Rafael Ragazi | 31.03.2020 14:38
Escolha seu lado
Só existe um caminho para obter uma performance superior no mercado: aproveitar as ineficiências — erros de percepção e precificação —, cometidos por seus participantes. Para tal, você precisa estar no lado certo desses erros.
Os erros acontecem porque investir é uma ação tomada por seres humanos, que estão à mercê de suas emoções e dos incentivos perversos que podem influenciar suas decisões, como investidores institucionais sendo obrigados a vender para atender o mandato de risco ou para cobrir resgates de seus fundos.
A maioria dos investidores tem a inteligência necessária para analisar informações disponíveis, mas poucos entendem o poder da psicologia nos investimentos.
Isso significa que muitos podem chegar a conclusões racionais similares, mas o que eles fazem com essas conclusões varia significativamente. Os maiores erros nos investimentos não vêm de fatores analíticos ou informacionais.
O medo é uma das emoções que impedem os investidores de tomar as decisões que deveriam. Ele leva investidores a ignorar a lógica, a história (lições aprendidas com o passado) e o fato de os mercados funcionarem em ciclos.
Naturalmente, cada nova crise é diferente, inesperada e inevitável —, caso contrário, não chegaria a existir. Mas o comportamento de pânico é comum em todas elas.
O alto nível de incerteza, de volatilidade, acabam acionando o "modo pânico" nos investidores, que entram em uma “corrida para segurança” e levam os preços a patamares completamente irracionais.
A matemática não mente
É amplamente aceito pelo mercado o fato de que o valor justo de uma empresa é igual a seu fluxo de caixa, de hoje até o infinito, descontado a valor presente.
Não vou questionar o fato de que os fluxos de caixa que as empresas entregarão no futuro, obviamente, não são conhecidos previamente como em um papel de renda fixa e, logo, eles precisam ser projetados por cada investidor de acordo com suas premissas.
Nem o fato de que a taxa de desconto utilizada precisa ser estimada, e costuma conter uma série de inconsistências.
Tudo isso fica para uma próxima oportunidade... Quero me apoiar em uma das virtudes do modelo de fluxo de caixa descontado para defender meu ponto: sua matemática.
Ela é simples e completamente lógica. Com ela, podemos tirar importantes conclusões.
Como, por exemplo, o fato de que, se o primeiro ano de um fluxo de caixa que iria até "o infinito" for zerado, o valor de tal empresa reduz em apenas -9,09 por cento.
É isto mesmo que você acabou de ler: a matemática de um valuation nos diz que, se a empresa na qual você investe entregar um fluxo de caixa igual a zero em 2020 e, a partir de 2021, voltar a dar o que deu em 2019, ela deveria ter caído apenas -9 por cento.
Porém, entre a máxima e a mínima deste ano, os investidores derrubaram o Ibovespa em -47 por cento. Após a recuperação dos últimos dias, nosso principal índice ainda cai -38 por cento.
Mesmo assumindo 2020 como um ano perdido, ainda estamos caindo 4x mais do que seria razoável. Algumas empresas, que não terão seus negócios significativamente afetados no longo prazo, estão com múltiplos extremamente chamativos, tais como:
Enfim, será que todos os preços fazem sentido? Os múltiplos atuais refletem a real capacidade de geração de riqueza das empresas no longo prazo?
Creio que não.
Não existe market timing
É bem provável que as coisas piorem antes de melhorar.
Segundo especialistas, a doença não deve atingir seu pico pelo menos até o fim de abril.
No campo político, a novela pelo protagonismo e pelo direcionamento principal a ser tomado ainda renderá muita turbulência.
Na economia real, algumas pequenas e médias empresas passarão por sérias dificuldades sem a saúde financeira e o acesso a capital barato das empresas listadas.
Mas se não piorarem, melhor ainda.
O ponto é que ficar esperando o furacão passar para, então, investir pode te fazer ficar de fora de boa parte da recuperação.
A bolsa não se preocupa com o que já aconteceu, nem com o que está acontecendo no momento: na bolsa, o que importa é a perspectiva do amanhã.
Quando as soluções para o combate ao coronavírus forem descobertas e anunciadas; quando os políticos se entenderem; quando a economia real voltar à normalidade, pode ser tarde demais.
Acertar pontos máximos ou mínimos não é o objetivo, simplesmente porque ninguém tem esta habilidade. Só uma coisa importa: no nível de preços atual, o potencial de retorno mais do que compensa o risco de não investir na mínima.
Enquanto alguns se deixam levar pelo pânico, outros aproveitam o descompasso entre preço e fundamento de longo prazo.
O medo de uns é a oportunidade de outros.
Negociar instrumentos financeiros e/ou criptomoedas envolve riscos elevados, inclusive o risco de perder parte ou todo o valor do investimento, e pode não ser algo indicado e apropriado a todos os investidores. Os preços das criptomoedas são extremamente voláteis e podem ser afetados por fatores externos, como eventos financeiros, regulatórios ou políticos. Negociar com margem aumenta os riscos financeiros.
Antes de decidir operar e negociar instrumentos financeiros ou criptomoedas, você deve se informar completamente sobre os riscos e custos associados a operações e negociações nos mercados financeiros, considerar cuidadosamente seus objetivos de investimento, nível de experiência e apetite de risco; além disso, recomenda-se procurar orientação e conselhos profissionais quando necessário.
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