Cauê Mançanares | 23.08.2023 16:20
Os investimentos mais seguros e previsíveis são uma das principais maneiras que investidores encontram para rentabilizar o dinheiro com menos riscos. Para se expor a essas alternativas fora do mercado nacional, é possível investir na renda fixa americana. Como o próprio nome adianta, ela conta com possibilidades ligadas à principal economia do mundo: a dos Estados Unidos. Logo, a dolarização do patrimônio é um processo que acompanha esse investimento.
Além disso, assim como acontece no Brasil, a alta dos juros influencia a rentabilidade deles — podendo torná-los mais ou menos atrativos. Mas como é possível se beneficiar desse cenário para fazer investimentos? Trago abaixo alguns exemplos.
A renda fixa é uma classe composta por investimentos com regras predeterminadas de rentabilidade. Eles são como empréstimos ao emissor do título, que o cria visando captar recursos. Para entender como a classe funciona, considere o exemplo do mercado brasileiro, em que há alternativas como títulos do Tesouro Direto.
Essas aplicações são ligadas ao Governo Federal brasileiro, servindo para levantar capital para a União. Portanto, os investidores que fazem a aplicação disponibilizam o dinheiro para o Governo e, em troca, eles receberão a quantia de volta acrescida de juros.
A rentabilidade pode ser:
prefixada: juros predeterminados e imutáveis;
pós-fixada: juros acompanham uma taxa do mercado;
híbrida: combinação entre as duas anteriores.
Somada aos títulos públicos, existe a renda fixa privada no Brasil. Esses títulos podem ser emitidos por instituições financeiras, bancos, empresas e securitizadoras. Nos Estados Unidos, a lógica é similar. Os bonds, como são geralmente conhecidos os títulos de renda fixa, podem ser emitidos por um Governo, do municipal ao federal, ou por empresas, servindo para financiamento de suas operações.
Normalmente, os bonds com prazos mais longos oferecem lucros maiores. Cada título tem regras diferentes sobre quando o investidor poderá fazer o resgate. Inclusive, muitos deles geram cupons de rentabilidade aos investidores, antecipando o recebimento de parte do montante.
Quais as vantagens da renda fixa americana?
O investimento em renda fixa americana pode ser estratégico para seu planejamento no mercado financeiro. Veja quais vantagens esses títulos apresentam:
Em primeiro lugar, a renda fixa americana, especialmente quando se fala em títulos públicos, pode ser vista como a mais segura do mundo. Esse aspecto resulta do fato de que títulos comoTesouro Direto no Brasil. Vale destacar que eles podem ser divididos em três grupos, sendo:
T-bills: vencimento em até um ano;
T-notes: entre 2 e 10 anos;
T-bonds: entre 10 e 30 anos.
Os T-bonds se destacam pelo prazo mais longo e por normalmente pagarem juros semestrais ou anuais aos investidores. A rentabilidade dos cupons é definida previamente, podendo ser fixa ou acompanhar os juros do país.
Em relação à liquidez, os T-bonds podem ser negociados em mercados secundários. Portanto, os investidores podem comprar ou vender esses títulos antes do vencimento, o que proporciona mais flexibilidade aos investidores — lembrando que eles sofrem marcação a mercado.
Já os corporate bonds são títulos de dívida emitidos por empresas privadas dos Estados Unidos. Buscando traçar uma relação com o mercado brasileiro, eles são similares às debêntures. Desse modo, eles atuam como forma de levantar capital para financiar operações, projetos e expansão das organizações. Esses títulos funcionam de maneira semelhante aos títulos do Governo, como Treasury Bonds.
Geralmente, os corporate bonds pagam juros aos investidores em intervalos regulares — podendo ser a cada seis meses. Essa remuneração ainda pode estar atrelada às taxas de juros nos EUA. O risco associado aos titulados pode variar consideravelmente, com base na saúde financeira da empresa emissora. As agências de classificação de crédito avaliam a capacidade dela de pagar seus compromissos e atribuem classificações de risco, ou ratings, aos títulos.
Empresas com ratings mais elevados são consideradas mais seguras e, portanto, costumam oferecer taxas de juros mais baixas. Já organizações com ratings mais baixos podem oferecer taxas de juros mais altas para compensar o risco adicional.
Outro exemplo são os certificates of deposit (CDs) — similares aos certificados de depósito bancário (CDBs) no Brasil. Eles são aplicações de renda fixa oferecidas por instituições financeiras. O funcionamento é similar aos demais que você já viu. Ou seja, o investidor faz a aplicação e terá remuneração conforme as regras do título. Muitos CDs também podem remunerar com cupons semestrais.
De maneira semelhante ao que acontece no Brasil, a taxa de juros é um elemento central na política monetária americana. Uma das funções mais importantes dela é controlar a inflação. Quando os preços sobem rapidamente, o Federal Reserve (Fed), com atuação análoga à do Banco Central, pode aumentar as taxas de juros para desacelerar o crescimento econômico. Essa medida ajuda a conter o aumento dos preços e reduzir a inflação.
Com essa informação em mente, vale saber que os juros nos Estados Unidos entraram em patamares historicamente altos em 2022 e 2023. Veja o gráfico de evolução nesse período:
Como é possível perceber, eles partiram de quase 0%, em 2022, para ficarem acima de 5%, em julho de 2023. O número é o mais alto em 15 anos. Essas taxas de juros mais altas podem tornar os títulos e outros investimentos de renda fixa mais atraentes em relação a investimentos mais arriscados, como ações. Dessa forma, é comum que muitos investidores migrem para a renda fixa.
Isso acontece porque os investimentos terão um retorno potencial mais interessante sem, necessariamente, expor o investidor a mais riscos. Portanto, apesar da desaceleração econômica, há oportunidades de ganhos com juros altos. Outro detalhe relevante é que essa elevação tende a levar a uma valorização do dólar. Como os investimentos seguros dos EUA terão retornos mais altos, é possível haver uma retirada de dólar da economia de outros países, como a brasileira.
O cenário pode levar a uma queda no preço do real. Então investidores brasileiros com investimentos na renda fixa americana podem se proteger e ainda buscar retornos mais altos para sua carteira.
Existem diferentes maneiras de investir na renda fixa americana e aproveitar o cenário de alta dos juros no país. A primeira delas é fazer o investimento direto — abrindo conta nos Estados Unidos. Para essa finalidade, será necessário escolher uma corretora de valores dos EUA que negocie os títulos de renda fixa, como Treasury Bonds. Depois, o investidor precisa abrir sua conta e fazer a transferência dos seus recursos para lá. Nesse caso, vale a pena ressaltar que há uma transação cambial, que pode encarecer o seu investimento.
Outra solução é por meio de exchange traded funds (ETFs), que também são negociados na bolsa de valores brasileira (B3). Os chamados fundos de índice são veículos coletivos que replicam o desempenho de um índice do mercado — que pode ser internacional. Uma vantagem dos ETFs é a praticidade para alocar os seus recursos. Afinal, você poderá diversificar a carteira internacionalmente sem precisar abrir uma nova conta ou aumentar seus custos para investir no exterior.
Além disso, o investimento acontecerá diretamente em reais. Logo, mesmo sem acontecer uma transação cambial direta, você dolariza a carteira e aproveita o cenário de alta nos juros dos EUA — protegendo seu dinheiro e ampliando o potencial de ganhos.
Neste artigo, você viu que, assim como acontece no Brasil, a renda fixa americana pode se beneficiar da alta nos juros. Desse modo, como as taxas nos EUA alcançaram patamares historicamente altos, pode ser oportuno se expor a essa classe de ativos.
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