Por que mantemos a projeção da Selic inalterada para a próxima reunião?

 | 02.12.2022 12:16

O cenário de incerteza fiscal será determinante para validar a precificação de novas altas da taxa de juros e vai na contramão da expectativa de consolidação de desinflação para o ano de 2023. Por enquanto, mantém-se a perspectiva de corte na taxa Selic para o segundo semestre do ano que vem (em magnitude menor do que a antevista anteriormente), mas reconhecemos o risco em torno deste cenário.
 

Em um ambiente de incertezas, o cenário que se desenha para a reunião de dezembro do Copom é mais bem definido por descontinuidade do que transição. A taxa de juros está em patamar elevado e causaria um arrefecimento da demanda agregada e da inflação nos próximos trimestres no caso do campo fiscal permanecer na zona de responsabilidade, mas a perspectiva de elevação permanente do nível de gastos do governo altera também as variáveis macroeconômicas. Dentre outras, esperamos um hiato consistentemente mais pressionado e menos potência da política monetária. Tudo mais constante, a reação passa necessariamente por mais juros.

Para além do risco fiscal, sobre o qual precisamos de mais clarificações, o cenário prospectivo dá sinais mistos ao Copom. A atividade tem as primeiras indicações concretas de desaceleração. Além de dados de atividade perdendo momento, indicadores de confiança de agentes econômicos sugerem um final de ano de cautela (obviamente reforçado por fatores políticos) e, consequentemente, menos dinamismo. No mercado de trabalho, apesar da baixíssima taxa de desocupação, outros indicadores (como o Caged) mostram clara desaceleração.

Por outro lado, a divulgação do PIB do terceiro trimestre reforça que o ponto de partida, do ponto de vista da atividade é mais elevado do que o antecipado. Estamos defronte uma economia que crescerá um pouco mais do que 3% no ano, vindo de um crescimento já forte de 5% em 2021. O carrego que fica para 2023 é elevado.

Como sempre, o foco na inflação exige discussão de seus determinantes. Os riscos fiscais são obviamente inflacionários (estímulo à demanda, efeito no câmbio, desancoragem de expectativas de inflação longas), enquanto a conjuntura da atividade é desinflacionaria. No equilíbrio destes fatores, o primeiro predomina e a taxa de juros permanecerá em patamar contracionista apesar do arrefecimento contratado da atividade.

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Vale (BVMF:VALE3) retomar aqui o nosso exercício de abrir a inflação dos livres entre cíclicos (i.e. aqueles que reagem ao hiato) e acíclicos (i.e., aqueles que não reagem ao hiato). Em oposição aos administrados, ambos fecharam o terceiro trimestre elevados. Em um ambiente de maior pressão dos acíclicos, o esforço que cíclicos terão de fazer para garantir a convergência da inflação agregada será maior. Ou seja, estamos possivelmente diante de um ambiente em que a deterioração da inflação se soma à deterioração fiscal para exigir mais Selic.