Renúncia no Banco Central Europeu Expõe Divisão entre Norte e Sul na Zona do Euro

 | 02.10.2019 14:16

A renúncia inesperada da alemã Sabine Lautenschläger ao Conselho Executivo do Banco Central Europeu (BCE), na semana passada, faltando mais de dois anos para terminar seu mandato de oito anos, escancarou um conflito reprimido dentro do BCE. A discórdia colocava em lados opostos os membros mais rígidos (hawkish) do norte da Zona do Euro e os europeus mais moderados (dovish) do sul.

Ao contrário do conflito anterior na região, quando Grécia, Itália e Espanha estavam na posição de devedores obrigados a seguir os ditames dos seus credores da Europa Setentrional, desta vez os sulistas estão vencendo a batalha. Afinal, foi justamente um presidente italiano, Mario Draghi, quem conduziu o BCE na direção da flexibilização quantitativa e dos juros negativos, meios heterodoxos de enfrentar o lento crescimento e a baixa inflação.

A França está em cima do muro entre o norte e o sul, mas o presidente do país, Emmanuel Macron, não vê com bons olhos a política econômica e monetária reacionária da Alemanha. Ele bloqueou a indicação de Jens Weidmann, presidente do Bundesbank (banco central alemão), para suceder Draghi, atuando em favor da sua moderada compatriota Christine Lagarde, presidente do FMI, para que ela assumisse as rédeas do banco central europeu.

Draghi, por sua parte, aprofundou sua estratégia, quando já estava se dirigindo à porta de saída. Na reunião de política de setembro do BCE, ele emplacou a redução da taxa de juros sobre os depósitos bancários, levando-as ainda mais para o território negativo. Draghi também relançou o programa de compra de ativos do banco.

Foi justamente esse programa de compra de títulos que desencadeou a renúncia de Lautenschläger, estragando a delicada dança dos membros para manter o conselho do BCE equilibrado. Além disso, provocou a queda brusca da moeda única, que ainda está se recuperando.