de Fluxo de Caixa Descontado, em que projetamos os resultados futuros das empresas e trazemos esse resultado a valor presente, descontados por uma taxa de desconto, que normalmente é a taxa básica de juros.

Em resumo: quanto menor a taxa de desconto (taxa básica de juros), maior se torna o valor justo das empresas. Caso essas empresas sejam empresas de tecnologia e suas projeções se retorno sejam ainda mais distantes, maior será o impacto nesse valor justo.

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Como você já deve saber, a crise do Coronavírus levou os Bancos Centrais do mundo inteiro a reduzirem suas taxas de juros a níveis muito baixos, inclusive o Brasil. Junto desse fato, no último ano observamos mudanças estruturais na economia global, com as empresas ligadas ao “fique em casa” sendo diretamente beneficiadas, como por exemplo as empresas de tecnologia e e-commerce, que fazem parte do grupo de empresas de crescimento (growth investing).

tríade juros baixos, excesso de liquidez e lockdown levaram essas empresas às alturas.

Enquanto isso, as empresas cíclicas, também chamadas recentemente de empresas da “velha economia”, sofreram bastante. Um grande exemplo disso são os bancos, as empresas de varejo e as petrolíferas, também conhecidas como empresas de valor (value investing).

h2 … E VICE-VERSA!/h2

Acontece que alguns desses fatores começam a chegar em um ponto de inflexão, e verificamos que esses polos começam a se inverter. Estou falando do aumento das taxas de juros.

Para fins de observação, podemos acompanhar o que vem acontecendo no mercado americano. Desde o final de 2020, os Treasures (títulos do governo dos EUA) com vencimento de 10 anos, têm subido de forma acelerada, chegando a 1,6% a.a. essa semana. Quase três vezes mais do que seu ponto mais baixo, de 0,5% a.a., em maio de 2020.