Alfonso Peccatiello | 24.04.2023 10:28
O presidente Lula fez recentemente as seguintes perguntas:
O discurso de Lula mais uma vez gerou euforia midiática em torno de uma possível “desdolarização” do comércio internacional.
Por isso, vamos explicar como funciona o atual sistema centrado no dólar e por que não foi possível substituí-lo nos últimos 50 anos.
Em um sistema econômico globalizado, os países desejam comercializar com o máximo de parceiros possível sem muitos obstáculos.
Quando o Brasil exporta suas commodities para a China ou o Japão e o comércio é feito em dólares, o Brasil acumula essa divisa e pode usá-la para comprar bens ou serviços de outros países.
Em outras palavras, o dólar é hoje a moeda de reserva internacional preferida: mais de 80% das transações cambiais no mundo e mais de 50% das negociações e pagamentos globais acontecem na divisa americana.
Mais importante ainda é que, nos últimos 30 anos, moedas concorrentes não conseguiram acabar com esse predomínio internacional do dólar: por que será?
Bem, é porque ser uma moeda de reserva internacional pode parecer fácil à primeira vista.
Mas não é.
Vamos começar pelo lado do ativo.
Quando o Brasil exporta mais commodities em dólares do que gasta na moeda americana para importar produtos e serviços, o país acumula reservas cambiais nessa divisa.
Esses dólares entram em seu sistema bancário, e seu banco central precisa gerenciar esse colchão de reservas cambiais, mantendo-as líquidas e seguras.
Em nosso sistema monetário, manter o dinheiro "líquido e seguro" significa evitar o risco de crédito e investir em mercados que tenham profundidade e liquidez suficiente para garantir uma movimentação tranquila, se necessário (seja via venda ou operações compromissadas, isto é, emissão de títulos com compromisso de recompra).
Nesse sentido, o mercado de títulos do Tesouro americano se destaca no mundo, com um tamanho de mais de 20 trilhões de dólares, alta liquidez e um ecossistema profundo para operações compromissadas.
Não há controle de capitais, o país tem uma democracia consolidada, com instituições fortes que operam sob o primado da lei.
É preciso ressaltar ainda que a ampla oferta de treasuries (leia-se: déficits) fornece ao resto do mundo o que ele precisa: um ativo seguro e líquido com o qual pode reciclar os rendimentos em dólares a partir do seu comércio internacional.
E, nesse cenário, qual seria a alternativa?
A verdade é que não há um concorrente direto para as treasuries como veículo global para armazenar reservas em moeda estrangeira.
E isso também vale para o outro lado da moeda: dívida.
As dívidas estrangeiras denominadas em dólares são vultosas e fazem com que uma desdolarização ordenada não passe de um conto de fadas.
Entidades fora dos Estados Unidos acumularam US$ 12 trilhões de dívida denominada em dólares. Isso ocorre porque, para financiar empresas globais que vendem produtos e serviços em dólares, é necessário se endividar na moeda americana.
Não posso enfatizar mais quão importante é este conceito: se você pretende quebrar esse sistema e desdolarizar o comércio, precisa desalavancar um sistema com uma dívida de US$ 12 trilhões.
Se o Brasil se afastar do comércio lastreado em dólares, acabaria prejudicando suas próprias entradas orgânicas de reserva internacional, e as empresas do país seriam estranguladas pela escassez de liquidez, pois precisam pagar e refinanciar suas dívidas em dólares.
Quando você desalavanca um sistema baseado em dívida, aumenta o denominador dessa dívida (o USD) ou testemunha eventos geopolíticos tectônicos (por exemplo, guerras) em que a ordem mundial está em jogo.
A desmontagem ordenada de um sistema baseado no dólar é um conto de fadas: não há uma alternativa válida para uma transição tranquila, e desalavancar o sistema global de dívida denominada em USD seria um processo muito doloroso.
Essa é a razão pela qual não paramos de ouvir falar em “desdolarização”, mas isso nunca acontece.
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